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    Ciência e Cultura

    versão impressa ISSN 0009-6725versão On-line ISSN 2317-6660

    Cienc. Cult. v.54 n.1 São Paulo jun./set. 2002

     

     

     

    CARCINICULTURA MARINHA

    Pesquisa impulsiona produção de camarões em viveiros e mercado de trabalho regional

     

    O dia em que a criação dos camarões marinhos virou assunto de cientista, a produtividade aumentou e a paisagem costeira e paradisíaca de muitos países ficou diferente. A vida de muitos pescadores também mudou. Ao mesmo tempo que gera debates sobre sustentabilidade e impacto ambiental nos manguezais, a atividade gera emprego e renda para pescadores artesanais prejudicados com a escassez dos estoques naturais de camarão marinho.

    Dados da Associação Brasileira dos Criadores de Camarão mostram que dos 8,5 mil km de litoral, o País ocupa apenas 8,5 mil hectares com o cultivo. Comparada a países vizinhos, esta ocupação é irrisória: o Equador, com uma extensão similar ao Ceará, possui mais de 160 mil hectares de cultivo; e Honduras, com 200 km de litoral, já chega a 12 mil hectares. Quando se considera o potencial de geração de emprego, a balança pende ainda mais para a carcinicultura. “É uma das atividades que menos requer investimento para gerar um emprego – US$ 13.880 – enquanto o setor automotivo precisa de US$ 91 mil e, o químico, US$ 220 mil”, contabiliza Raúl Malvino Madrid, coordenador geral de Aquicultura do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).

     

     

    Por seu potencial, a atividade no Brasil está em franca expansão, o que levou o ministério a elaborar, há três anos, o Programa de Apoio ao Desenvolvimento do Cultivo do Camarão Marinho, que resultou, entre outras ações, na publicação da Plataforma tecnológica do camarão marinho cultivado, financiada pelo CNPq. Esta plataforma pretende nortear ações científicas e tecnológicas dos órgãos governamentais com as iniciativas privadas a fim de transformar o País em um dos maiores produtores mundiais de camarões marinhos cultivados.

    A importância econômica dos viveiros de camarões marinhos é cada vez maior em muitos países costeiros subdesenvolvidos. Para um país tropical se tornar um produtor é preciso que as condições ambientais dos ecossistemas estuarinos sejam propícias. No Brasil, do sul da Bahia ao norte do Maranhão há condições excelentes para a implantação e desenvolvimento de camarões confinados.

    As primeiras tentativas começaram nos anos 70, com a criação de várias espécies de camarões marinhos no Brasil, mas não foram bem-sucedidas. O professor Marcos Rogério Câmara, do Departamento de Oceanografia e Limnologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte diz que a produção decolou somente nos anos 90, com o cultivo da espécie Litopenaeus vannamei, que se tornou responsável por aproximadamente 80% de toda a produção brasileira de pós-larvas.

    Madrid explica que todo o esforço empregado para o desenvolvimento das espécies brasileiras não foi suficiente para elevar os níveis de produção. “Durante dez anos de trabalhos de domesticação das nossas espécies, o desempenho produtivo oscilou de 400 a 600 kg/ha/ano, níveis insuficientes para garantir lucratividade”. Já a espécie Litopenaeus vannamei alcança um rendimento médio de 5000 kg, acrescenta Madrid.

     

     

    A tecnologia de cultivo do Litopenaeus vannamei foi desenvolvida pelos países do Pacífico, mas para que este camarão fosse introduzido aqui no Brasil foram feitas várias adaptações. A espécie é originária da costa sul-americana do Pacífico, que se estende do Peru ao México. A fácil adaptação a diferentes ambientes permitiu sua introdução em terreno brasileiro e a carne de alta qualidade é muito bem aceita nos mercados americanos e europeus, para onde se destina grande parte da produção brasileira.

    Para se “fazer” um camarão marinho é preciso uma boa dose de pesquisa e persistência, pois é necessário aperfeiçoar as técnicas e aclimatá-lo às condições dos estuários brasileiros. O desenvolvimento deste setor deve-se aos avanços científicos nos campos da engenharia para aquicultura, na seleção dos camarões reprodutores, nos processos de maturação e larvicultura, na produção intensiva de juvenis e no manejo dos ecossistemas de engorda. Segundo Câmara, os principais centros de pesquisa estão no Departamento de Aquicultura da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e no Departamento de Oceanografia da Fundação Universidade de Rio Grande (FURG) no Rio Grande do Sul, além do esforço individual de vários grupos e pesquisadores de universidades brasileiras.

     

    Juliana Schober

     

    UMA FAZENDA FEITA DE HOMENS

    Nem só de ciência e tecnologia são feitas as fazendas de camarões marinhos brasileiras. Elas também contam, e muito, com o esforço diário de muitos trabalhadores. Para conhecê-los melhor, a bióloga Ana Lúcia Carneiro Scherfer realizou um estudo pela Universidade Federal de Santa Catarina. O estudo de Schaefer foi realizado nas fazendas de camarão do município de Laguna, em Santa Catarina, durante o período de 1999 a 2000. Este é um dos únicos estudos brasileiros existentes sobre o tema.

    Ela concluiu que os trabalhadores são ex-pescadores artesanais que recebem salários maiores que os obtidos com a pesca artesanal, além de terem uma renda fixa todo o mês, carteira assinada e alimentação garantida pelas fazendas empregadoras. São alfabetizados, do sexo masculino, com idade entre 18 e 40 anos. Schaefer afirma que estas pessoas são fundamentais para ao desenvolvimento da carcinicultura marinha na região Sul, que quando conduzida corretamente permite que ex-pescadores não se afastem de seus locais de trabalho originais, e que continuem com forte vínculo com a atividade pesqueira, muitas vezes herdada de seus antepassados.