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    Ciência e Cultura

    versão impressa ISSN 0009-6725versão On-line ISSN 2317-6660

    Cienc. Cult. v.55 n.3 São Paulo jul./set. 2003

     

     

    Exposição

    HOMENAGEM A SANTOS DUMONT NO CENÁRIO DA AVIAÇÃO

     

    O mezanino do Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo, está ocupado por grandes painéis que compõem a mostra Alberto Santos Dumont: eu naveguei pelo ar, aberta em abril último e que deve visitar outros aeroportos do país durante o ano. São 86 fotos do final do século XIX e começo do século XX, quando a aviação estava sendo gestada por pioneiros como o brasileiro Santos Dumont, em Paris, na França, e os irmãos Wright, na Carolina do Norte, nos EUA. Antes do aeroporto, a exposição pôde ser vista no Centro Cultural da Justiça Federal, no Rio de Janeiro, e no Memorial da América Latina, em São Paulo.

    As imagens estão no livro editado pela Nova Fronteira – com o mesmo título da exposição – e em sua edição inglesa, recém-lançada sob o patrocínio da Embraer. São fotos restauradas digitalmente pelo designer gráfico Ricardo Tilkian, a partir de um trabalho de pesquisa iconográfica de João Luiz Musa, da Escola de Comunicação e Artes da USP, e de um levantamento sobre a historiografia do aviador brasileiro feito por Marcelo Breda Mourão, da Escola Politécnica da USP. Das 86 fotos recuperadas, 52 viraram painéis de 160 por 90 centímetros.

    "Quando começamos o trabalho de recuperação das imagens, trazidas por Ana Cecília, da Fundação Santos Dumont, percebemos que a história dele não estava bem contada", diz Musa. "Com o apoio do Museu Paulista e o acesso a originais de fotos organizadas pelo próprio Santos Dumont, por tipo de balão, descobrimos uma série de coisas, e decidimos colocá-las em um livro", completa.

    O imaginário dos brasileiros sempre lembrou um de seus representantes mais ilustres na história recente da humanidade – o mineiro Alberto Santos Dumont – como sendo o "pai da aviação". A demonstração pública feita por ele em 1906, em Paris, com a decolagem do seu 14-Bis, foi considerada por um bom tempo pelos europeus como o primeiro vôo da história. Atualmente, é consenso que o vôo do avião Flyer, realizado em segredo pelos norte-americanos Orville e Wilbur Wright, em 17 de dezembro de 1903, nos EUA, inaugurou a centenária aviação.

    MINEIRO EM PARIS Santos Dumont foi para a França em 1893, aos 22 anos, após herdar a fortuna que seu pai, um engenheiro e cafeicultor descendente de imigrantes franceses, havia lhe deixado. Antes de projetar seus primeiros inventos voadores, ele teve a experiência de voar em balões, como passageiro. O fascínio pelo sonho de dar asas ao homem levou Santos Dumont a projetar seus próprios balões. Nove das maquetes originais desses balões que ele construiu foram restauradas e também fazem parte da exposição em sua homenagem.

    O trabalho de reconstituição histórica, feito por João Luiz Musa, Marcelo Breda Mourão e Ricardo Tilkian, mostra que as primeiras tentativas que o homem fez para voar são análogas ao processo de aprendizado pelo qual passa uma criança quando ganha a sua primeira bicicleta: diversas fotos da exposição registram quedas espetaculares. A análise das fotos restauradas também revelou que a imagem atribuída oficialmente ao vôo do balão número 6 projetado por Santos Dumont, em volta da Torre Eiffel, em 1901, era na verdade um registro da tentativa de levar o balão número 5 ao ar, que terminou na queda do brasileiro.

    Após diversas quedas e vôos razoavelmente bem sucedidos em seus balões, Santos Dumont projetou aeroplanos como o Demoiselle, e seu famoso 14-Bis, que recebeu esse nome porque os vôos de teste eram feitos com o avião preso ao balão número 14 que ele projetou. Ao contrário dos irmãos Wright, que patenteavam todas as inovações introduzidas em cada novo aparelho, Santos Dumont permitiu que os diagramas de seus modelos fossem distribuídos livremente pela Europa. O inventor brasileiro fez seu último vôo como piloto em 1910 e faleceu no Guarujá, no litoral de São Paulo, em 1932.

    A exposição Eu naveguei pelo ar é gerida pela Fundação Santos Dumont, e deve excursionar pelo país, mas ainda não tem agenda prevista. "Ela recebeu esse nome porque é uma frase que Santos Dumont disse quando conseguiu, com seu balão número 3, resolver o sistema de controle do dirigível", explica Musa.

     

    Rodrigo Cunha