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    Ciência e Cultura

    Print version ISSN 0009-6725On-line version ISSN 2317-6660

    Cienc. Cult. vol.55 no.2 São Paulo Apr./June 2003

     

     

    GENÉTICA

    A fantástica descoberta da estrutura do DNA faz 50 anos

     

    O artigo "Molecular structure of the nucleic acids" (Estrutura molecular dos ácidos nucléicos) de Francis Crick e James Watson, publicado em 25 de abril de 1953 na revista Nature, modificou de forma radical os rumos da ciência na busca pelas origens da vida. Com menos de mil palavras e um gráfico simplificado, descreve a fantástica descoberta do DNA.

    Graças ao conhecimento da estrutura do DNA e aos 50 anos de desenvolvimento da biologia molecular que se seguiram, é notável o estágio alcançado por essa ciência. "A terapia gênica permite à medicina a possibilidade da geração de novas técnicas terapêuticas e tratamentos para doenças antigamente consideradas incuráveis", explica João Bosco Pesquero, coordenador do Laboratório de Animais Transgênicos da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

    Atualmente, é possível gerar em laboratório modelos de animais para estudar praticamente todas as doenças humanas, o que pode facilitar muito o desenvolvimento de novos medicamentos e novas terapias. "O seqüenciamento completo do genoma humano não seria realidade sem o conhecimento da estrutura do DNA", conclui o pesquisador.

    HISTÓRIA Em 1950, já como doutor em microbiologia pela Universidade de Indiana, James Watson decide trabalhar em um dos mais famosos centros de física de então, o Laboratório Cavendish da Universidade de Cambridge. Alguns anos antes ele havia lido um livro que muito o impressionara: What is life? The physical aspect of the living cell, escrito por um dos pais da mecânica quântica, Erwin Schrödinger. As idéias de Schrödinger, de que genes e cromossomos continham o segredo da vida, o fascinaram. Em Cambridge, Watson dividiu uma sala com Francis Crick, um estudante de doutorado que também se interessava pela estrutura do DNA. Na mesma época, Watson conhece o físico Maurice Wilkins que, após a guerra, passara a trabalhar com biologia molecular. Wilkins mostrou-lhe uma imagem de difração de raios X em que vinha trabalhando no Medical Research Council do King's College, Londres. Watson percebe que aquele era o caminho para descobrir a estrutura química do DNA, até então considerada um mistério.Decide, então, estudar a difração de raios X. Ele e Crick, em decorrência de uma perfeita sintonia de idéias, estabelecem que o ponto central de suas pesquisas será a descoberta da estrutura do DNA.

    Peter Pauling, filho de Linus Pauling, chegou a Cambridge no outono de 1952, e passou a dividir a sala com Watson e Crick. Peter mostrou-lhes os resultados mais recentes de seu pai, que propunha, erroneamente, uma tripla-hélice para a estrutura do DNA. Enquanto isso, Wilkins e sua colaboradora Rosalind Franklin trabalhavam no aperfeiçoamento das imagens de difração de raios X no King's College.

    Ao ler o artigo de Pauling, Watson percebe o erro e, eufórico, parte imediatamente para King's para tentar convencer Franklin a realizar novos experimentos, mas não obtém sucesso. Wilkins, constrangido com a má recepção que sua assistente dispensara ao visitante, mostra-lhe suas últimas imagens de difração de raios X. Nesse instante, Watson não tem mais dúvidas e, de volta a Cambridge inicia, juntamente com Crick, a construção do novo modelo da estrutura do DNA.

    Após cinco semanas de erros e acertos, finalmente o modelo estava pronto. A notícia se espalha: "pesquisadores de Cambridge haviam descoberto o segredo da vida".

    Wilkins, que ficou de fora da descoberta, teria reagido apenas com uma breve e sarcástica mensagem: "acho que vocês são uma dupla de belos patifes...". Parte da comunidade científica chega a acusá-los de inescrupulosos, pois teriam baseado suas descobertas em raios X produzidos no King's College. Rosalind Franklin, que por longo período havia trabalhado no desenvolvimento da técnica, morreu de câncer em 1958. Quatro anos depois, Crick, Watson e Wilkins recebem o Prêmio Nobel de Medicina.

    Atualmente, a possibilidade da clonagem reprodutiva coloca a humanidade frente a um inevitável teste de poder.

     

    Lúcia Cunha Ortiz