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    Ciência e Cultura

    versão impressa ISSN 0009-6725versão On-line ISSN 2317-6660

    Cienc. Cult. v.55 n.4 São Paulo out./dez. 2003

     

     

     

    PESQUISA

    Estudos sobre o tema da guerra também se fazem nas universidades brasileiras

     

    Enquanto a mídia faz de qualquer guerra um festival de informações, existem poucas pesquisas brasileiras preocupadas em analisar este fenômeno, dando a impressão de que a guerra como manchete nos jornais é muito mais interessante do que como objeto de estudo. Geraldo Lesbat Cavagnari Filho, fundador e pesquisador do Núcleo de Estudos Estratégicos (NEE), da Unicamp, acrescenta que os estudos sobre o tema ainda não estão nas universidades e, sim, concentrados nas escolas de altos estudos militares - como a Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, a Escola de Guerra Naval e a Escola de Comando e Estado-Maior da Aeronáutica.

    Segundo Carlos Eduardo de Melo Viegas da Silva, mestrando do Núcleo de Pesquisas Forças Armadas e Sociedade, da Universidade Federal de São Carlos (UFScar), os estudos sobre guerra no Brasil começam a crescer no meio acadêmico, apesar de ainda serem vistos de forma preconceituosa pelos acadêmicos, uma 'coisa de militar'.

     

     

    Apesar do preconceito no meio acadêmico, os pesquisadores chamam a atenção para a importância desses estudos "Tais estudos são insumos no campo dos estudos estratégicos, e, sobretudo, no campo do planejamento militar. Tanto para planejar como para conduzir uma guerra é necessário o conhecimento do fenômeno", diz Cavagnari. "Em termos de relações internacionais, vivemos um momento com muitos pontos de interrogação. O Brasil é, tradicionalmente, um país que vive um problema complicado pois tem um patrimônio riquíssimo e, como qualquer estado-nação constituído, tem a necessidade de defesa nacional.

    Cavagnari salienta que o fato da condução da guerra ser política e não militar, já justificaria a presença dos estudos sobre guerra nas universidades para que se tenha uma massa crítica de teóricos e administradores civis de defesa. Ele conta que os estudos estratégicos nas universidades antecedem a Primeira Guerra Mundial e que, ao final da Segunda Guerra, já estavam consolidados no âmbito universitário das grandes potências, como os EUA. Porém, o pesquisador considera que o poderio militar norte-americano não se deve, apenas, à tradição em estudos de guerra daquele país.

    A geopolítica americana, formulada na segunda metade do século XIX, foi fundamental para a construção de uma marinha potente, capaz de estar presente em todos os oceanos e na maioria dos mares, além de ser capaz de afastar ameaças à integridade do território continental dos EUA. Cavagnari salienta a importância da economia e tecnologia norte-americana, sem as quais as proposições geopolíticas dos estudos não se tornariam realidade. "Sem esses dois vetores, nenhuma proposição teórica é capaz de desenvolver poder militar". Segundo ele, uma boa estratégia não compensa a fraqueza militar, ainda mais se a potência mais forte estiver disposta a empregar todos os seus meios - inclusive de destruição em massa - para vencer.

    Viegas acredita que, além de estudos sobre teoria bélica, é importante que o Brasil empenhe esforços para dominar uma tecnologia aeroespacial e tecnologia de informação, além de aperfeiçoar o pessoal militar "É preciso que os soldados tenham um alto nível de instrução para serem capazes de usar tecnologia sofisticada".

    PESQUISA BRASILEIRA Um dos estudos que vêm sendo realizados no Brasil sobre teoria da guerra é o de Viegas, sob a orientação de João Roberto Martins. O objetivo da pesquisa é examinar as transformações que afetam a guerra no mundo contemporâneo "tanto em relação às suas características como fenômeno político como em relação às transformações em assuntos especificamente militares, que afetam as relações de poder entre os Estados", conta Viegas. Para a realização desse estudo, ele fará uma revisão das obras de autores importantes da área, como Clausewitz, Jomini, Martim van Creveld e John Keegan.

    "Como pretendemos discutir a postulação de Clausewitz que diz 'qualquer guerra será considerada um ato político', é preciso analisar as obras de outros pensadores, como o historiador John Keegan que nega por completo o paradigma político de Clausewitz", conta Viegas. "Esse trabalho, ao comparar as diferentes concepções sobre a teoria da guerra, tomando como referencial clássico Clausewitz, e os autores mais recentes que o negam ou procuram superá-lo, pretende contribuir para colocar em perspectiva alguns esquemas teóricos de reflexão sobre o tema", complementa.

     

     

    A pesquisa de Viegas é bastante pertinente no contexto mundial atual. Desde os acontecimentos do dia 11 de setembro de 2001 e da declaração de guerra ao "terrorismo", a partir da aliança formada ao redor dos EUA, tem - se falado sobre um "novo tipo de guerra" - como foi declarado pelo próprio presidente George Bush.

     

    Juliana Schober