SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.55 número3 índice de autoresíndice de assuntospesquisa de artigos
Home Pagelista alfabética de periódicos  

Serviços Personalizados

Journal

Artigo

Indicadores

    Links relacionados

    • Em processo de indexaçãoCitado por Google
    • Não possue artigos similaresSimilares em SciELO

    Compartilhar


    Ciência e Cultura

    versão impressa ISSN 0009-6725versão On-line ISSN 2317-6660

    Cienc. Cult. v.55 n.3 São Paulo jul./set. 2003

     

     

    GENÉTICA

    A produção brasileira de camundongos transgênicos favorece a pesquisa

     

    Os avanços da genômica, a conclusão do mapeamento do genoma humano, a busca pela cura através da fabricação de novos medicamentos resultaram no aumento de pesquisadores trabalhando com modelos geneticamente modificados. Porém, o alto custo de importação desses animais, que varia de US$ 5 mil a US$ 10 mil a unidade, além da demora no processo de importação, reforçaram a urgência da criação de um centro produtor de animais transgênicos no país, capaz de atender a demanda crescente da pesquisa em universidades e empresas privadas. O Laboratório de Animais Transgênicos do Centro de Desenvolvimento de Modelos Experimentais em Medicina e Biologia (Cedeme) da Escola Paulista de Medicina (Unifesp), coordenado pelo pesquisador João Bosco Pesquero, preparou-se para atender essa demanda.

    Pesquero explica que, para o pesquisador, "uma das vantagens de poder encomendar um animal com alterações de um determinado gene está em obter uma cobaia com as características genéticas específicas e essenciais para o desenvolvimento de seus estudos". Outro diferencial de estar em contato direto com o laboratório produtor do transgênico é facilitar o entendimento na construção do vetor de DNA a ser utilizado para a geração do animal. Além disso, o tempo no processo de genotipagem para determinar a presença ou ausência do transgene em seu genoma, geralmente realizado pelo laboratório que encomenda o animal, será muito menor.

     

     

    Para Wirla Tamashiro, do Departamento de Microbiologia e Imunologia da Unicamp, a produção de cobaias no país é bem vinda. "As pesquisas para o desenvolvimento de modelos transgênicos, bem como a sua produção em escala, deveria ser incentivada e rapidamente implementada no país, pois se trata de um material importante para a pesquisa biológica e evitará enfrentar a atual maratona de tempo e burocracia". A pesquisadora trabalha com animais transgênicos há cerca de dois anos, investigando o papel de células dendríticas na indução e manutenção da tolerância imunológica no decorrer do envelhecimento.

    SAÚDE PÚBLICA Estima-se que, desde o século XIX, animais sejam usados como cobaias, na busca de solucionar problemas de saúde do homem. O primeiro experimento do gênero, realizado com sucesso, foi feito em 1982, quando o DNA de um rato foi introduzido em um camundongo.

    O uso de animais geneticamente modificados propicia aos pesquisadores a oportunidade de estudar e entender os mecanismos das doenças que atingem o homem. Para a medicina, o uso de animais portando genes humanos permite que medicamentos desenvolvidos pela indústria farmacêutica sejam validados com menor número de testes em humanos voluntários. Outro ponto favorável é a utilização das cobaias transgênicas na produção de órgãos para transplante em seres humanos, e seu uso na pesquisa básica em medicina, onde são utilizados para a determinação da função de genes humanos desvendados pelo projeto genoma humano. Esses estudos agilizam o desenvolvimento de drogas para o tratamento de doenças cujas causas ainda não são conhecidas.

     

     

    TÉCNICAS DE PRODUÇÃO O pesquisador da Unifesp explica que existem, basicamente, duas maneiras de estudar a função de um determinado gene com a técnica de transgenia: o pesquisador aumenta a expressão do gene e, portanto, seu efeito fisiológico/fisiopatológico; ou bloqueia totalmente sua expressão. No primeiro caso, o modelo transgênico é chamado de "adição gênica", e o animal apresenta várias cópias do gene de interesse em seu genoma, como é o caso do camundongo Vítor, o primeiro camundongo transgênico brasileiro criado para estudo de doenças cardíacas.

    O segundo modelo, no qual o gene é retirado do genoma do animal, é denominado knock-out (nocaute). Este é o caso do camundongo Christian, o primeiro criado com a mutação genética que provoca a síndrome de Marfan, doença que afeta o sistema ocular e cardiovascular, pela pesquisadora Lygia da Veiga Pereira, coordenadora do Laboratório de Genética Molecular da USP. Os dois modelos empregam técnicas diferentes: um adiciona genes ao genoma do animal, aumentando sua função; o outro retira, inibindo-a.

    Vítor e dois outros camundongos nasceram de um investimento de aproximadamente US$ 200 mil, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Este montante foi utilizado para comprar todo o equipamento necessário para o estabelecimento da técnica de microinjeção.

     

    Lúcia Cunha Ortiz