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Ciência e Cultura
Print version ISSN 0009-6725On-line version ISSN 2317-6660
Cienc. Cult. vol.59 no.2 São Paulo Apr./June 2007
TECNOCIÊNCIA
São múltiplos os sentidos da política na atualidade
Os sentidos de política são múltiplos, como para várias outras palavras com significados culturais estabelecidos. Tanto pelos olhares da sociologia, antropologia, ou mesmo da filosofia e da lingüística, pensar política é quase o mesmo de pensar o homem, com suas moralidades e éticas, ou seja, a construção da humanidade como algo essencial.
Em situações limites como as atuais, em que vivemos nas fronteiras da violência, associar sentidos de política com contextos sociais em que a essência humana tem sido reconfigurada, perdida e ameaçada, foi um dos propósitos da instigante conferência "Towards a post-human international politics?" que ocorreu no Goldsmiths College da Universidade de Londres, em novembro do ano passado.
Organizada pelo CRIPT (Contemporary Research in International Political Theory) especialistas do Reino Unido debateram trabalhos apresentados por professores universitários e estudantes de pós-graduação. O mote da conferência era problematizar os sentidos de pós-humano pela tecnociência, pela discussão a respeito de direitos humanos, cidadania e pela busca de alternativas aos significados de política em um novo contexto. Porém, o que mais se evidenciou foram reafirmações quanto ao necessário, prudente e saudoso retorno do sujeito da modernidade.
Os trabalhos apresentados, em sua maioria, assumiram crítica às narrativas da pós-modernidade, construídas pelas ciências humanas principalmente na França, que marcam o fim da história, a desconstrução dos sujeitos e da comunicação, e o descentramento do Estado como governo dos humanos. Como alternativas movimentaram o humano e o colocaram antes do pós-humano, e a discussão sobre política localizou-se nas já conhecidas e não menos perigosas palavras: democracia; linguagem única e fim da Babel; poder militar e constituição da nação; subjetividade e ordem.
Na mesa redonda que encerrou o evento, havia seis participantes e George Jabberwacky, um boneco virtual criado por uma empresa que trabalha com inteligência artificial. George interagia com a platéia e com os demais componentes da mesa, deslocando as demarcações de humanidade que nele poderiam ser reconhecidas: vestuário, seus óculos amarelos e lentes verdes, e feições parecidas a Michel Foucault. Porém, o sofrimento foi o que George assumiu ter de mais humano.
Antonio Carlos Amorim
Professor da Faculdade de
Educação da Unicamp, participou
do evento com trabalho a respeito do
cinema brasileiro e o jogo de
representações do sujeito na multidão.