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    Ciência e Cultura

    versão impressa ISSN 0009-6725versão On-line ISSN 2317-6660

    Cienc. Cult. v.55 n.1 São Paulo jan./mar. 2003

     

     

    FARMÁCIAS-VIVAS

    Medicina popular obtém reconhecimento científico

     

    O uso de ervas medicinais, muitas delas cultivadas no fundo do quintal, é uma prática secular baseada no conhecimento popular e transmitido oralmente, na maior parte das situações. É difícil encontrar alguém que não curou a cólica infantil com camomila ou erva-doce ou o mal estar de uma ressaca com chá de folhas de boldo, sem qualquer receita médica. Numa população com baixo acesso a medicamentos, como a brasileira, agregar garantias científicas a essa prática terapêutica traz variadas vantagens.

    Esse é o objetivo do Projeto Farmácias-Vivas, criado em 1985 pelo farmacêutico Francisco José de Abreu Matos, da Universidade Federal do Ceará. O projeto é direcionado para a saúde pública, cujas plantas permitem, hoje, o tratamento de aproximadamente 80% das enfermidades mais comuns nas populações de baixa renda. A mais recente Farmácia-Viva instalada em outubro último em Viçosa, é capaz de atender também os municípios vizinhos, na Serra da Ibiapaba. Duas outras preparam-se para começar a atuar em Caucaia e Umirin, também municípios cearenses.

     

     

    Abreu Matos explica que 64 espécies de plantas medicinais disponíveis no nordeste já foram selecionadas e tiveram seu uso analisado cientificamente, de acordo com as recomendações da Organização Mundial de Saúde.

    A escolha das plantas inicia-se a partir de um levantamento etnobotânico, seguido do levantamento bibliográfico e experimentação em laboratório. As informações geradas são organizadas em um banco de dados e, posteriormente, sua eficácia e segurança terapêuticas são avaliadas. Nessa fase, as variedades coletadas no campo são levadas para um horto de plantas medicinais, localizado no campus da UFC, onde passam pelo processo de domesticação e preparação de mudas, sob a orientação de um agrônomo, para mais tarde serem cultivadas nas hortas de cada farmácia-viva.

    Nas farmácias-vivas, os medicamentos são preparados em laboratório de fitoterápicos sob responsabilidade de um farmacêutico especialmente treinado. Para sua administração, o princípio ativo é mantido nas plantas (e não isolado como faz a indústria farmacêutica) na forma de chás, xaropes, tinturas e cápsulas gelatinosas.

    Entre os fitomedicamentos usados com eficiência já comprovada cientificamente, o pesquisador cita a tintura e o sabonete líquido de alecrim-pimenta (Lippia sidoides), preparações de elevado poder anti-séptico; o creme vaginal de aroeira-do-sertão (Myracrodruom urundeuva), usado com sucesso no tratamento de cervicite e cervicovaginite; assim como o elixir de aroeira, de ação semelhante às preparações de espinheira-santa, para tratar gastrite e úlcera gástrica e as cápsulas de hortelã-rasteira (Menthax villosa) eficiente medicamento contra amebíase, giardíase e tricomoníase.

    Os bons resultados das farmácias-vivas motivaram o governo cearense a criar o Programa Estadual de Fitoterapia, nos moldes do projeto, que é hoje aplicado em cerca de 30 comunidades do interior, como complemento do Programa Saúde da Família (PSF). O projeto das farmácias-vivas está presente, também, em Brasília e nos municípios de Picos, no Piauí e Altamira, no Pará.

    O pesquisador cita dois estudos recentes: com o melão-de-são-caetano (Momordica charantia L.), e com a planta antidiabética que é designada pelo nome de insulina-vegetal (Cissus cicyoides).

     

    Germana Barata