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    Ciência e Cultura

    Print version ISSN 0009-6725On-line version ISSN 2317-6660

    Cienc. Cult. vol.56 no.2 São Paulo Apr./June 2004

     

     

     

    CAMPUS

    Universidade incorpora soluções da cidade para seus problemas

     

    A expansão das universidades no Brasil tem obrigado uma grande parcela delas a rever seus planos diretores e reelaborar a forma de ocupação de seu espaço. Nesse processo, soluções encontradas nas cidades acabam incorporadas nos campi. É o caso, por exemplo, de como encarar a questão da segurança do patrimônio e das pessoas dentro do espaço acadêmico: muros e cercas isolando os campi universitários, guaritas, câmeras de vigilância, e outros equipamentos eletrônicos de controle e identificação.

    Para o prefeito da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), o engenheiro civil Carlos Alberto Bandeira Guimarães, apesar de não terem sido feitas reformulações do plano diretor original da década de 1970, a universidade está agora elaborando um plano de uso e ocupação do solo e foram feitos grandes investimentos em segurança, como o aumento de 50% de postos de vigilância e novos veículos. "A idéia agora é partir para o monitoramento eletrônico. Na reforma do ciclo básico [parte central da universidade], incluiremos a instalação de câmeras de controle, mas a idéia é ter isso na universidade toda", diz Guimarães. Segundo ele, atualmente existem câmeras instaladas em locais específicos, que os próprios institutos coordenam, mas não integram um projeto geral do campus.

     

     

    Já a cerca colocada no entorno da universidade foi uma estratégia para aumentar a segurança patrimonial e das pessoas. "Agora estamos instalando uma central de informações próximo a uma das entradas. Nesse trecho, próximo à Faculdade de Engenharia de Alimentos, a cerca será retirada, pois teremos vigilância constante. Depois faremos uma avaliação do resto. Isso vai ajudar a quebrar o impacto de isolamento e de segregação que a cerca criou", diz ele.

    Para o diretor do Instituto de Geociências da Unicamp, Archimedes Perez Filho, o espaço da universidade é público, mas em função de mudanças sociais, como o aumento da violência, foi necessário delimitar sua área física. "Mas isso não é algo que se dê apenas nas universidades. A população se fecha em condomínios, shoppings cercados com guaritas, exatamente para se prevenir. Essa não é a situação ideal, mas é conseqüência de uma situação sócio-econômica", diz ele.

    O campus da Universidade de São Paulo (USP), assim como o da Unicamp, também é cercado e tem o acesso controlado por guaritas. "A USP fecha seus portões após 23horas, mas não é proibido que as pessoas ingressem, desde que justifiquem sua entrada. Fazemos um controle como num condomínio, por exemplo", diz Wanderlei Messias da Costa, prefeito do campus na capital paulista. Para ele, a cidade universitária não deve ser aberta de modo indisciplinado e indiscriminado. "Acho que são necessárias regras, porque, no passado, pagamos um preço muito alto pela abertura do campus sem controle", argumenta Costa.

    Já na Universidade Federal de São Carlos(UFSCar), no interior paulista, existem cercas e guaritas, mas uma parte do terreno da universidade fica fora das cercas, a chamada Pista da Saúde. Ricardo Siloto da Silva, arquiteto e responsável pela pró-reitoria de administração e pelo planejamento urbano do campus, explica: "Criamos ali um parque totalmente aberto, uma área grande para exercícios, corridas, com estações de ginástica. É um local bastante freqüentado e totalmente aberto, a qualquer hora". Segundo ele, apesar da existência de cercas e guaritas na UFSCar, a recente reformulação do plano diretor não incorporou elementos muito marcantes relacionados a segurança. De acordo com Silva, a questão da segurança permeia toda a sociedade, mas é algo mais impactante em outros lugares.

    ESPAÇO PRIVADO O uso privado do espaço das universidades públicas paulistas também provoca polêmica. Na USP discutiu-se, em meados de janeiro deste ano, a ocupação de áreas da universidade por tendas, com slogans de empresas e academias, que ofereciam massagem, frutas, sucos e águas para os atletas das academias. "Eu vim ao campus num sábado e percebi que um espaço público, que deveria ser franqueado a toda a população, estava praticamente todo tomado por esses atletas filiados a academias de fitness, atletas profissionais, com tendas patrocinadas por empresas", relata o prefeito do campus.

    Ele não concordou com este tipo de ocupação, principalmente, porque as entidades esportivas sublocavam o espaço para academias. "Como cientista social, vejo uma tendência mundial de se privatizar o lazer. É a chamada indústria do lazer. Sou frontalmente contrário a haver cobrança para ter direito a isso ou aquilo nos espaços públicos ou induzir as pessoas ao consumo, sobretudo em universidade pública", argumenta.

    Para o prefeito do campus de Campinas, da Unicamp, não há problema em que tendas para venda e promoção de automóveis, ou produtos de empresas que apoiaram eventos universitários, ocupem temporariamente espaço dentro da universidade. "É uma contrapartida que as empresas recebem em função do apoio que prestaram. Assim, algumas empresas têm estandes numa certa área da Unicamp, durante um período". Guimarães acrescenta que, apesar de existirem opositores à sua concepção de uso do espaço público, ele está convencido de que é uma boa parceria. "É apenas uma forma de darmos uma contrapartida a um parceiro. Não estamos alugando o espaço para arrecadar o dinheiro, nem ganhando dinheiro com isso", diz ele.

     

     

    NOVAS IDÉIAS Além de incorporar soluções urbanas testadas fora do campus, existem algumas universidade pensando em novas saídas para seus problemas. Na UFSCar, após o esgotamento do plano diretor físico inicial, de 1978, uma nova configuração começou a ser elaborada no Plano de Desenvolvimento Institucional de 2002. De acordo com Ricardo Siloto da Silva, o grande diferencial no novo projeto é não se restringir à parte física buscando, nas atividades fins da universidade, os elementos para nortear as modificações necessárias.

    Um exemplo é a adoção do urbanismo bioclimático, que planeja a ocupação do espaço e as construções visando o conforto dos usuários e sem a dependência de equipamentos, como ar condicionado, além de menor uso possível de luz artificial. Uma outra modificação recém-concluída na UFSCar está na integração no espaço e na extensão universitária, da área de saúde. Apesar de não abrigar um hospital-escola, a universidade oferece serviços nas áreas de fisioterapia, enfermagem, terapia ocupacional e psicologia que, até o Plano de Desenvolvimento Institucional, funcionavam de forma isolada.

     

    Marta Kanashiro