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Ciência e Cultura
On-line version ISSN 2317-6660
Cienc. Cult. vol.68 no.2 São Paulo Apr./June 2016
http://dx.doi.org/10.21800/2317-66602016000200014
OLIMPÍADAS
ARTIGOS
Valores associados aos jogos olímpicos*
Holger PreussI; Norbert SchütteII; Thomas KöneckeIII; Lamartine DaCostaIV
IProfessor da Universidade Johannes Gutenberg de Mainz, Alemanha, e da Molde University College, Noruega. É também professor adjunto da Universidade de Otawa, Canadá, e pesquisador convidado da Universidade do Estado de Nova Iorque (SUNY, Estados Unidos)
IIProfessor da Universidade Johannes Gutenberg de Mainz e professor visitante na Universidade de Esportes de Colônia e na Universidade Carl von Ossietzky de Oldenburgo, Alemanha
IIIProfessor da Universidade Johannes Gutenberg de Mainz, Alemanha, atuou como pesquisador na Fundação Getúlio Vargas - Escola de Administração de Empresas de São Paulo (FGV-EAESP)
IVPofessor visitante da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), professor visitante na Universidade East London, no Reino Unido, e membro do conselho consultivo da Universidade Olímpica Internacional da Rússia
O movimento olímpico vem passando por transformações ao longo dos anos. Essas ocorrem de maneira lenta, porém constante. O ambiente social e cultural muda com o tempo e, dessa forma, a percepção dos valores olímpicos não é estável (1). A entidade principal do movimento olímpico são os Jogos Olímpicos. Há alguns anos, discutimos se os valores associados aos Jogos Olímpicos estão se alterando. Os Jogos devem ser atraentes aos jovens para que sejam vistos como mágicos e despertem o interesse geral. No entanto, em muitas cidades europeias, nos últimos anos, os referendos públicos sobre sediar os Jogos Olímpicos demonstraram que as populações locais não querem receber esses eventos em suas cidades. O presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), Thomas Bach, percebeu isso e começou uma reforma, chamada Agenda 2020.
No início do milênio, Milton-Smith (2) reconheceu uma crítica aos Jogos Olímpicos que refletia o fracasso das principais instituições globais em lidar com as consequências sociais e éticas da globalização, muitas vezes incluindo questões ambientais e o terrorismo. Isso levou a uma desilusão generalizada com os Jogos Olímpicos. Atualmente, os Jogos parecem espelhar o desencanto com os valores "modernos" da globalização, incluindo vencer a qualquer preço (uso do doping), comercialização, intensa rivalidade entre países, nepotismo (na preparação dos Jogos), trapaça (arranjo de resultados), corrupção e vantagem competitiva das nações altamente desenvolvidas e recém-industrializadas sobre as demais (3).
O objetivo deste artigo é lançar luz sobre a estrutura e o significado dos valores que são associados aos Jogos Olímpicos por meio de uma pesquisa com pesquisadores e profissionais que, embora especialistas nesses eventos, não dependem do sistema olímpico para desenvolverem suas atividades.
A INVESTIGAÇÃO SOBRE OS VALORES OLÍMPICOS
Um dos estudos básicos sobre os valores olímpicos foi conduzida pelo filósofo alemão Hans Lenk (4). Ele identificou muitos dos valores que hoje aparecem na Carta Olímpica (5). Outras pesquisas importantes foram realizadas por Parry (6), que não só identificou os dez valores que caracterizam os Jogos Olímpicos, mas também comparou-os com os valores dos Jogos da Grécia Antiga. A fazer isso, ele identificou o núcleo comum desses valores e constatou que seis deles atravessaram os séculos. Parry demonstrou, assim, que existem valores associados aos Jogos que não mudam ao longo do tempo. Milton-Smith retomou as ideias de Parry e, analisando os valores globais, sugeriu que os valores olímpicos sejam revitalizados (3).
Clarke (7) afirma que alguns valores olímpicos são indispensáveis, enquanto outros estão desatualizados e alguns chegam até mesmo a criar problemas. Diferente de Parry, esse autor mostra que os valores podem se tornar desatualizados. Seppänen (8) inclui em seu estudo a perspectiva cultural. Para ele, é óbvio que os jogos e a ênfase colocada na competição variam muito ao longo do tempo e de sociedade para sociedade. A conclusão relevante aqui é que a diferença nos valores e percepções relacionadas ao esporte podem ser atribuídas a diferenças de época e de sociedade.
No estudo de Preuss (9), o autor apresentou os resultados da pesquisa empírica que realizou nos anos de 1992, 1996 e 2000, na Alemanha e Áustria, sobre a percepção dos estudantes de educação física a respeito dos valores olímpicos, do futuro dos Jogos Olímpicos e de seus conhecimentos sobre Pierre de Coubertin, idealizador dos Jogos Olímpicos Modernos.
O estudo central sobre valores olímpicos foi realizada por Chatziefstathiou (1). A autora avaliou a natureza mutável da ideologia do olimpismo dentro dos contextos histórico, sociopolítico e econômico contemporâneos. Seu estudo demonstrou como os valores associados com a ideologia do olimpismo mudaram durante o século passado. Ela destacou a diversidade cultural dos valores e significados associados ao esporte olímpico no mundo contemporâneo. Uma consideração importante dessa pesquisa é que o olimpismo não pode se basear em um conjunto de valores imutáveis, mas em um processo de construção de consenso em termos de valores no mundo do esporte global (10).
Mais recentemente, outros estudos foram levados a efeito para identificar os valores olímpicos da atualidade (11-12). Assim, pode-se observar que, nos últimos tempos, muito tem sido escrito sobre a mudança nos valores olímpicos. Questiona-se se são relativamente estáveis ou se mudam (13), se precisam de uma nova base ideológica (14) ou se são apenas uma outra utopia (15).
OLIMPISMO E VALORES OLÍMPICOS
Parry (16) afirma que o olimpismo é uma "filosofia universal" que se aplica a todas as culturas. De acordo com Parry, o olimpismo se baseia num certo número de valores com os quais cada cultura pode se comprometer. Independentemente disso, podem existir diferenças culturais na forma como o ideal olímpico é expresso. Em trabalhos posteriores, Parry (17) escreve que "olimpismo é uma filosofia social que enfatiza o papel do esporte no desenvolvimento mundial, a compreensão internacional, a coexistência pacífica e a educação social e moral."
Pierre de Coubertin escreveu em suas Memórias olímpicas (18), que o olimpismo é uma "escola de nobreza e de pureza moral, bem como de resistência e energia física - mas só se (...) a honestidade e a abnegação do esportista forem desenvolvidas de forma tão acentuada quanto a força dos músculos". Assim, para ele, o olimpismo visa o desenvolvimento harmonioso dos aspectos morais, físicos e intelectuais através da competição esportiva. Os valores atribuídos por Coubertin ao movimento olímpico foram: igualdade, equidade, justiça, respeito pelas pessoas, racionalidade, compreensão, autonomia e excelência.
Loland (19) argumentou que o olimpismo tem quatro objetivos principais: a) educar e cultivar o indivíduo através do esporte; b) cultivar as relações humanas em sociedade; c) promover paz e compreensão internacional; e d) venerar a grandeza humana e suas possibilidades.
Em 1999, o departamento de marketing do COI divulgou o resultado de uma pesquisa realizada com 5.500 pessoas em onze países e reuniu quatro proposições para resumir o sistema de valores olímpicos (20): alegria do esforço, amizade/jogo limpo, esperança e sonho/inspiração. Na atualidade, o COI promove três valores centrais: excelência, amizade e respeito, que são uma redução dos valores mencionados nos princípios fundamentais da Carta Olímpica (21). No entanto, espetacularização, profissionalismo, nacionalismo e sectarismo são fatores que têm desempenhado um papel histórico no enfraquecimento dos valores humanísticos do esporte (22).
MÉTODO DE PESQUISA
Para investigar a percepção dos valores olímpicos na atualidade, utilizamos um questionário online com 25 perguntas (disponibilizado no período de 27 de janeiro a 7 de fevereiro de 2014) para um grupo de cerca de 1.500 pesquisadores e profissionais especialistas em Jogos Olímpicos de diferentes países. A data de 7 de fevereiro foi escolhida para encerramento da coleta de informações por tratar-se do dia imediatamente anterior ao início dos Jogos Olímpicos de Inverno em Sóchi, na Rússia, de modo que evitamos uma visão tendenciosa dos respondentes por causa da cobertura dos Jogos pela mídia. Para atingir uma ampla variedade de pesquisadores e profissionais em termos de nacionalidade, usamos as seguintes redes de contato: centros de estudos olímpicos, Academia Olímpica Internacional (IOA, na sigla em inglês), academias olímpicas nacionais, universidades, associações científicas (por exemplo, Associação Europeia para Gestão do Esporte e Sociedade Internacional de Historiadores Olímpicos, respectivamente EASM e ISOH, nas siglas em inglês) e Plataforma Internacional para Esporte e Desenvolvimento (ISDPA, na sigla em inglês). Foram retornados 190 questionários preenchidos de 46 países. As questões relacionadas com valores olímpicos contemplavam três aspectos:
Sociodemografia: Desejávamos saber se a percepção de valores dos participantes se baseava na área profissional/acadêmica.
Emoções: Nem todos os pesquisadores e profissionais especialistas em Jogos Olímpicos têm uma visão positiva desses eventos. Consequentemente, desejávamos saber se esse ponto de vista pessoal dava origem à percepção dos valores olímpicos.
Valores olímpicos: Solicitamos aos participantes que fizessem declarações sobre os valores explicitamente associados aos Jogos Olímpicos. Independentemente da importância atribuída, pedimos que indicassem os valores mais lembrados (lembrança espontânea). A seguir, pedimos que identificassem o(s) valor(es) mais importante(s) a partir de uma lista de valores retirados dos princípios fundamentais da Carta Olímpica (lembrança assistida).
A ideia da pesquisa era fazer um levantamento dos valores associados aos Jogos Olímpicos e não dos atributos negativos associados ao movimento olímpico. Dessa forma, um participante da pesquisa que não visse nenhum valor nos Jogos poderia deixar as perguntas abertas sem resposta ou listar termos negativos. As perguntas fechadas também poderiam ser deixadas sem resposta ou o participante poderia selecionar "sem importância", indicando que o valor fornecido não é importante para os Jogos. Para a análise da lembrança espontânea dos valores olímpicos, as resposta foram classificadas em 25 categorias. Essa parte foi realizada por dois pesquisadores trabalhando de forma independente. As interpretações divergentes foram recodificadas.
RESULTADOS
Os dados sociodemográficos da população total de pesquisadores e profissionais especialistas em Jogos Olímpicos, que não dependem do sistema olímpico, não são conhecidos. Acreditamos que as redes profissionais e acadêmicas utilizadas no estudo permitiram contatar a maioria dos pesquisadores e profissionais relevantes e com experiência em todo o mundo. A amostra foi composta por 70% de pessoas do sexo masculino. A média de idade foi de 49 anos. Do total de questionários recebidos, 46,6% vieram da Europa, 7,3% da Ásia, 5,8% da Austrália/Oceania, 3,1% da África, 21,5% da América do Norte, 8,4% da América do Sul, e 7,3% sem resposta para esse quesito. Em média, os participantes do estudo publicaram 13,7 trabalhos relacionados com os Jogos Olímpicos.
Os pesquisadores e profissionais que participaram do estudo conhecem o movimento olímpico há bastante tempo. A amostra conteve 73,3% de participantes que trabalham em universidades. Dos respondentes, 44,5% eram professores no nível mais alto da carreira, 19,6% eram acadêmicos trabalhando como pesquisadores, e 15,2% eram de professores em outros níveis da carreira. Os participantes que não se encontravam em posições acadêmicas (28,8%) estavam de alguma forma relacionados com o esporte olímpico.
Os participantes eram bastante ambiciosos em suas carreiras esportivas, sendo que 8% foram membros de equipes nacionais, 29% foram atletas de alta performance, e apenas 6% não praticavam nenhum esporte. Em relação ao interesse de pesquisa nos Jogos Olímpicos, uma variedade de tópicos foi mencionada. A maioria dos participantes mencionou: economia (19%), gestão (19%), história (18%), marketing (16%), educação olímpica (14%) e legado (14%). Por fim, perguntamos em quais edições dos Jogos Olímpicos o entrevistado esteve presente. Várias respostas surgiram. A maioria das participações foram em Londres, Atenas e Sydney. Em momento posterior, dividimos o grupo de respondentes em antes e depois dos Jogos Olímpicos de Los Angeles em 1984, porque foi quando começou a comercialização mais acentuada desses eventos.
Em outra parte, perguntamos sobre a percepção geral com relação aos Jogos Olímpicos, sendo que os participantes deveriam levar em conta todos os aspectos do movimento olímpico. Apenas 61,6% percebiam os Jogos de forma positiva, enquanto 23,3% percebiam de forma neutra e 15,1% percebiam de forma bastante negativa. Procuramos encontrar um padrão para explicar essas percepções. Mas nem sexo (t=0,763; p> 0,5), nem idade (correlação não significativa), nem presença nos Jogos Olímpicos antes de 1984 (não comercialização) ou depois de 1984 (t=0,879; p> 0,05), nem número de publicações pessoais (correlação não significativa), nem carreira esportiva (correlação não significativa) explicam as percepções. Esperava-se que a área principal de interesse de pesquisa pudesse ter uma influência. No entanto, todos os testes estatísticos de uma área de pesquisa contra todas as outras áreas de pesquisa não apresentaram significância. Assim, nenhum dos fatores pessoais mencionados aparentemente influencia o julgamento geral.
LEMBRANÇA ESPONTÂNEA DOS VALORES
No estudo, foi verificada a lembrança espontânea dos valores de todos os participantes. Assim, podemos listar os valores "mais lembrados" associados aos Jogos Olímpicos (Tabela 1, primeira coluna). Analisando a lembrança espontânea dos valores tomados em conjunto a situação é bastante semelhante (Tabela 1, absoluto). Em média, cinco valores por pessoa foram lembrados espontaneamente (13 entrevistados não mencionaram nenhum valor). Em seguida, pediu-se aos participantes que classificassem os valores por importância. A importância foi ponderada por pontos. O valor recebia cinco pontos quando era classificado como o mais importante, quatro pontos quando era classificado como o segundo mais importante e assim por diante. Somando-se todos os pontos atribuídos, o número total era de 1.348 pontos (Tabela 1, ponderado).
Os valores fundamentais mais lembrados associados com os Jogos, bem como o geral (todas as menções) foram "jogo limpo", seguido por "respeito", "excelência" e "amizade". No entanto, quatro pessoas escolheram nenhum valor e 2,5% mencionaram termos negativos (por exemplo, "comércio" ou "corrupção").
Ponderada pela importância, a ordem de valores não se alterou de forma dramática. Apenas os valores de "compreensão mútua" e "igualdade" eram mais importantes quando solicitadas espontaneamente.
LEMBRANÇA ASSISTIDA DE VALORES
A fim de especificar a importância atribuída pelos participantes aos valores olímpicos, foi usado um conjunto de valores mencionados nos Princípios Fundamentais do Comitê Olímpico Internacional. Perguntamos: "Em sua opinião, quão importantes são esses valores para os Jogos Olímpicos da era moderna?" Os resultados são apresentados na Tabela 2.
O desvio padrão (DP) fornece algumas informações sobre a unidade de opiniões. "Jogo limpo" é o valor em relação ao qual a maioria dos participantes concorda. Já "igualdade" está na posição 3, quase tão importante quanto "excelência". Quando a pergunta era aberta, "igualdade" só foi mencionado por 2,8%. Outra diferença é que "mistura de esporte com a cultura" quase não foi mencionado espontaneamente (0,1%), mas aparece aqui como bastante importante. "Mistura de esporte com educação" (1,7%) foi mencionado algumas vezes.
A última coluna na Tabela 2 compara a importância da lembrança espontânea e assistida dos valores associados aos Jogos Olímpicos. O peso foi dividido pelo número de menções, o que leva a um máximo de 5,0 e é, consequentemente, comparável com a média. Apesar de algumas diferenças, o conjunto de menções é bastante robusto.
CARACTERÍSTICAS DOS JOGOS OLÍMPICOS QUE REPRESENTAM VALORES OLÍMPICOS
Existem várias características dos Jogos Olímpicos (revezamento da tocha olímpica, hino, lema, símbolo, bandeira etc) que estão, de certa forma, relacionadas com os valores olímpicos. Por exemplo, o revezamento da tocha pode ser visto como relacionado com "compreensão mútua" ou "universalidade", o lema olímpico "citius, altius, fortius" pode ser visto como referência à "busca pelo melhor de si" ou excelência.
Quando fizemos a pergunta aberta: "Quão importantes são essas características para os Jogos Olímpicos da era moderna?" a intenção era testar indiretamente percepções pessoais dos valores olímpicos. Achamos que, se uma característica do que representa um valor olímpico não é importante para os Jogos, o valor por trás dele também pode não ser importante.
O desvio padrão (DP) mostra que para esta questão a opinião dos participantes não era tão uniforme como foi com os valores olímpicos. A contagem de medalhas (altamente promovida pelos meios de comunicação) mostra a maior ambivalência nas respostas (ver tabela 3).
O FUTURO DOS JOGOS OLÍMPICOS
Estudos realizados com pesquisadores e profissionais especialistas em Jogos Olímpicos são muito valiosos porque ambos os grupos observam esses eventos intensamente. Pedimos aos participantes da pesquisa que pensassem sobre o desenvolvimento do movimento olímpico em geral e respondessem a seguinte questão: "Qual é a sua opinião sobre o desenvolvimento atual dos Jogos Olímpicos?". A categorização de respostas possíveis estava relacionada com a teoria do ciclo de vida do produto (23). Assim, a determinação do estado de desenvolvimento atual dos Jogos fornece um olhar para o futuro.
Para evitar qualquer mal entendido a esse respeito, esclarecemos que os Jogos Olímpicos não são um produto único. Os Jogos são, em realidade, um conjunto de peças mais ou menos atrativas, que podem estar em diferentes fases de desenvolvimento. O programa dos Jogos, por exemplo, passa por mudanças constantes, os festivais culturais foram adicionados e têm uma importância diferente em cada edição do evento. Além disso, os patrocinadores aparecem de forma diferente ao longo dos anos.
Os resultados demostraram uma visão claramente diversa sobre o estado de desenvolvimento dos Jogos Olímpicos. Nem sexo (t=1,235; p> 0,5), nem idade (correlação não significativa), nem presença nos Jogos Olímpicos antes de 1984 (não comercialização) ou depois de 1984 (comercialização) (t=1,527; p>0,05), nem número de publicações (correlação não significativa), nem carreira esportiva (correlação não significativa) explicam a classificação. Pode-se pensar que aqueles que têm uma percepção positiva sobre os Jogos também podem acreditar que eles ainda estão em alta, enquanto aqueles que, em geral, têm uma percepção negativa podem acreditar que os Jogos estão em baixa. Um teste t para amostras pareadas mostrou que, em geral, percepções negativas ou positivas sobre os Jogos Olímpicos não estão relacionadas com a opinião dos Jogos terem ganhado ou perdido importância (t=-4,472; P <0,001).
Aqueles que percebem os Jogos Olímpicos como estando em alta, com frequência mencionam diferentes valores olímpicos do que aqueles que percebem os Jogos como estando em baixa. Os últimos mencionaram "internacionalismo/universalidade" (15,6%), "amizade" (10,8%) e "citius, altius, fortius"(7,7%), com menos frequência, mas "concorrência" (8,5%), "compreensão mútua" (6,6%) e "disciplina/determinação" (6,6%), com mais frequência do que aqueles que percebem os Jogos como estando em alta. Os participantes com uma percepção negativa dos Jogos mencionaram "paz" (20%), "amizade" (17%) e "igualdade" (10,5%) com menos frequên cia, mas "inclusão" (9,5%), com mais frequência do que aqueles participantes com uma percepção positiva dos Jogos.
CONCLUSÃO
Como mencionado anteriormente, para este estudo foram coletados dados de 190 pesquisadores e profissionais especialistas em Jogos Olímpicos que não dependem do sistema olímpico, de 46 países. Assim, tem-se por pressuposto que estes especialistas são capazes de analisar o movimento olímpico de forma independente. As principais conclusões do estudo foram as seguintes:
1. Na atualidade, 15% dos pesquisadores e profissionais têm percepções negativas sobre os Jogos Olímpicos em geral, quando levam em consideração todos os aspectos do movimento olímpico. Esse grupo não pode ser especificado por sexo, frequência de publicação, carreira no esporte, idade ou continente de origem.
2. Muitos dos pesquisadores e profissionais que percebem os Jogos Olímpicos de forma positiva ou que acreditam que seu desenvolvimento está em alta, mencionam como valores olímpicos importantes: a) paz, b) amizade, c) internacionalismo, e d) igualdade. Aqueles que percebem os Jogos de forma negativa e/ou acreditam que estejam em baixa, mencionam com mais frequência: a) compreensão mútua, b) disciplina/determinação, c) inclusão, e d) competição.
3. Seja a lembrança dos valores olímpicos espontânea ou assistida, o padrão de menções parece ser bastante robusto. A lista de valores resultante da lembrança assistida, por ordem de importância, foi: a) jogo limpo, b) buscar o melhor de si, c) igualdade, d) amizade, e) compreensão mútua, e f) paz. A lista de valores que resultou da lembrança espontânea, por número de menções, foi: a) jogo limpo, b) respeito/ tolerância, c) excelência, d) amizade, e) internacionalismo/universalidade, e f) paz. A principal diferença é que na lembrança assistida o valor "igualdade" foi muito mais importante, enquanto "respeito/ tolerância" foi mencionado com frequência surpreendente na lembrança espontânea. Ao avaliar a importância dos valores, obtivemos resultados semelhantes. Nesse caso, "atingir um equilíbrio em termos de corpo, mente e determinação" entrou no topo da lista, na posição 4 para lembrança espontânea, enquanto "igualdade" não apareceu.
REFERÊNCIAS
1. Chatziefstathiou, D. "The changing nature of the ideology of olympism in the modern olympic era". Theses published at http://library.la84.org/SportsLibrary/Books/IdeologyOfOlympism.pdf. 2005.
2. Milton-Smith, J. "Ethics, the olympics and the search for global values". Journal of Business Ethics, 35, 2002, pp. 131-142.
3. Idem, p. 131.
4. Lenk, H. Werte, ziele, wirklichkeit der modernen olympischen spiele. Schorndorf: Hofmann. 1964.
5. Lenk, H. "Toward a social philosophy of the olympics: values, aims and reality of the modern olympic movement". In: Graham, P.J.; Ueberhorst, H. (eds.) The Modern Olympics. West Point: Leisure Press, 1976.
6. Parry, J. "Olympism at the beginning and end of the twentieth century - immutable values and principles and outdated factors". 28th Young Participants Session. Ancient Olympia: International Olympic Academy, 1988. pp. 81-94.
7. Clarke, K. "Immutable values and principles and outdated factors". 28th Young Participants Session. Ancient Olympia: International Olympic Academy, 1988. pp. 99-104. Citação em pp.101-103.
8. Seppänen, P. "Competitive sport and sport success in the Olympic Games: a cross-cultural analysis of value systems". Internationals Review for the Sociology of Sport, 24(4) 275-282, 1989.
9. Preuss, H. "Coubertin und die olympischen ideale - Zehn Jahre Erhebungen unter deutschsprachigen sportstudenten". In: Carl und Liselott Diem-Archiv (org.) Tempel und ringe. Zwischen hochschule und Olympischer bewegung, 2002, (pp. 291-302). Köln: Diem Archiv.
10. Ver também: Parry, J. "Ethical aspects of the olympic idea". Proceedings of the 3rd International Session for Educationists. Ancient Olympia: IOA, 1997.
11. Chatziefstathiou, D.; Ramon, X.; Miragaya, A. Olympic idea nowadays: perceptions and insights. Bellaterra: Centre d'Estudis Olímpics i de l'Esport de la UAB, 2015.
12. Preuss, H.; Schütte, N.; DaCosta, L.P.; Königstorfer, J. (2015). "Olympic values nowadays". Lausanne: Olympic Studies Centre, 2015. Disponível em: http://doc.rero.ch/record/257591?ln=en
13. Tavares, O. Olympic values in the 21st century: between continuity and change. Bellaterra: Centre d'Estudis Olímpics (UAB), 2006.
14. Buss, W.; Güldenpfennig, S.; Krüger, A. Zur neubegründung der olympischen idee. Denkanstöße. Wiesbaden: Stumm. 2006.
15. Gebauer, G. Olympische Spiele -die andere utopie der moderne. Olympia zwischen kult und droge. Frankfurt am Main: Suhrkamp. 1996.
16. Parry, 1997. Op. cit, p.1.
17. Brownell, S.; Parry, J. Oympic values and ethics in contemporary society, 2012. p.15.
18. Coubertin, P. de. Olympic Memoires, Lausanne: IOC, 1997. p. 208.
19. Loland, S. "Pierre de Coubertin's ideology of olympism from the perspective of the history of ideas". Second International Symposium for Olympic Research. London/Ontario. 1994. pp.36-38.
20. Edgar, Dunn & Company, IOC. "Quantitative brand assessment". Olympic Global brand assessment and marketing plan. Lausanne: IOC. 1999.
21. IOC. Olympic Charter. Lausanne. 2013, p.12.
22. DaCosta, L. Olympic studies: current intellectual crossroads. Rio de Janeiro: Gama Filho, 2002. p.32.
23. Vernon, R. "International investment and international trade in the product life cycle". Quarterly Journal of Economics, 80, 1966, pp. 190-207.
Tradução de Gilberto Stam
(*) Este artigo foi traduzido por Gilberto Stam a partir do original em inglês.