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    Ciência e Cultura

    versão impressa ISSN 0009-6725versão On-line ISSN 2317-6660

    Cienc. Cult. v.56 n.1 São Paulo jan./mar. 2004

     

    Restauração

    POLÊMICA NOS 500 ANOS DE DAVID DE MICHELANGELO

     

    Uma das esculturas mais célebres do Renascimento, o David, de Michelangelo, está sendo restaurada para comemorar seus 500 anos em meio a muita polêmica sobre o melhor método a ser empregado, apesar de 11 anos de estudos e discussões. A restauradora Agnese Parronchi, responsável inicial pela limpeza, pretendia utilizar escovas de pêlo e borrachas, mas demitiu-se em abril passado por divergências no grupo em relação ao seu método de trabalho. A limpeza reiniciou-se em setembro, sob responsabilidade de outra restauradora italiana, Cinzia Parnigoni, que agora limpa a escultura com compressas de água destilada.

    Nenhum processo de restauração é absolutamente inofensivo e cabe ao restaurador, após exames minuciosos do estado da obra e considerando custos e benefícios dos vários métodos possíveis, optar pelo método que cause menos danos, avalia Fátima Faria Gomes, especialista em museologia, conservadora e restauradora de bens culturais em São Paulo. No caso do David, Fátima diz que os dois métodos propostos – limpeza a seco e limpeza úmida - têm prós e contras e seria muito complicado avaliar o melhor à distância, sem ver a obra.

     

     

    Por ter ficado exposta ao ar livre durante séculos, sofrendo a ação de chuva, poluição, excremento de aves, entre outras agressões, além do "banho" de ácido clorídrico que recebeu em sua última limpeza, em 1843, a superfície da obra esculpida por Michelangelo se fragilizou. Em situações semelhantes, Fátima considera que a utilização de escovas pode causar um desgaste ainda maior ao mármore, além de empurrar a sujeira, aderida à cera aplicada por Michelangelo na obra, para dentro dos poros do material. Como antes da limpeza úmida com água destilada, pretende-se utilizar white spirit (água raz mineral) para remover a camada de cera, tal ação pode expor ainda mais a superfície do mármore, considera a museóloga.

    "Nenhuma limpeza dará à obra o aspecto de quando foi realizada pelo artista. O tempo e a história já deixaram suas marcas e nada irá apagar isso e nós temos o dever de respeitar essa situação. Como restauradores, devemos ter consciência de que o nosso papel é apenas o de permitir, com interferências mínimas, que a integridade e a leitura da obra sejam mantidas, não só para o deleite, mas para a pesquisa e o conhecimento de nossa história, em todos os sentidos", conclui a restauradora brasileira.

    MARCO DE FLORENÇA A estátua de David ficou pronta em 1504 e esteve exposta em frente ao Palazzo Vecchio (Palácio Velho), na Piazza della Signoria (Praça da Senhoria), em Florença, até 1873, quando foi transferida para o interior da Galleria dell’Accademia (Galeria da Academia), para protegê-la de mais desgastes externos. Desde 1910, uma réplica marca a entrada do palácio, e as proporções humanas quase perfeitas do original podem ser admiradas na Accademia, que recebe cerca de 1,2 milhão de visitantes a cada ano.

    Desde a criação inspirada de Michelangelo, a escultura sofreu vários ataques: além dos protestos e tentativas de cobri-la com uma tanga, há 500 anos, os florentinos receberam-na com pedradas e, em outra ocasião, um banco foi arremessado contra ela por desordeiros.

     

    Maria Carolina Aguiar