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    Ciência e Cultura

    Print version ISSN 0009-6725On-line version ISSN 2317-6660

    Cienc. Cult. vol.55 no.3 São Paulo July/Sept. 2003

     

     

    RESEVAS NATURAIS

    Uso medicinal popular da espinheira-santa estimula extrativismo e coloca a planta em risco de extinção

     

     

    A comprovação científica das propriedades terapêuticas da espinheira – santa (Maytenus ilicifolia) para males estomacais, planta já largamente utilizada na medicina popular, tem acarretado uma coleta predatória, que coloca a espécie em risco de extinção. Há alguns anos, a árvore era facilmente encontrada na Mata Atlântica nas regiões Sul e Sudeste . Hoje, mesmo sem existir registro no mercado de um medicamento elaborado a partir da planta, o estudo oficial da Central de Medicamentos (Ceme), um órgão hoje extinto do Ministério da Saúde, atestando sua eficácia em tratamento como úlceras, acelerou o processo de extração de forma a ameaçar as reservas naturais.

    Para garantir o fornecimento de matéria-prima para a indústria farmacêutica, será necessário fazer o manejo da planta em seu ambiente natural, cultivá-la ou descobrir plantas com as mesmas propriedades terapêuticas.O pesquisador Ílio Montanari Júnior, do Centro Pluridisciplinar de Pesquisas Químicas, Biológicas e Agrícolas (CPQBA/Unicamp) defende o cultivo. "Poderá responder ao aumento de demanda e garantir regularidade e padrão necessários para o processamento industrial", afirma.

    Apenas o manejo não garante quantidades e especificidades desejadas pelo fabricante de remédio, pois os fatores genéticos, ontogênicos (estágio de desenvolvimento da planta) e ambientais dificultam a sua padronização. Mas Montanari considera interessante a prática por fornecer ganho extra às populações que habitam áreas onde a espécie ocorre espontaneamente, como o Vale do Ribeira e Paraná.

    Uma vantagem do cultivo é a perenidade da planta, mas existe um entrave que é a inexistência de material selecionado (sementes) para a propagação. Os poucos cultivos atuais foram feitos nos estados do Paraná e São Paulo, a partir da planta selvagem. As pesquisas em andamento no CPQBA pretendem fazer a seleção das plantas e informar aos agricultores a melhor forma de cultivar com produtividade, a freqüência e tipo de poda e o espaçamento de plantio.

    FÁBRICA DE MUDAS O Departamento de Biotecnologia Vegetal da Universidade de Ribeirão Preto (Unaerp) tem dois projetos visando a preservação de espécies em risco de extinção. Com a técnica de micropropagação, são feitos clones da espinheira-santa. Isso diminui o custo de produção, já que as folhas são colhidas em menor tempo. Normalmente, a planta leva de 12 a 15 anos para ficar com seu tamanho máximo na natureza, enquanto que com a clonada, o período cai para cinco anos. A pesquisadora Ana Maria Soares Pereira acrescenta outra vantagen à muda clonada, que é a uniformidade.

    A procura por essas plantas ainda é pequena, mas o laboratório tem condições de atender a qualquer pedido, informa Ana Maria. Normalmente, o agricultor requisita a quantidade de mudas que necessita e, em seis meses, elas são entregues. O custo médio por cada muda é de R$ 1,50.

    A maior parte da produção de plantas clonadas atende a empresa Santos Flora (SP), que repassa ao setor farmacêutico.

    Outra pesquisa da Unaerp objetiva a formação de um banco de germoplasmas, onde as coleções podem ser conservadas no ambiente por até 300 anos. "Os genótipos interessantes encontrados na natureza são guardados para serem utilizados no futuro. Com o banco de germoplasma estamos conservando plantas medicinais que, com isso, escapam da extinção", afirma Ana Maria.

    O Núcleo de Plantas Medicinais, do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), pretende reunir as pesquisas sobre as espécies nativas consideradas prioritárias para a conservação. A primeira reunião, realizada no final de 2002, foi com pesquisadores que estudam a espinheira-santa. Segundo Suelma Ribeiro, coordenadora do núcleo, a espécie foi a primeira a ser escolhida por contar com estudos avançados e ser a de maior risco de extinção na Mata Atlântica. Os trabalhos apresentados por especialistas de centros de pesquisa de todo o país devem ser publicados em livro.

     

    Liliane Gama