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    Ciência e Cultura

    versão impressa ISSN 0009-6725versão On-line ISSN 2317-6660

    Cienc. Cult. v.56 n.1 São Paulo jan./mar. 2004

     

    Crítica

    MÍDIA PARA CRIANÇA E ADOLESCENTE

     

    O aparelho de televisão está na sala, no quarto, na cozinha de pelo menos 92% dos lares brasileiros, segundo dados do Ibope. É, portanto, um mobiliário doméstico e social, pois também anima bares e locais públicos populares. Se a criança é educada por essa mídia – já que passa diante dela em média 3,5 horas diárias – e o cidadão reage a suas provocações e a sua forma de representar o mundo, a melhora na qualidade da programação se impõe como uma obrigação ética.

    Em estudo feito pela Unesco, o tempo que as crianças gastam assistindo a televisão é, pelo menos, 50% maior que o tempo dedicado a qualquer outra atividade do cotidiano, como fazer a lição de casa, ajudar à família, brincar, ficar com os amigos e ler. A programação transmitida pela TV acaba tornando-se um ponto de referência na organização da família, está sempre à disposição, sem exigir nada em troca, alimentando o imaginário infantil com todo tipo de fantasia.

    A pesquisa brasileira sobre a influência da mídia eletrônica na formação de crianças e adolescentes, no entanto, está bastante focada nas áreas de educação e psicologia, e acaba por pouco contribuir como elemento de interferência direta na qualidade da produção. "Em geral, é desligada dessas questões diretamente ligadas à programação e tem um tipo de recorte viciado do olhar adulto e da interpretação acadêmica", considera Beth Carmona, presidente da TVE-Rede Brasil e da Midiativa - organização não governamental que se dedica ao debate sobre a qualidade da mídia voltada ao público infanto-juvenil. A orientação para os produtores e programadores de TV vem, em geral, da pesquisa de mercado, quantitativa e qualitativa, que mede a aceitação do público.

    "No exterior, a pesquisa acadêmica está mais focada nas produções e torna possível, assim, seu aproveitamento por quem trabalha diretamente com produção artística", diz Beth. É o caso dos Estados Unidos, que têm pesquisas relevantes nas universidades de Santa Bárbara (Califórnia) e Austin (Texas); da Alemanha, que é tradicional nesse tipo de pesquisa e onde sempre se pensou com bastante cuidado na TV, encarada como um fator cultural muito forte. Beth destaca, ainda, além da BBC britânica que tem uma produção reconhecida mundialmente, também outros países como Canadá, Austrália, Grécia, Filipinas como lugares onde algumas emissoras estatais têm projetos de qualidade para os programas voltados ao público infantil.

    PRODUÇÃO NACIONAL No Brasil, existem algumas experiências bem-sucedidas - como as séries Castelo Rá-tim-bum, Cocoricó, O mundo da Lua da TV Cultura, entre as principais – mas foram produções que sofreram descontinuidade. Quanto à pesquisa de recepção da criança frente aos programas de televisão e outras mídias, o volume de trabalhos e projetos é ainda bastante incipiente nas universidades, considera Helena Tassara, coordenadora-adjunta do Lapic-Laboratório de Pesquisas sobre Infância, Imaginário e Comunicação, da Ecausp. "Existem algumas experiências relevantes nas universidades federais de Brasília, do Ceará e projetos do laboratório da USP, que foi pioneiro na área, criado em 1994. No restante, os dados de que se dispõem são obtidos pela pesquisa mercadológica, que orienta as TVs abertas e fechadas, mas que não indicam produção de conhecimento", acrescenta Helena.

     

     

    FÓRUM INTERNACIONAL Um passo adiante nesse debate foi o seminário TVQ–Criança, Adolescente e Mídia, realizado pelo Sesc, em dezembro último, na capital paulista. Especialistas envolvidos diretamente com a produção e o estudo da área no Brasil e no exterior debateram o tema, num evento preparatório para o Summit 2004- 4ª Cúpula Mundial de Mídia para Crianças e Adolescentes, a ser realizado de 19 a 23 de abril, no Rio de Janeiro.

    Esse é o mais importante fórum mundial sobre mídia de qualidade para o público infanto-juvenil e será realizado, pela primeira vez, na América Latina. Começou em 1995 na Austrália e, a cada três anos, reúne profissionais da indústria audiovisual, pesquisadores e representantes da sociedade civil e do governo de dezenas de países. A reunião vai discutir produção e comercialização de programas infantis, visão dos profissionais de TV sobre a criança e o adolescente, os direitos das crianças e a responsabilidade de governos e emissoras, as fronteiras morais e sociais da TV para esse público, as formas de financiamento de programas infantis, os recursos de organizações não-governamentais, co-produção, merchandising e publicidade. Pretende, ainda, aprofundar o entendimento e avaliação da influência do conteúdo das novas mídias com tecnologia de TV digital e por satélite, e os meios digitais interativos da internet, os CD-ROMs e web sites.

     

    Wanda Jorge