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    Ciência e Cultura

    versão impressa ISSN 0009-6725versão On-line ISSN 2317-6660

    Cienc. Cult. v.55 n.1 São Paulo jan./mar. 2003

     

     

    ARQUEOLOGIA

    Uso social de sítios para conservar patrimônio do Vale do Ribeira

     

    Pouco se sabe a respeito do processo de ocupação humana do baixo Vale do Ribeira, no litoral sul paulista. A pesquisa limita-se a documentos datados a partir de 1532, o que torna a história oral do lugar rica em lendas, tais como a de que ali naufragaram navios piratas com porões cheios de tesouros. A descoberta de inúmeros sítios arqueológicos, porém, possibilita reconstituir aspectos do passado de forma científica. "Há grande concentração de material arqueológico, marcas de um processo de ocupação que se iniciou há mais de 5 mil anos", informa Maria Cristina Scatamacchia, coordenadora do Programa Arqueológico do baixo Vale do Ribeira, desenvolvido por pesquisadores do Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE) da Universidade de São Paulo, com financiamento da Fapesp.

    O levantamento e caracterização de materiais arqueológicos terrestres e subaquáticos encontrados nas cidades de Cananéia, Iguape e Ilha Comprida iniciou-se há 15 anos. Desde então, foram encontrados diversos vestígios como os de um navio a vapor afundado em 1858, dois canhões de ferro e sobras de um fortim do século XIX, além de inúmeros sambaquis (depósitos de conchas, artefatos e esqueletos de animais deixados por populações pré-históricas). Paralelo às pesquisas, o objetivo de divulgar as descobertas aos moradores e visitantes levou à criação do Museu de Iguape, onde o material recuperado de áreas exploradas conta a história do município.

    Para os pesquisadores, a arqueologia é uma importante parceira para o desenvolvimento do turismo cultural, uma das principais vocações da região. "Além de gerar renda para a população de uma das áreas mais pobres do estado, o turismo cultural pode ser uma forma de proteção do patrimônio arqueológico", considera Maria Cristina. Muitos sítios foram destruídos pela ignorância do que representam como registro do passado. As primeiras áreas estudadas foram as mais próximas dos centros urbanos, cujos sítios correm maior risco de destruição. O programa do museu deverá contemplar a criação de cursos técnicos de arqueologia para formar monitores, guias turísticos e pessoas interessadas em colaborar com a gestão desse patrimônio. O Guia Arqueológico do Vale do Ribeira, lançado recentemente, é outro passo importante para resgatar a história do baixo Vale, considera a pesquisadora.

    A equipe do museu da USP, em parceria com a prefeitura de Iguape e a iniciativa privada, propõe ainda a revitalização do Porto do Ribeira, que abrange o bairro mais próximo da estrada de acesso à cidade. No século XIX, o porto foi importante no escoamento de produtos agrícolas do médio e do alto Ribeira. As pesquisas arqueológicas conseguiram recuperar algumas estruturas arquitetônicas, como alicerces, colunas e pisos.

    ARQUEOLOGIA SUBAQUÁTICA O programa conta, também, com a primeira experiência de arqueologia subaquática do país. Após vasculhar o fundo da costa sul paulista, nas ilhas de Cananéia, Comprida, do Bom Abrigo e do Cardoso, o arqueólogo subaquático Gilson Rambelli está produzindo uma carta arqueológica com todos os sítios submersos descobertos. Ele prevê a criação de cursos de mergulho associados à arqueologia para os monitores ambientais locais. "A idéia é elaborar um plano de gestão desse patrimônio com a comunidade local para que ela possa, no futuro, atuar em sua defesa", afirma Rambelli.

     

    Sara Nanni