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    Ciência e Cultura

    Print version ISSN 0009-6725On-line version ISSN 2317-6660

    Cienc. Cult. vol.55 no.4 São Paulo Oct./Dec. 2003

     

     

     

    TERRORISMO

    O 11 de setembro: globalização e diferenças culturais

     

    O terrorismo e o ódio à cultura ocidental – este último presente em algumas culturas orientais na atualidade – seriam uma das conseqüências da globalização. A afirmação é do filósofo francês Jean Baudrillard no artigo "The violence of the global", que é parte de seu livro mais recente Power inferno. Para o filósofo, o 11 de setembro foi uma resposta à humilhação imposta pela globalização às culturas singulares. Tais culturas não se ligariam aos movimentos antiglobalização, mas fazem parte de uma ordem simbólica diferente da ocidental. No sistema global, que engendrou uma cultura "indiferenciada e de baixa definição", elas estariam em uma posição em que não conseguem retribuir o que o ocidente lhes impõe . "O ódio das populações não-ocidentais não está no fato de que o Ocidente os usurpou de tudo e nunca ofereceu nada em troca; ao contrário, reage ao fato de que receberam tudo, mas não lhes foi permitido retribuir nada em troca", diz. Baudrillard explica que as trocas, no caso, não são comerciais, materiais, mas se referem a trocas simbólicas, interculturais.

    Partindo desse raciocínio, ele considera que o ataque contra o World Trade Center em Nova York foi também uma humilhação para o poder global e isso foi o pior que poderia acontecer a ele. "A guerra é a resposta a uma agressão, mas não a um desafio simbólico. Um desafio simbólico é aceito e devolvido quando o outro é humilhado de volta, em resposta", diz. As culturas singulares teriam sido humilhadas em primeiro lugar, quando não foi dada a elas a possibilidade de responder à troca simbólica, de oferecer algo à cultura global.

    Quando fala de poder global e da cultura globalizada, Baudrillard faz questão de distinguir os termos "global" e "universal". Para ele, o "universal" se relaciona com um ideal do Iluminismo, e desse ideal fazem parte os direitos humanos, a liberdade, a cultura e a democracia. "Em contraste, a globalização se relaciona com a tecnologia, com o mercado, com o turismo e com a informação". Ela seria um movimento em direção à homogeneização, à indistinção, embora crie uma fragmentação infinita, onde diferentes grupos continuam existindo, mas distinguem-se muito pouco entre si. Os movimentos antiglobalização, por exemplo, não seriam capazes de derrotar o poder global, embora tenham um impacto político importante, pois fazem parte do mesmo sistema.

     

    Rafael Evangelista