INTERCÂMBIO

Franceses integram centro de música com ciência e tecnologia

Compositores e cientistas franceses do Institut de Recherche e Coordination Acoustique/Musique (Ircam), de Paris, estiveram, em agosto último, realizando palestras em Campinas e São Paulo visando a troca de experiências com pesquisadores brasileiros sobre aplicações de ciência e tecnologia na música. Esta foi a primeira iniciativa do MusArtS (Musica Articulata Sciencia), instituto virtual que pretende agregar, com apoio e financiamento da Fapesp, as iniciativas multidisciplinares já em andamento nas universidades paulistas.

O coordenador do MusArtS, professor do Instituto de Artes da Unicamp e do curso de pós-graduação em comunicação e semiótica da PUC-SP, Sílvio Ferraz, considera que o evento estreita a relação com o instituto francês, abrindo a possibilidade de intercâmbio de brasileiros no Ircam, como pesquisadores visitantes ou colaboradores, por um período de dois meses a um ano. O interesse ocorre, principalmente, na área de humanidades e estudos relacionados à filosofia e à semiótica, em que os projetos no Ircam ainda são incipientes, mas o Brasil possui experiência. Nos casos em que franceses e brasileiros tenham projetos em andamento, acordos bilaterais poderão ser criados.

Embora a proposta inicial seja a de um instituto virtual, Ferraz disse que buscará meios para que tenha uma sede fixa. Ele explicou que, da mesma forma que a orquestra sinfônica paulista tem a Sala São Paulo, que serve não apenas para apresentações, mas é um espaço com salas menores para os ensaios dos vários instrumentos da orquestra, os músicos que usam a eletrônica precisam de um espaço fixo para ter seus equipamentos e poder reproduzir suas composições.

INSTRUMENTOS MUSICAIS O diretor científico do Ircam, Hugues Vinet, citou alguns projetos desenvolvidos pelos vários grupos de pesquisa. O grupo de acústica instrumental, por exemplo, é capaz de construir instrumentos virtuais, como o violino, cujo som foi reproduzido no evento que participou. O trabalho envolve, ainda, o estudo do funcionamento dos instrumentos musicais, pela elaboração de modelos acústicos que consideram as características de produção e propagação do som no instrumento, e têm como aplicações a síntese de novos sons e propostas de melhorias na técnica de construção dos instrumentos tradicionais.

Segundo o diretor pedagógico, Andrew Gerzso, os tópicos de pesquisa do Ircam envolvem, ainda, atividades da música tradicional, como composição, construção de instrumentos, interpretação, construção de espaços para apresentações e análise musical. Seu departamento, em particular, desenvolve programas para universitários, profissionais (para compositores), pré-profissionais e também para o público em geral. Os programas pré-profissionais, por exemplo, incluem atividades básicas de design de som e atividades que exploram a ligação entre matemática e música, entre física e música, para professores e estudantes do ensino médio.

Um novo projeto do Ircam, chamado pôle spectacle (espetáculo como pólo de atração) pretende, entre outras coisas, estimular artistas a comporem para uma mídia mista e aumentar a presença de música em outros contextos, como dança, teatro e vídeo. "A música é essencial: estamos presentes na música, não somos apenas um laboratório", conclui Gerzso.

Maria Carolina Aguiar