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Ciência e Cultura
On-line version ISSN 2317-6660
Cienc. Cult. vol.67 no.4 São Paulo Oct./Dec. 2015
http://dx.doi.org/10.21800/2317-66602015000400019
PALEONTOLOGIA
Paleoarte une arte e ciência
Chris Bueno
Os vestígios encontrados nos sítios paleontológicos trazem informações valiosas sobre a pré-história, possibilitando construir um cenário da evolução da vida no planeta. No entanto, pedaços de esqueletos e fósseis são geralmente desprovidos de detalhes da morfologia externa, como cor e textura. Dar forma e vida a esse cenário pré-histórico é o trabalho dos paleoartistas. Seu trabalho é fundamental para os cientistas testarem hipóteses a respeito de um fóssil e ainda uma importante ferramenta de divulgação científica. "Não existe outra forma de representar como foi o passado extinto da Terra a não ser pela recriação artística.
Nesse sentido a paleoarte se torna o rosto da paleontologia para o público", acredita o paleoartista Rodolfo Nogueira. Por outro lado, segundo o artista Luciano Vidal, é uma área ainda pouco explorada no Brasil. "É um campo que pode crescer muito", acredita.
Para celebrar o trabalho desses profissionais, duas exposições foram organizadas recentemente. A primeira aconteceu no Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), de abril a julho. A mostra Arte com dinossauros exibiu o trabalho de Maurilio Oliveira, um dos pioneiros da paleoarte no Brasil. Foram expostas ilustrações, esculturas em tamanho real e maquetes mostrando dinossauros em seus ambientes. A segunda ainda está sendo realizada no Museu de Ciências Naturais (MCN) da Univates, localizada em Lajeado (RS). Intitulada Paleontologia: uma aventura muito além dos dinossauros, a mostra traz obras, réplicas, ilustrações e fósseis, além de oficinas para alunos do ensino fundamental. A exposição foi aberta em 03 de setembro e vai até o início de dezembro com entrada gratuita.
MUITO ALÉM DOS DINOSSAUROS
A paleoarte não retrata apenas dinossauros. Segundo Vítor Silva, seu trabalho, assim como de outros pa-leoartistas consiste em retratar a vida pré-histórica (animais, plantas, ambientes ou mesmo os próprios fósseis) unindo técnicas artísticas e rigor científico. "A paleoarte - ou paleontografia (termo mais formal) - consiste na representação visual de hipóteses científicas sobre a anatomia, aparência ou as relações ecológicas de espécies fósseis. Essas hipóteses são formuladas a partir do estudo sistemático dos fósseis, um campo de domínio da paleontologia", aponta o paleontólogo e paleoartista Felipe Alves Elias, pesquisador do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (USP).
Um trabalho de paleoarte utiliza desde técnicas tradicionais de desenho com nanquim até modernos softwares de edição de imagens, além de modelagem/escultura, animação etc. "Uso técnicas digitais e tradicionais. No tradicional, trabalho com ilustração 2D (nanquim ou grafite sobre papel) e com esculturas em escala, utilizando porcelana fria. No digital, faço ilustrações utili-zando uma mesa digitalizadora e o photoshop", conta Silva. O resultado pode ser uma ilustração, uma escultura, uma animação digital e até mesmo um robô.
Quando se trata de dinossauros, as obras são desenvolvidas a partir dos ossos provenientes de escavações, que geralmente trazem marcas indicando onde havia inserção de músculos e ligamentos. Porém, geralmente o esqueleto desses animais não está completo. Daí os paleoartistas têm que recorrer a esqueletos de animais semelhantes para tentar completar as informações sobre a anatomia. A comparação com animais extintos (como outros dinossauros) e com espécies que vivem hoje (como lagartos e aves) é fundamental. É ela que dá dicas quanto a textura, padronização e coloração da pele. "A imaginação conecta as descobertas e preenche as lacunas e a arte traduz o conhecimento acadêmico em imagens passíveis de entendimento pela sociedade", explica Nogueira. E, assim, surgem animais nunca vistos por olhos humanos.
A aplicação da paleoarte é vasta. As obras criadas por esses artistas podem compor projetos científicos, servir como ferramentas de divulgação para o público em geral em mostras e exposições, ilustrar livros didáticos etc. "Tive o privilégio de participar de diversos projetos, abrangendo vários segmentos com diferentes alcances, desde exposições temporárias e projetos em museus, livros, revistas, jornais e até mesmo álbuns de figurinhas", conta Elias, do Museu de Zoologia da USP.
ARTE E CIÊNCIA
O material mais importante para se criar uma obra de paleoarte é a ciência. Cada obra depende de vasta e rigorosa pesquisa. "Embora a técnica artística seja fundamental para dar forma às ideias, a qualidade de uma produção paleon-tográfica depende intrinsecamente da informação científica que a alimenta. Ela precisa estar muito bem embasada pelas evidências fósseis e deve traduzir as interpretações paleontológicas da maneira mais acurada possível", explica Elias.
Isso porque a paleoarte deve não apenas encantar seu público, mas também informá-lo. Profissionais que atuam nessa atividade precisam ser altamente capacitados para extrair o melhor possível da escassa informação disponível nos fósseis e transformá-la em um trabalho significativo, que tenha realmente algo a comunicar e ensinar. É importantíssimo estar sempre atualizado quanto às descobertas, pois é comum acontecerem mudanças na paleontologia, seja por novos achados ou por novas análises", afirma Silva.