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Ciência e Cultura
versão impressa ISSN 0009-6725versão On-line ISSN 2317-6660
Cienc. Cult. v.60 n.2 São Paulo 2008
MEDICINA ALTERNATIVA
Falta discussão sobre pesquisas com animais
O debate sobre a utilidade e necessidade de experimentos com animais está fortemente atrelado à medicina convencional. Mas qual é o posicionamento da medicina alternativa em relação a essa questão? À primeira vista, pode parecer que, para ser coerente com o nome, essa medicina seja contra o uso de animais. No entanto, essa não é a visão, necessariamente, da maioria, alerta Robbert van Haselen, em editorial publicado no Complementary Therapies in Medicine (março, 2008), periódico científico inglês.
A busca por uma resposta surgiu quando Haselen,que pertence ao Instituto Internacional de Medicina Integrada (Intmedi, na sigla em inglês), teve de decidir se um artigo que envolvia o uso de animais deveria ou não ser publicado. Para chegar a uma conclusão, ele teve de explorar o assunto a fundo.
O primeiro passo foi retomar as normas internacionais de uso de animais em pesquisa biomédicas, como as divulgadas pelo Conselho para Organizações Internacionais em Ciências Médicas (Cioms). Em resumo, a entidade defende que se evite, sempre que possível, o uso de animais em experimentos, mas, em caso de necessidade, o sofrimento e dor devem ser suprimidos e minimizados, além de ser providenciado tratamento e acondicionamento apropriados.
A filosofia desse e de outros periódicos de medicina alternativa é de que estudos que fizeram uso de animais podem ser publicados, desde que demostrem a impossibilidade de realização da pesquisa com métodos alternativos e que seja comprovado o benefício científico. Haselen passou, então, a questionar se os chamados benefícios científicos seriam julgados de forma diferente para terapias de medicina alternativa (CAM, Medicina Complementar e Terapêutica, na sigla em inglês) e se seriam necessárias normas específicas de utilização de animais, questões que ele apresentou aos membros do Conselho Internacional e aos editores associados de seu periódico. Houve, evidentemente, quem fosse contrário ao uso de animais em experimentos, mas Haselen lembra que o mesmo ocorre fora da comunidade de CAM. A maioria, no entanto, apontou que os animais são importantes na pesquisa e que não é preciso desenvolver regras diferentes das aplicadas na pesquisa de medicina convencional.
Embora sua amostra tenha sido pequena (15), Robbert Haselen acredita que "é preciso refletir, de forma clara e aberta, sobre o que consideramos um uso 'apropriado' de animais em pesquisa de CAM". Ele enfatiza, ainda, que, para a maior parte das terapias alternativas, a discussão ainda é incipiente ou mesmo inexistente.
Germana Barata