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    Ciência e Cultura

    Print version ISSN 0009-6725On-line version ISSN 2317-6660

    Cienc. Cult. vol.55 no.4 São Paulo Oct./Dec. 2003

     

     

    Vídeo

    MOSTRA REÚNE PRODUÇÕES DESDE 1973

     

    A história dos 30 anos da produção de vídeo no Brasil começou a ser contada na exposição paulista, inaugurada em setembro e em viagem por outras cidades nos próximos meses. A mostra foi organizada pelo Itaú Cultural a partir de 80 trabalhos de videoartistas, artistas plásticos e cineastas, que encontraram nesse meio um sistema mais rápido e barato de divulgar suas idéias e chegaram a alcançar, em suas produções, níveis de excelência reconhecidos internacionalmente.

    O evento Made in Brasil - três décadas do vídeo brasileiro inclui o lançamento de um livro homônimo com ensaios e depoimentos de diversos expoentes da área sobre aspectos relevantes do gênero. O livro foi organizado por Arlindo Machado, curador da mostra e ele próprio um dos precursores da produção em vídeo. O nome da mostra homenageia a produção de Letícia Parente que, em Marca registrada, de 1974, borda com agulha e linha, na sola de seu pé, a frase Made in Brasil.

    Para Machado, o tema é pouco aprofundado no país e, apesar de muitas pessoas acreditarem que o vídeo morreu, está cada vez mais presente nas produções atuais. Surgiu como meio marginal, exibido em sessões quase clandestinas e hoje está disseminado em várias mídias. "Na internet encontram-se vários vídeos; o que chamamos de cinema digital é, na verdade, vídeo, assim como os projetos de imagem e som que os VJs realizam e as video-instalações que já superam o número de quadros e esculturas nas bienais", diz ele.

    A classificação usual das produções as distribui em três gerações: a dos pioneiros, dos produtores independentes e os atuais. O curador da mostra identifica nas produções atuais, porém, características dos pioneiros mescladas com a dos produtores independentes. Assim, na divisão que elaborou para a mostra, preferiu reunir os vídeos em torno de temas e também do tipo de linguagem predominantes e não por gerações.

    Os trabalhos foram divididos em dez sessões, das quais cinco são apresentadas na mostra. Para cada um desses temas, Machado escolheu um conjunto de trabalhos. Ele comenta que a primeira, que recebeu o nome de O corpo e a câmera, representa o confronto entre a câmera e o artista; outra é Desconstrução do Brasil, na qual se situam os trabalhos de cunho documental, onde a questão social e política estão presentes com um viés diferente daquele apresentado pelo cinema tradicional; outra é The bit generation, que reúne os trabalhos que contam com mais elementos da computação, presentes nas produções atuais.

     

     

    Fernando Cochiarale conta que sua última experiência como artista plástico foi o vídeo Chuva, de 1980. Hoje, como crítico de arte e curador do Museu de Arte Moderna (MAM) do Rio, lembra como foi produzido esse curta de pouco menos de um minuto. "Era um monitor de TV ligado, mas fora do ar, para fazer aquele chuvisco. Eu recortei a silhueta de vários bonequinhos de guarda-chuva, preguei-os numa ripa de uns três metros, botei duas cadeiras em frente do televisor, de forma que a ripa ficou apoiada nessas duas cadeiras; eu puxava a ripa de um lado, e a Letícia Parente puxava do outro, de modo que os bonequinhos passavam na frente desse fundo da televisão. Era só isso". Cocchiarale participou das primeiras experiências feitas no Brasil em 1974. Seu primeiro vídeo foi You are time (Você é tempo), criado para uma exposição nos EUA.

    Outro realizador que tem uma produção na mostra, Caco Pereira de Souza dirigiu, com Kiko Goifman, o vídeo Tereza, em 1992, o mais premiado no ano seguinte. Para ele, é muito bom recuperar essa história em livro e na mostra, pois as pessoas conhecem pouco do que já foi produzido e têm dificuldade de acesso a essa produção. Souza acrescenta que, na época, o problema de distribuição do vídeo era muito mais sério do que hoje, quando se conta com o Canal Brasil, a TV Cultura e o canal do Ministério da Cultura, exibindo algumas dessas produções.

    Souza, assim como Fernando Meirelles e Sandra Kogut, também participantes da mostra, está enveredando para o cinema, com o longa-metragem Quatrocentos por um, ficção baseada no livro homônimo de William Lima da Silva sobre a formação do Comando Vermelho. Para ele, a tecnologia digital é uma alternativa mais barata para as pessoas produzirem cinema. Essa é razão de vários filmes feitos para cinema, como o Edifício Master, de Eduardo Coutinho, serem realizados em vídeo e depois transferidos para película.

    PRODUÇÃO DE MESTRADO O vídeo Tereza faz parte do trabalho de mestrado de Kiko Goifman, Valetes em slow motion, desenvolvido no Departamento de Multimeios da Unicamp e tem como idéia central mostrar a relação de tempo e espaço no cotidiano de um presídio, além da convivência entre os presos e os seus códigos. Os diretores se valeram da manipulação da imagem para reforçar as declarações e a própria situação em que vivem os presos. Usaram, por exemplo, a sobreposição de imagens para representar a simultaneidade dos acontecimentos dentro de um presídio.

    A seleção completa de Machado está disponível no Instituto Itaú Cultural, também responsável pela edição do livro. Os vídeos podem ser solicitados por quem quiser exibi-los. Em outubro, a mostra estará em Recife, na Fundação Joaquim Nabuco, em novembro, em Fortaleza, no Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura e, em dezembro, segue para Belo Horizonte, mas sem local definido.

     

    Simone Pallone