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    Ciência e Cultura

    Print version ISSN 0009-6725On-line version ISSN 2317-6660

    Cienc. Cult. vol.55 no.2 São Paulo Apr./June 2003

     

     

    AGRICULTURA

    Sementes rústicas para resgatar produção no Vale do Ribeira

     

    Algumas pequenas comunidades rurais na região do Vale do Ribeira, em processo de reconhecimento pelo poder público como remanescentes de escravos ou como comunidades quilombolas, encaram o desafio de tornar suas terras produtivas. O plantio de roças, garantida a posse legítima sobre essas terras, é uma das únicas alternativas de sobrevivência para a região, que detém os mais baixos Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) do estado de São Paulo. Cresce, portanto, a necessidade por sementes rústicas, mais adaptadas às condições do ambiente e de plantio.

    "As espécies e variedades requisitadas pelas comunidades são as mesmas que sempre foram cultivadas por seus antepassados", afirma Justiniano Carnero, agrônomo responsável pelo programa "Resgate de Sementes Variedades Tradicionais", desenvolvido na região pela Fundação Instituto de Terras, órgão da Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania do estado de São Paulo. O objetivo é retomar o plantio de espécies nativas, aproveitando o conhecimento no manuseio do banco genético, que é parte da cultura de pelo menos quinze comunidades favorecidas. Arroz, feijão, milho e outras espécies alimentícias, como raízes de mandioca, colmos de cana-de-açúcar, tubérculos de batata-doce, rizomas de bananas, taiobas, carás, inhames e mangaritos estão entre as variedades catalogadas e disseminadas nas comunidades. Uma parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) poderá garantir parte do fornecimento necessário de algumas espécies tradicionais, que já não existem nas roças do Vale. Também foram doadas pela prefeitura de Porto Vitória, no Paraná, uma pequena quantidade de cinco variedades de milho crioulo extintas entre os quilombolas. "Todas as variedades encontradas estavam, ou ainda estão, em processo de extinção", alerta o agrônomo.

     

     

     

    As restrições legais ao cultivo em lugares vizinhos a áreas de preservação ambiental, bem como a lentidão da regularização fundiária, acarretaram a redução do espaço agricultável, levando algumas comunidades a abandonar suas roças. Com isso, houve perda de variedades de sementes rústicas que deixaram de ser plantadas. Entre as metas do programa, está o fortalecimento da segurança alimentar, recuperação e preservação das riquezas genéticas e culturais das comunidades rurais e montagem de um banco de sementes. O coordenador acrescenta que se espera amenizar alguns problemas enfrentados pelas comunidades quando elas tentam recuperar o plantio nas roças. "Infelizmente, muitas famílias têm que recorrer à doação de sementes e, em alguns casos, comprá-las em casas de lavoura. Como essas sementes não são desenvolvidas para a região, e nem para o tipo de manejo utilizado pelas comunidades, elas têm baixa produtividade e, muitas vezes, sequer germinam", diz Carnero.

    O programa, criado há pouco mais de um ano, vem pesquisando variedades existentes nas comunidades - coleta, catalogação e classificação de amostras -, permutas entre as comunidades para multiplicar as sementes, além de consultar os pequenos agricultores sobre quais variedades pretendem cultivar.

     

    Sara Nanni