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    Ciência e Cultura

    versão impressa ISSN 0009-6725versão On-line ISSN 2317-6660

    Cienc. Cult. v.55 n.1 São Paulo jan./mar. 2003

     

     

     

    CONTROVÉRSIA

    Laboratório de Cambridge usa macacos brasileiros vivos para experimentação científica

     

    O uso de animais para a experimentação científica é um assunto controverso mesmo entre os cientistas. Uma denúncia de maus tratos, feita pela União Britânica para a Abolição da Vivissecção (Buav, sigla em inglês), envolve uma espécie nativa brasileira, o sagüi de tufo branco (Callithrix jacchus), um dos animais mais utilizados para experimentação em todo o mundo. Durante 10 meses, a Buav manteve uma ativista trabalhando em um laboratório da Universidade de Cambridge, na Inglaterra. Ela gravou imagens dos saguis ­ disponíveis no site www.buav.org ­ que mostram os animais isolados em pequenas jaulas e com cortes profundos na cabeça, frutos dos experimentos realizados.

    Para a entidade, Cambridge viola as leis britânicas por não proporcionar um local adequado para os animais e por submetê-los a sofrimentos desnecessários. O laboratório de Cambridge faz experimentos básicos e aplicados sobre funcionamento cerebral e sobre doenças como o mal de Parkinson e de Alzheimer.

    O sagüi de tufo branco é uma espécie do nordeste brasileiro fácil de criar em cativeiro. Na natureza, vivem em grupos amplos e são bastante sociáveis. Segundo o pesquisador Rodrigo del Rio do Valle, do Centro Nacional de Primatas, no Pará, o ideal é que os sagüis sejam agrupados em jaulas espaçosas, contando com um casal de animais e seus filhos. "Os sagüis de tufo branco são animais bastante adaptados ao cativeiro, que devem ser separados em casais, se possível com seus filhos", diz Valle.

    Francisco Tavares, da Diretoria de Fauna e Recursos Pesqueiros do Ibama, afirma que não há registro de importação desses animais por parte da Universidade de Cambridge. Segundo ele, o Ibama não mantém nenhum registro sobre laboratórios internacionais que utilizam animais brasileiros para vivissecção ­ operações feitas em animais vivos para estudo de fenômenos fisiológicos.

    Para Valle, a hipótese mais provável é que os sagüis tenham saído há muito tempo do Brasil e tenham se reproduzido em cativeiro. De acordo com informações da Buav, a Universidade de Cambridge mantém entre 400 e 500 sagüis de tufo branco apenas em seu laboratório de estudos do cérebro. "Se as informações da Buav são verdadeiras, e parecem que são, a situação é muito grave. Este é apenas um exemplo do que ocorre com os primatas brasileiros", afirma Valle.

    A assessoria de imprensa de Cambridge foi procurada pela Ciência e Cultura mas não respondeu sobre a origem dos animais e a legalidade dos experimentos.

     

    Rafael Evangelista