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Ciência e Cultura
Print version ISSN 0009-6725On-line version ISSN 2317-6660
Cienc. Cult. vol.61 no.3 São Paulo 2009
EXPLORAÇÃO ESPACIAL
Chegada do homem à Lua comemora 40 anos com nova missão
"Um pequeno passo para o homem, um grande salto para a humanidade" e para a ciência. Em 20 de julho de 1969, o astronauta norte-americano Neil Armstrong se tornou o primeiro homem a pisar na Lua, dizendo a célebre frase. O momento marcou a história não apenas da conquista espacial, mas do avanço científico e tecnológico, como um todo, e da sociedade que começava a se globalizar. Para comemorar os 40 anos de conquista lunar, a Agência Espacial Norte-Americana (Nasa) planeja uma nova fase em suas missões espaciais, chamada de Vision for Space Exploration (em português, Visão para a Exploração Espacial), que pretende retornar à Lua.
A chegada do homem ao solo lunar foi uma conquista obtida na corrida entre Estados Unidos e Rússia (na época ainda União Soviética), as duas potências econômicas que disputavam, em meio à Guerra Fria, a superioridade científica e tecnológica (e também cultural). Os soviéticos saíram na frente com o lançamento do satélite espacial Sputnik, em 1957, e no mesmo ano, foram os primeiros a enviar seres vivos a cadela Kudriavka e, logo depois, o astronauta Yuri Gagarin ao espaço, em 1961. Sete anos depois, os norte-americanos comemoraram o pioneirismo ao circunavegar a Lua e, no ano seguinte, a missão Apollo 11, tripulada por Michael Collins, Neil Armstrong e Edwin Aldrin, fincou a bandeira dos EUA na superfície da Lua aos olhos de telespectadores do mundo todo.
"Aquele não foi o primeiro voo tripulado, mas o primeiro em que o homem viajou tão longe, desceu em outro solo e retornou à Terra. Há um domínio tecnológico importante nisso", afirma Enos Picazzio, professor do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (USP).
AVANÇOS CIENTÍFICOS "Um número muito elevado de áreas da ciência foi beneficiado pela viagem à Lua. Desde a medicina até objetos do dia-a-dia como as frigideiras de teflon", aponta Antonio Fernando Bertachini de Almeida Prado, presidente do Conselho do Curso de Pós-Graduação em Engenharia e Tecnologia Espacial, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Uma das grandes marcas do desenvolvimento científico e tecnológico foram os satélites espaciais, que hoje possuem um enorme leque de utilidades: do monitoramento de tropas, desmatamento e mudanças climáticas até atividades corriqueiras, como atender ao telefone, assistir televisão ou acessar a internet. Na medicina, o sistema de telemetria (envio de sinais a distância), criado para monitorar a saúde dos astronautas, rendeu aplicações em marca-passos e ambulâncias. Soma-se a esses produtos, a comida desidratada e o velcro que, embora não tenham sido criados pelos programas espaciais, se popularizaram com eles.
ESPAÇO A EXPLORAR "Muita coisa foi aprendida com a viagem do homem à Lua, mas ainda existem dúvidas sobre a origem do nosso satélite, seu campo gravitacional preciso, etc", diz Bertachini. Ainda há muito a ser descoberto, afirma, e novas viagens serão bem vindas do ponto de vista científico.
Hoje, o que chama a atenção dos cientistas são as informações sobre a Lua que podem esclarecer sobre a origem de nosso planeta. "Como a Lua provavelmente foi formada a partir de fragmentos arrancados da Terra, o estudo de sua composição pode trazer importantes informações sobre a constituição interna de nosso planeta", aponta João Braga, vice-diretor geral, coordenador de centros regionais e pesquisador titular do Inpe.
"Além disso, a Lua poderá servir ainda como base, tanto para lançamento de artefatos orbitais (a gravidade é menor, o que facilita e barateia o lançamento) como para instrumentos científicos (telescópios e radiotelescópios de grande porte)", aponta Enos Picazzio.
BARREIRAS Depois da conquista lunar feita pela Apollo 11 houve mais seis missões à Lua, todas enviadas pelos EUA, somando 12 homens em sua superfície, de 1969 a 1972. Os 37 anos sem novos pousos lunares são explicados, sobretudo, pelo alto custo das missões (o projeto Apollo consumiu mais de US$ 20 bilhões). "Além disso", esclarece João Braga, "existe uma premência muito grande de se estudar o nosso próprio planeta, principalmente face aos desafios das mudanças climáticas. Isso faz com que as agências espaciais dos países desenvolvidos priorizem missões de observação da Terra". Deve-se considerar, ainda, dificuldades ligadas à viagem e à permanência de seres humanos na Lua, por mais tempo e com mais segurança.
NOVAS MISSÕES O primeiro passo para a retomada das viagens à Lua será o lançamento do Lunar Reconnaissance Orbiter (LRO), uma sonda não tripulada, construída pela Nasa, que tem a missão de encontrar plataformas de aterrissagem seguras e colher dados para permitir o retorno humano à Lua. A sonda, que passará ao menos um ano em torno desse satélite terrestre, colherá informações para a formação de um atlas detalhado das características e recursos lunares. A ideia é constituir uma base de permanência prolongada na Lua que servirá como projeto-piloto para o envio de astronautas à Marte. O programa, batizado de Constellation, utilizará um novo tipo de foguete, o Ares, que deverá substituir os ônibus espaciais como veículo de transporte para a Estação Espacial Internacional em 2014. O lançamento da LRO, inicialmente programado para o final de 2008, deve ocorrer neste ano.
Chris Bueno