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    Ciência e Cultura

    versión impresa ISSN 0009-6725versión On-line ISSN 2317-6660

    Cienc. Cult. v.56 n.3 São Paulo jul./sep. 2004

     

     

     

    POLÍTICA CIENTÍFICA

    Institutos de pesquisa buscam autonomia para crescer

     

    Os principais institutos paulistas de pesquisa, com suas sedes coloniais em áreas rurais do final do século XIX, nasceram com a missão de impulsionar a economia agrícola e sanar problemas de saúde pública. Foram importantes instrumentos na industrialização e modernização do país. Na atualidade, são 16, espalhados por todo o estado. Na última década, porém, muitos institutos sofreram um processo de degradação e, todos, foram obrigados a reinventar a forma de gerir os descontínuos recursos vindos do governo estadual, via secretarias, e que são freqüentemente realocados, cortados ou contingenciados.

    O Instituto Butantan, por exemplo, maior produtor de vacinas e soros do país, redefiniu o financiamento de suas pesquisas básicas, determinando, já no final da década de 1980, que seus pesquisadores buscassem recursos junto a agências de fomento, como fazem as universidades públicas. Ana Moura da Silva, diretora de desenvolvimento científico do Butantan, afirma que, de início, a medida causou consternação, mas foi absorvida e acabou incentivando a melhora na qualidade das pesquisas e da formação profissional. Hoje, dos 111 pesquisadores contratados no instituto, 73 são doutores.

     

     

    Reformulação semelhante viveu o Instituto Biológico, que buscou parcerias com a iniciativa privada e agências de fomento à pesquisa para fortalecer a infra-estrutura e a equipe, que conta hoje 120 pesquisadores e outros 300 bolsistas (entre pós-graduandos e estagiários). Antônio Batista Filho, diretor da instituição, atribui parte dessas implementações à melhora de acesso às verbas da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Hoje, as agências são a principal fonte externa de recursos para pesquisa, contribuindo com mais de 10% do orçamento do Biológico e chegando próximo a 20 % no Butantan.

    Outra estratégia, adotada igualmente pelos dois institutos, foi aproximar a pesquisa básica da aplicada, por meio de grupos de trabalhos conjuntos para definir prioridades, otimizar o uso de equipamentos caros e promover intercâmbios acadêmicos. Pesquisadores são credenciados para dar aulas nas universidades e orientar trabalhos dentro de suas instituições.

    PESQUISA DA USP Para diagnosticar as mudanças vividas por profissionais de institutos de pesquisa, Gildo Magalhães dos Santos Filho, do Departamento de História da Universidade de São Paulo (USP), analisou depoimentos de 32 pesquisadores da área de biociências, com experiência média de 22 anos de trabalho, em cinco tradicionais institutos paulistas de pesquisa: Butantan (de 1901), Biológico (de 1927), Botânico (de 1938), da Pesca (de 1969) e de Economia Agrícola (de 1943).

    Entre as dificuldades listadas pelos entrevistados, que dificultam o bom desempenho do trabalho, estão: excessiva burocracia; falta de recursos públicos e verbas para comprar equipamentos, material de pesquisa, serviços de manutenção, material de consumo e serviços prestados por terceiros; perda da qualificação profissional; falta de contratações de técnicos de nível médio.

    Otávio Mercadante, que dirige o Butantan, reconhece os obstáculos colocados pela burocracia, mas acredita que algumas práticas adotadas podem otimizar a tomada de decisões. Entre elas, ele menciona a criação da Fundação Butantan, em 1989, que passou a administrar os recursos provenientes da venda de produtos da instituição, antes entregues para o governo estadual. Criou-se, também, o Núcleo de Gestão Estratégica com representantes da administração da fundação e do instituto, assim como diretores de cada divisão, responsáveis por otimizar a aplicação de recursos e definir estratégias.

    NOVAS CONTRATAÇÕES No final do ano passado, o governo paulista autorizou a contratação de 360 pesquisadores para dar novo fôlego aos institutos de pesquisa, depois de quase uma década sem mudanças no quadro. Ficou faltando, porém, concurso público para contratar técnicos de ensino médio.

    Os pesquisadores ouvidos no estudo realizado na USP enfatizam, também, a necessidade de melhorar as condições de trabalho. Quando a carreira de pesquisador foi criada, em 1977, possuía status semelhante ao de professor universitário. Desde então, seus salários sofreram defasagem superior a 50% em relação aos do professor universitário com a mesma formação.

    O pesquisador Gildo Magalhães ressalta, porém, que nas universidades a atividade de docência fica em desvantagem em relação à pesquisa: "os profissionais são cada vez mais cobrados a publicar suas pesquisas científicas, como forma de maior prestígio profissional; muitas turmas sofrem com a atuação de professores que, então, sequer se dão ao trabalho de preparar as aulas ou as delegam para seus alunos de pós-graduação, decaindo a qualidade geral do ensino". O diretor do Butantan acredita que "a situação está ruim para todos", mas destaca que a autonomia universitária conquistada pelas universidades estaduais permitiu melhorar sua política salarial.

    Na opinião do historiador da USP, as entrevistas permitem concluir que muitos pesquisadores mantêm-se na profissão por idealismo ou falta de alternativas. Uma das saídas sugeridas por ele seria envolver a sociedade e a própria comunidade científica na luta pela manutenção da qualidade dessas instituições. "Acredito que os institutos de pesquisa terão que ser competentes para criar oportunidades a cada nova ameaça", prevê Batista.

     

    Germana Barata