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    Ciência e Cultura

    versión impresa ISSN 0009-6725versión On-line ISSN 2317-6660

    Cienc. Cult. v.55 n.4 São Paulo oct./dic. 2003

     

    MIS

    RESGATE DA MEMÓRIA DA TV BRASILEIRA

     

     

    A análise da produção televisiva pode revelar algo da alma de uma sociedade, seus desejos, ambições, preferências de consumo, moda, hábitos entre outros aspectos de comportamento. Portanto, ao resgatar a história da televisão, de alguma forma, a própria memória social está sendo preservada. No Brasil, conhecer a programação de TV é conhecer o brasileiro, que é um agente que inspira a produção. Alguns exemplos de produções artísticas reforçam essa evidência, como o seriado semanal A grande família que se baseia no cotidiano de uma família típica brasileira, com seus agregados e suas brigas. O programa repete a fórmula de sucesso dos anos de 1970, quando era escrito pelo célebre dramaturgo Oduvaldo Vianna Filho. Se comparados, percebemos que o antigo evidencia uma época com mais ingenuidade e esperança, em confronto ao que mostram as séries atuais.

    Outro programa significativo na história da televisão é o Malu mulher, que nos anos de 1980 discutia temas arrojados para a época como emancipação feminina, orgasmo, aborto e conflitos entre mãe e filha. O conjunto dos episódios ajuda a entender a trajetória da mulher brasileira, sua inserção no mercado de trabalho, a aprovação da lei do divórcio, etc. O programa é, ao mesmo tempo, um documento sobre a própria televisão e sobre a história da mulher brasileira, daí a importância de ser conservado e ficar disponível ao público.

    Além de viabilizar um estudo mais sociológico do papel da televisão, preservar sua história permite a recuperação das fitas, que viabilizam, entre outras coisas, o remake. Esse é o papel que espera cumprir o Museu da Imagem e do Som (MIS)de São Paulo, ao focar sua área de atuação e expressão televisiva no inédito plano diretor recém-divulgado. O intuito é direcionar parte do projeto do museu para captação e preservação da memória da televisão brasileira, além de promover discussões e debates sobre esse meio de comunicação fundamental na composição da cultura brasileira desde o seu surgimento até os dias de hoje.

    O atual diretor do MIS, Amir Labaki, disse que encontrou receptividade por parte das emissoras de TV, para se tornarem parceiras do museu em sua nova linha de atuação: "A televisão brasileira descobriu a importância de sua memória e o museu pretende ser uma espécie de coleção-índice dos grandes marcos de sua produção, chamar a atenção para a importância dessa história e ser um catalisador de um debate mais maduro sobre a arte da TV".

    Parte da qualidade e diversidade desses acervos puderam ser conferidos na mostra "Televisão Paulista: 1965- 2000" que o museu exibiu em sua reabertura oficial, em agosto. Na mostra, foram exibidos programas como o Aqui Agora (SBT-1991), TV Mulher (Globo-1981), Beto Rockefeller (Tupi-1968), Vila Sésamo (Globo/Cultura-1975) entre outras produções. Para ampliar o acervo, a idéia é pedir a doação dos arquivos das emissoras, o que parece ser muito conveniente para os dois lados.

    Parte desses acervos está irremediavelmente perdida, pois já sofreram com incêndios, inundações, além da reutilização de fitas já gravadas como meio de economizar. O incentivo para essa iniciativa é mais raro porque prevalece a concepção de que televisão é uma manifestação cultural de segunda linha, diz Labaki.

     

    Patrícia Mariuzzo