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    Ciência e Cultura

    Print version ISSN 0009-6725On-line version ISSN 2317-6660

    Cienc. Cult. vol.56 no.2 São Paulo Apr./June 2004

     

     

    LUIS DOLHNIKOFF

     

    RÉQUIEM PARA UM CÃO MORTO

     

    não choro mais a morte do meu cão
    agora transformada em decassílabo

    mas não por ter-se transformado em ritmo
    que oscila entre o heróico e o imperfeito
    tal ele próprio entre o imperfeito e o heróico

    porém porque a perda é já uma presença
    mais fiel, mais companheira que os cães

    (que jamais abandona o novo dono
    sombra da sombra que jaz a seus pés

    mas cujo corpo, morto, habita a alma
    como um corpo estranho entranhando um corpo
    aviva a carne morta em carne viva)

    e porque a perda já é uma presença
    não há mais por que chorar essa perda

    (porque chorar é para encher de lágrimas
    o vazio que as lágrimas esvaziam
    ao transbordar-se do vazio do olhar)

     

    EPITÁFIO

     

    tão efêmera a consciência
    da extinção
    da consciência
    de ser efêmero
    que quase não deu tempo de doer

     

     

    Luis Dolhnikoff é autor, entre outros, de Microcosmo (poemas, Olavobrás, 1991) e da trilogia poética Consubstanciações I (Menção Honrosa no "Prêmio Redescoberta da Literatura Brasileira" de 2001 da revista literária Cult). Finaliza atualmente o livro de poemas Contra Deus e o livro-ensaio A alternativa da ilusão (breve história do irracionalismo contemporâneo). Os poemas aqui reproduzidos são parte de Sobre Sísifo, a sair pela editora Ateliê.