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    Ciência e Cultura

    Print version ISSN 0009-6725On-line version ISSN 2317-6660

    Cienc. Cult. vol.56 no.1 São Paulo Jan./Mar. 2004

     

     

     

     

    NEUROARTE

    Onde a ciência se encontra com a arte

     

    O gênio renascentista Leonardo Da Vinci (1452-1519) é um dos inspiradores no trabalho dos integrantes da Oficina Da Vinci, coordenada pelo pesquisador Norberto Garcia-Cairasco, do Laboratório de Neurofisiologia e Neuroetologia Experimental (LNNE) da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto de São Paulo.

    A neuroarte é uma invenção recente que congrega uma série de expressões associadas a artes plásticas e neurociências. O termo expressa fenômenos mistos nas duas áreas, que podem ser fusões, influências de ambas as partes ou, inclusive, material artístico produzido por indivíduos que sofrem de problemas neurológicos ou psiquiátricos, explica Garcia-Cairasco.

    O pesquisador rejeita a idéia de que existe incompatibilidade entre os dois campos de invenções humanas. "Existem muitas convergências e coincidências na expressão de ambas, o que faz com que seja extremamente simples o trânsito de uma para outra". Não é por acaso que ele tem grande admiração por Da Vinci, uma das expressões máximas de desenvolvimento aliado entre atividades científicas e artísticas na história da humanidade.

    No universo da neuroarte é possível buscar uma explicação neurológica para a arte, e também criar um tipo de arte que se apropria de elementos gráficos das neurociências. Muitas questões podem ser abordadas: como o homem viu seu próprio encéfalo por milhões de anos, e como expressou isso nas artes visuais; como se processa a informação estética; será que o cérebro/encéfalo do artista plástico é diferente dos outros? Garcia-Cairasco considera prioritário que "no campo de trabalho e no cotidiano do laboratório que dirijo, as pessoas tenham pensamentos disciplinados para a estética, incorporados a produções científicas".

    "Com o avanço do conhecimento em neuroanatomia, com o auxílio dos detalhamentos estruturais advindos das dissecções e obras dos grandes mestres das Artes Visuais na Renascença - Michelangelo (1475-1564) e Da Vinci (1452-1519) - e da Medicina - Vesalius (1514-1564) e Albinus (1697-1770) - a possibilidade de correlacionar estrutura e função foi aumentada. Dessa maneira, grandes artistas incursionaram em tarefas ditas científicas", conta.

    Em 1998, foi inaugurada a Neuroscience Art Gallery na revista eletrônica Mente e Cérebro da Unicamp, com 20 obras digitais do pesquisador. Garcia-Cairasco relata, ainda, que, desde 2002, incentiva seus alunos a percorrerem o caminho da neuroarte na Oficina Da Vinci. "Eles mudam sua rotina de trabalho científico para se dedicarem à arte, aprendem neuroanatomia com o desenho e a exploração de ferramentas clássicas e digitais de desenho". Além das artes visuais, ele salienta que a neuroarte pode ser desenvolvida em outros campos, como a música e a produção literária. Em 2003, o laboratório realizou, numa experiência pioneira no Brasil e no exterior, o II Simpósio do LNNE sobre o tema neuroarte. Este evento reuniu quase 140 pessoas e teve expostos 28 trabalhos, todos gráficos, digitalizados, produto de interações entre cientistas e artistas plásticos. A programação de palestras e todos os trabalhos estão na internet: http://rfi.fmrp.usp.br/~neuro-arte.

    Essa interação entre cientistas e artistas é uma tendência mundial. "Desde 1997, a Wellcome Trust Foundation apóia o SciArt, que financia projetos entre cientistas e artistas, não apenas no campo das neurociências". Mais recentemente, no Science Museum, também em Londres, aconteceu a exposição Head on: art with the brain in mind (Cara a cara: a arte do cérebro) que incluía a exibição de trabalhos encomendados (colaboração entre artistas contemporâneos e neurocientistas), trabalhos históricos sobre a mente e o cérebro e trabalhos contemporâneos sobre neurociências.