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    Ciência e Cultura

    versão impressa ISSN 0009-6725versão On-line ISSN 2317-6660

    Cienc. Cult. v.54 n.1 São Paulo jun./set. 2002

     

     

     

    ALGODÃO

    Endividamento provoca onda de suicídios na Índia

     

    Novas interpretações deverão ser acrescentadas à polêmica onda de suicídios envolvendo fazendeiros de algodão na Índia. O antropólogo norte-americano Glenn Davis Stone estuda o caso e considera que a aprovação pelo governo indiano do comércio da variedade Bollgard Bt, produzida pela multinacional Monsanto, trará novas implicações ao caso. O auge do número de suicídios aconteceu em 1998, com 500 mortes registradas apenas no distrito de Warangal, por ingestão de pesticidas, e continuam ocorrendo nas diversas regiões produtoras de algodão.

    Segundo ecologistas indianos, os suicídios seriam motivados pelo crescente endividamento dos pequenos cotonicultores. O uso intensivo de pesticidas teria criado pragas cada vez mais resistentes, levando ao declínio da produtividade e à falência econômica. A Monsanto alega que a semente transgênica irá implicar a redução do uso de pesticidas, pois a semente transgênica carrega uma toxina capaz de matar a praga conhecida como American Bollworm. Já os ecologistas argumentam que, assim como as pragas foram tornando-se cada vez mais resistentes a cada nova geração de pesticidas, em breve, uma praga resistente à Bollgard Bt surgirá. A aplicação de pesticidas não poderá ser suspensa pois as plantações são atacadas também por outras pragas. Com isso, os predadores naturais da American Bollworm – que chegam a 27 – e que poderiam ser usados para o controle biológico, também morrerão, acrescentam os estudiosos.

    Para o antropólogo, a introdução da Bollgard Bt tanto pode aumentar a dívida dos agricultores como pode mitigá-las. “A grande destruição das lavouras de algodão em 1997-1998 foi causada, em sua maior parte, pela Spodoptera (lagarta), sobre a qual a Bollgard Bt não tem efeito. Na safra seguinte, foram gastos 3,2 milhões de rúpias em pesticidas para se obter apenas 2,8 milhões de rúpias com a colheita do algodão.

    Faz parte da pesquisa de Glenn Stone, ainda, verificar como funcionará a vida social entre os fazendeiros indianos que lidarão com sementes transgênicas, já que as sementes não podem ser trocadas livremente entre os produtores pois são de propriedade da Monsanto. Ele pretende apurar se serão criadas relações de dependência com os vendedores de sementes, além de questões simbólicas e culturais. “Plantações não funcionam apenas para produzirem comida; elas geram materiais para construção, alimentos para os animais, são símbolos de prestígio e são definidoras de identidade étnica”, acrescenta. O artigo de Stone pode ser encontrado em http://artsci.wustl.edu/~anthro/research/biotech_suicide.html.