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    Ciência e Cultura

    Print version ISSN 0009-6725On-line version ISSN 2317-6660

    Cienc. Cult. vol.76 no.spe2 São Paulo  2024

    http://dx.doi.org/10.5935/2317-6660.20240052 

    EDITORIAL

     

    Carolina Bori: Humanismo e amor à ciência

     

     

    Mariza Monteiro Borges

    Professora aposentada do Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília (UnB) e ex-presidente da Sociedade Brasileira de Psicologia (SBP)

     

     

    A revista Ciência & Cultura participa das comemorações do centenário de nascimento de Carolina Bori. Agrega aos eventos promovidos pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) mais um suplemento. Ele dará sequência às homenagens por meio da recuperação de artigos escritos por alguns de seus ex-alunos e por seus colegas de trabalho na Universidade de São Paulo (USP). Esses artigos ressaltam a importância de Carolina Bori para o desenvolvimento da Psicologia no Brasil.

    "O investimento de Carolina Bori na formação de pesquisadores e professores foi uma escolha de quem viu na ciência o caminho para alargar os horizontes do pensamento do homem sobre o próprio homem."

    "Carolina em Belo Horizonte", de João Bosco Jardim, e "A Psicologia Brasileira como Missão", de Maria Amélia Matos, ora republicados, evidenciam o empenho de Carolina Bori para o desenvolvimento da ciência e da profissão no país.

    A importância de Carolina Bori para a formação acadêmica de pesquisadores na área de Psicologia e Educação é tema de um estudo de Elizabeth Tunes desenvolvido especialmente para a presente publicação. Júlio De Rose e Olavo Galvão, em tom mais pessoal e opinativo, apresentam um relato de suas experiências e vivências como alunos de Carolina Bori na pós-graduação.

    Além dos artigos supracitados, duas reportagens tratam das contribuições de Carolina Bori para a SBPC e de seu papel para a formação e inclusão das mulheres no campo das ciências.

    A SBPC disponibilizará um vídeo apresentando o trabalho de Carolina Bori como educadora e pesquisadora. Um podcast, focado no papel de Carolina para o desenvolvimento da Psicologia no Brasil, também estará à disposição dos interessados.

    O conjunto de mídias referentes ao legado de Carolina Bori para a Ciência e para a Psicologia no Brasil não esgota a grande contribuição dela nas referidas áreas, mas apontará, seguramente, os caminhos para aqueles que se interessarem pela produção do conhecimento em Educação e em Psicologia no Brasil.

    "Em uma época de pragmatismo exacerbado e de espírito competitivo elevado ao paroxismo, Carolina Bori encarna admiravelmente o papel de intelectual humanista cuja atividade é inseparável de uma visão ética de mundo."

    A descrição do conteúdo da revista revela a diversidade e a importância dos temas que moveram Carolina Bori como cientista. A contribuição para o desenvolvimento de duas áreas de conhecimento, Psicologia e Educação, cuja importância para a formação humana é inegável, aponta para nós os caminhos a serem seguidos na produção do conhecimento. Nesse sentido, o investimento de Carolina Bori na formação de pesquisadores e professores foi uma escolha de quem viu na ciência o caminho para alargar os horizontes do pensamento do homem sobre o próprio homem.

    Gilberto Velho, do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro, em um texto de 1998, publicado na revista Psicologia USP, volume 9, expõe claramente o que aqui pretendi mostrar. Assim, passo a transcrever o pensamento de Gilberto Velho, em seu artigo "O Humanismo de Carolina Bori" [1]:

    Conheci Carolina há mais de vinte anos em reunião da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). Ao longo desse período, tive o privilégio de conhecer algumas de suas qualidades. Tanto em comissões e comitês de variados tipos, como no convívio desenvolvido através da SBPC, pude apreciar a sua seriedade e dedicação à ciência brasileira. Em todos os cargos que ocupou, estabeleceu padrões de notável equilíbrio entre o espírito acadêmico e um posicionamento político crítico. São notórios o seu desprendimento pessoal e espírito de sacrifício, não medindo esforços para defender não só a comunidade científica, mas as causas sociais que sempre a preocuparam [1].

    Em uma época de pragmatismo exacerbado e de espírito competitivo elevado ao paroxismo, Carolina Bori encarna admiravelmente o papel de intelectual humanista cuja atividade é inseparável de uma visão ética de mundo. Sua atuação no período do regime militar foi sempre uma referência de ponderação e firmeza. Nos anos que se seguiram, manteve uma postura democrática independente, voltada para a atividade científica, mas jamais desligada da social.

    Como pesquisadora na área de Psicologia e como educadora, conseguiu estabelecer um trânsito fértil entre diversas áreas disciplinares no território das Ciências Humanas. Como afirma Gilberto Velho em seu artigo: "Esta visão abrangente, somada à conhecida capacidade de trabalho, garantem que ainda, por muito tempo, poderemos contar com seu apoio".

     

    Referências

    1. VELHO, G. O HUMANISMO DE CAROLINA BORI. PSICOLOGIA USP, SÃO PAULO, V. 9, N. 1, P. 217, 1998.