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    Ciência e Cultura

    versión impresa ISSN 0009-6725versión On-line ISSN 2317-6660

    Cienc. Cult. v.56 n.3 São Paulo jul./sep. 2004

     

     

     

    MEDICAMENTO

    Superdose reduz morte cerebral em pacientes em coma

     

    O uso de uma dose aumentada de manitol, droga bastante conhecida, de baixo custo e largo uso nas emergências médicas, pode representar surpreendente avanço na recuperação de pacientes em coma. É o que demonstra a pesquisa coordenada pelo neurocirurgião Júlio Cruz, professor da Universidade Federal Paulista (Unifesp) e presidente da Central Internacional de Neuro-Emergências: com 100% dos pacientes selecionados entre a vida e a morte, apenas 20% faleceram. "A experiência é inédita no Brasil envolvendo emergências neurocirúrgicas e a única com sucesso no cenário internacional, realizada com humanos, pois as pesquisas publicadas até agora só tinham funcionado em animais de laboratório", afirma Cruz.

    Seu trabalho iniciou-se em 1985, nos Estados Unidos, e foi ampliado por uma equipe internacional de pesquisadores no período de 1997 a 2001. Prosseguiu no Brasil envolvendo um grupo de 69 pacientes nas mesmas condições de risco de morte tratados com a dosagem convencional do medicamento e outros 72 pacientes com a dosagem aumentada, além de um protocolo de procedimentos de emergência, igual nos dois grupos.

    Há alguns anos, sobreviviam apenas 20% dos pacientes em estado de coma; com a aplicação otimizada do manitol (uma dose de 500ml em adulto) ainda na fase de pronto-atendimento, o índice de sobrevivência subiu para 76%.

    Segundo o especialista, o ganho com a aplicação da alta dose do manitol ocorre porque o medicamento diminui a pressão intracraniana, aumenta a oxigenação cerebral e o fluxo sanguíneo, revertendo as lesões no tronco cerebral e evitando que o paciente caminhe rápido para a morte cerebral. Cruz afirma que o uso no manitol é prática rotineira nas UTIs, mas a dosagem usual é quatro vezes menor. A adoção do medicamento já no PS, antes mesmo de se fazer qualquer tipo de exame, evita o tempo de espera de um paciente até dar entrada na UTI. "Quanto mais cedo o doente sair do coma, melhor será sua recuperação e menor o risco de ficar com seqüelas", avalia Cruz.

    A investigação científica de Cruz começou nos Estados Unidos, em 1985, quando ele trabalhou nos maiores centros internacionais dentro de sua especialidade. Passou 11 anos na Universidade da Pensilvânia, em Filadélfia, e outros dois em Houston, no Texas. Numa primeira fase, Cruz pesquisou o uso do manitol na UTI, com um sistema de monitoramento computadorizado, desenvolvido pela indústria a partir de sua pesquisa. Em seguida, o trabalho passou a ser feito já no pronto-socorro.

     

     

    Na pesquisa internacional foram avaliados 141 pacientes em coma profundo que deram entrada em pronto-socorros de oito hospitais no Brasil, na Itália e no Japão. Todos apresentavam lesões cerebrais graves, envolvendo inchaço e hemorragia, causadas por algum trauma.

    O único efeito colateral, resultante da aplicação de alta dose de manitol – a hipotensão – é evitado com a aplicação de soro logo após o medicamento. "Para cada 500ml de manitol, aplicamos 1 litro de soro", explica Cruz.

    A sugestão do pesquisador é que nos procedimentos de urgência o medicamento passe a ser aplicado já nos locais do acidente, por uma equipe preparada para tal procedimento. "Ainda faltam estudos complementares mas já se investiga o uso de alta dose de manitol também em casos de coma causados por afogamento, derrames e meningites graves", antecipa.

     

     

    Os resultados da pesquisa coordenada por Cruz foram publicados em artigo da revista Neurosurgery, de setembro de 2002, escrito com outros dois coordenadores da pesquisa: Giulio Minoja, da Itália, e Kazuo Okuchi, do Japão.

     

    Sabine Righetti