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    Ciência e Cultura

    Print version ISSN 0009-6725On-line version ISSN 2317-6660

    Cienc. Cult. vol.55 no.3 São Paulo July/Sept. 2003

     

     

    EDUCAÇÃO CAIÇARA

    Escola da Juréia propõe convivência entre a mata e a comunidade local

     

     

    No meio da Mata Altlântica do litoral sul do estado de São Paulo, na Estação Ecológica Juréia Itatins (EEJI), foi criada a Escola Caiçara da Juréia. Idealizada por moradores e pela Associação de Jovens da Juréia (AJJ) a escola nasce da busca por garantir o direito à educação de crianças, jovens e adultos da região e evitar o abandono de seus locais de origem em busca de estudo e trabalho. Preservar a biodiversidade da mata e a cultura do povo caiçara é um dos desafios que movimentam o projeto pedagógico da escola.

    A idéia é oferecer à comunidade uma escola que, além dos conhecimentos valorizados pelo ensino formal, trabalhe com os saberes construídos pelas populações tradicionais da Juréia na estreita relação com a floresta, com rios e mares. Nesse sentido, a escola tem reunido moradores e ex-moradores para troca de saberes relacionados à pesca, agricultura, extrativismo, arte, culinária, cura, dança, jeito de falar, música e religião. As aulas de cestaria e folia, que aconteceram no segundo semestre de 2002, foram momentos destacados pela comunidade como importantes nesse processo.

     

     

    "O estabelecimento de parcerias da comunidade com pesquisadores da Unicamp e USP tem sido fundamental na viabilização do projeto e propiciado uma troca também com o conhecimento acadêmico", comenta o pesquisador Antonio Carlos Diegues. A sala de aula e a casa da professora, por exemplo, foram construídas com o apoio do Núcleo de Apoio a Pesquisa sobre Populações Humanas e Áreas Úmidas Brasileiras (NUPAUB) da USP, coordenado por Diegues. Atualmente, o pesquisador também investe no Centro de Cultura Caiçara, criado recentemente em Iguape, que oferecerá aos professores cursos que buscam recuperar as músicas, danças e jeitos de falar caiçara. "Promover o intercâmbio com outras escolas da região é uma maneira de garantir a sobrevivência do projeto", ressalta Diegues.

    As pesquisadoras em educação Alik Wunder, da Unicamp, e Luísa Alonso, da Unesp, têm colaborado com a construção da proposta pedagógica da escola e formação dos professores fazendo pontes com experiências de escolas diferenciadas como as comunitárias e indígenas. Já os pesquisadores da equipe do professor Virgílio Vianna, do Departamento de Ciências Florestais da USP, vêm buscando elaborar, com os moradores do interior e entorno da Juréia, um plano de manejo participativo de uso de recursos, como palmito, caixeta, árvores mortas, bromélias e guarandi.

    Os pesquisadores buscam alternativas para lidar com os conflitos que surgiram desde a criação da Estação Ecológica da Juréia-Itatins em 1987. O modelo adotado para a criação da reserva foi inspirado em modelos norte-americanos que preconizavam a ausência do ser humano na natureza. O que na época foi desconsiderado – a presença das comunidades na mata e seu entorno, suas culturas e conhecimentos sobre a natureza – é, atualmente, avaliado pelos pesquisadores como fundamental para que se efetive a preservação da biodiversidade dos remanescentes de Mata Atlântica do estado de São Paulo.

     

    Susana Dias