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    Ciência e Cultura

    Print version ISSN 0009-6725On-line version ISSN 2317-6660

    Cienc. Cult. vol.58 no.3 São Paulo July/Sept. 2006

     

    ADAPTAÇÃO

    CONTO DE ESCRITOR PAULISTA PODE VIRAR FILME NA ESPANHA

     

    Por volta de 1960, o escritor André Carneiro cobria os olhos com algodão e óculos escuros para melhor entender o universo de quem não vê. "Depois disso, olhava as teclas da máquina de escrever mas, quando parava para pensar, estava sempre de olhos fechados", comenta Carneiro. A experiência fazia parte de sua pesquisa para escrever "Escuridão", seu conto mais publicado no exterior e que atraiu a atenção de produtores de cinema nos EUA e Europa.

    Essa história foi publicada pela primeira vez em 1963, pela Edart, na coletânea Diário da nave perdida, reunindo outros contos do escritor. Desde então, foi republicada em mais de 12 países – Japão, Grécia, Alemanha e Bélgica, entre outros. Em 2003, "Escuridão" integrou a antologia Páginas de sombra: contos fantásticos brasileiros, organizada por Bráulio Tavares, para a editora carioca Casa da Palavra.

    Em abril passado, André Carneiro assinou contrato de venda de "Escuridão" para a realização de um roteiro cinematográfico. As negociações começaram alguns meses antes, quando Carneiro foi contatado pelo espanhol José Manuel C. Hernández. O escritor conta que Hernández escreveu-lhe porque gostava muito de "Escuridão", mas julgava que a obra já tinha sido adaptada para o cinema. Há vários anos a história despertou o interesse de americanos e esteve em vias de virar filme. Carneiro lembra que seu agente literário e tradutor nos Estados Unidos, Leo Barrow, também professor de literatura na Universidade do Arizona, em Tucson, pediu-lhe licença para escrever um roteiro cinematográfico baseado na história, por ele traduzida. "O roteiro interessou um diretor mexicano que já dirigira filmes em Hollywood. A intenção de Barrow era encaminhar o roteiro a um grande produtor, seu amigo. Mas esse diretor acabou cometendo um crime passional, o que interrompeu definitivamente todo o processo", conta.

     

     

    HISTÓRIA DAS TREVAS O conto se passa em local e tempo indeterminado, quando a humanidade está às vésperas de viver fenômeno semelhante a um eclipse, porém muito mais poderoso e catastrófico: não é apenas a luz solar que está prestes a desaparecer, mas toda e qualquer forma de luz, da emitida pelo fogo à da lâmpada elétrica. Fósforos ou lanternas são inúteis. O planeta mergulha numa escuridão absoluta e a civilização entra em colapso. Saques, violência, fome e doença. Wladas, o solitário narrador-personagem, enfrenta sucessivas provações e, ao assumir a responsabilidade por uma frágil família vizinha, acaba sendo ajudado por cegos de nascença, os mais aptos a lidar com as trevas absolutas. Semanas depois, a luz retorna gradativamente, as sociedades se reorganizam, mas nessa trajetória a humanidade nunca mais seria a mesma.

    AVENTURA BRASILEIRA Nãoé a primeira vez que o escritor se envolve com cinema. Carneiro já escreveu roteiro sobre Meneghetti, o célebre ladrão dos anos 1920 em São Paulo, por encomenda do produtor italiano Carlo Ponti, e dirigiu um curta-metragem de ficção científica com Regina Shakti e Rudolf Peper no elenco, aproveitando como cenário o rádio-telescópio de Atibaia no interior paulista.

    Não custa lembrar que um texto do brasileiro Jorge Luiz Calife inspirou Arthur C. Clarke a escrever uma sequência de 2001: uma odisséia no espaço (1968), de Stanley Kubrick, e que resultou no filme 2010: o ano em que faremos contato (1984), dirigido por Peter Hyams. Em 1975, Calife escreveu o conto "2002", continuação do filme 2001, e em 1977 enviou um resumo do texto para Clarke, que pediu permissão para usar as idéias. "O livro do Clarke, 2010: odisséia 2, saiu por volta de 1980, com um agradecimento às minhas sugestões no final. A revista Manchete publicou então como encarte o conto original, que tinha inspirado Clarke", lembra o autor.

     

    Alfredo Luiz Paes de Oliveira Suppia