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    Ciência e Cultura

    versão impressa ISSN 0009-6725versão On-line ISSN 2317-6660

    Cienc. Cult. v.55 n.1 São Paulo jan./mar. 2003

     

    Cinema

    ACIDENTE COM O CÉSIO INSPIRA NOVAS PRODUÇÕES

     

     

    O acidente com o Césio-137, contaminação ocorrida a partir do contato com o lixo radioativo em um ferro-velho de Goiânia em 1987, motivou a produção de vários filmes e documentários por cineastas interessados em resgatar a história. No IV Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental (Fica), realizado em junho passado na Cidade de Goiás, foram apresentados Césio no sangue, do sueco Lars Westman, e Amarelinha, do goiano Ângelo Lima.

    Outro filme em desenvolvimento, também baseado no acidente com o Césio-137 em Goiânia, é O silêncio azul. É uma co-produção do cineasta e professor da Universidade Católica de Goiás, Luiz Eduardo Jorge, com a produtora Laura Pires, viúva do cineasta baiano Roberto Pires, autor de Césio-137 ­ o pesadelo de Goiânia, realizado em 1990. Laura Pires vive em Salvador (BA) e persiste na luta iniciada por seu marido. "Roberto era louco por cinema e fazia qualquer coisa para ter as imagens que queria. Não se importou com o que poderia acontecer com ele entrando no local onde sabia que era muito perigoso", lamenta.

    As locações de O silêncio azul estão previstas para Goiânia, Angra I, Chernobyl, Hiroshima, Nagasaki. Inclui, ainda, locais em Cuba onde algumas vítimas da contaminação se trataram. Segundo o cineasta, o objetivo é fazer uma abordagem histórica e estabelecer correlação do Césio-137 com outros acidentes. Jorge pretende reunir extenso material com a visita ao depósito com rejeitos radioativos, em Abadia de Goiás, e a cemitérios, ouvir depoimentos de médicos, secretários de saúde, cientistas, parentes das vítimas e pessoas envolvidas com o acidente, além de checar novamente os números oficiais de mortos e contaminados.

    A dupla de produtores tem mais um desafio ­ o de descobrir se o câncer que vitimou o cineasta Roberto Pires deveu-se à exposição prolongada em ambiente contaminado no depósito do Césio-137 durante as filmagens.

    PERSONAGENS MARCADOS Outra produção sobre o tema é a do sueco Lars Westman, Césio no sangue. O filme em 57 minutos retrata o sofrimento de vítimas do acidente, sob a perspectiva da discriminação sofrida por elas e a dificuldade em retomar a normalidade de suas vidas. O filme foi patrocinado pela empresa Westman's Film e produzido entre os meses de outubro e novembro de 2001. A única apresentação pública ocorreu no festival goiano. O cineasta explica que não encontrou espaço para divulgação, nem na televisão brasileira nem na sueca, sob o argumento de que o assunto não era mais novidade.

    Césio no sangue é uma continuidade de um documentário realizado pelo cineasta há 15 anos, na época do acidente radiológico, para uma televisão estatal da Suécia, com o nome de Eu tenho césio dentro do sangue e tenho medo. No ano passado, ele retornou a Goiânia, procurou as mesmas pessoas e o cenário encontrado "foi de desolação". Algumas das vítimas morreram, outras estão bastante doentes e a maioria continua com medo de falar sobre o assunto.

    O cineasta sueco, que vive hoje na Bahia, considera os acidentes radioativos sérios problemas da atualidade. Além de participar de O silêncio azul, ele não pretende parar de documentar o assunto, porque, em suas pesquisas, constatou que existem 387 máquinas iguais às do acidente de Goiânia, desaparecidas. Isso, na sua opinião, representa um risco constante, para o qual os governantes não estão atentos.

     

    Rosane de Bastos