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    Ciência e Cultura

    versión impresa ISSN 0009-6725versión On-line ISSN 2317-6660

    Cienc. Cult. v.56 n.3 São Paulo jul./sep. 2004

     

     

     

     

    GLOBALIZAÇÃO

    O trabalho intelectual migra para as novas colônias

     

    Uma nova estrutura colonial pode estar se consolidando. O processo começou com a indústria manufatureira e teve seu ápice nos anos 1990, quando milhares de postos de trabalho foram transferidos dos países centrais para a periferia. Agora, é a vez do setor de tecnologia e de finanças, onde se criam os chamados empregos de colarinho branco. Usufruindo a mão-de-obra qualificada existente em alguns países subdesenvolvidos, além da infra-estrutura de informática e comunicações, a descentralização das transnacionais atinge agora os setores de desenvolvimento e inteligência.

    Poderia ser uma boa notícia para os países pobres, mas não é. O problema é que os trabalhadores destas nações ganham entre cinco a dez vezes menos que os dos países centrais. Um criador de software ganha, em média, US$10 mil por ano na Índia. Nos EUA, o salário para a mesma função é US$ 66 mil. A diferença vai direto para o bolso das grandes corporações.

    Os países onde mais cresceu a oferta de emprego foram Índia, China e os países do sudeste asiático. Em todos eles aumentou consideravelmente, durante a década de 1990, o número de bacharéis, mestres e doutores formados. Só a Índia fornece ao mundo, anualmente, mais de meio milhão de engenheiros da computação. Nos países desenvolvidos, a nova organização do trabalho provoca a criação de duas castas. Uma, dominante e pouco numerosa, é formada por aqueles que conseguiram ocupar os poucos postos de direção. Outra, gigantesca e empobrecida, é formada por trabalhadores mal remunerados (não necessariamente desqualificados), que ocupam os empregos de menor prestígio.

    NOVO COLONIALISMO Nossas tecnocorporações são os poderes coloniais contemporâneos, afirma Dion Dennis, autor do artigo The digital death rattle of the american middle class: a cautionary tale (www.ctheory.net/text_file.asp?pick=402). Segundo ele, as transnacionais absorveram o modelo de dominação tradicional do colonialismo.

    De acordo com Dennis, a migração de postos de trabalho só pode acontecer porque, embora as empresas tenham raízes históricas e culturais em seus lugares de origem, o comprometimento com valores sociais é mera propaganda. A elas não importa que a economia de seus países sofra com a perda de empregos. O único objetivo é aumentar as margens de lucro e a participação no mercado no curto prazo.

    Nas novas colônias, um dos principais atrativos também é a falta de organização da força de trabalho. Ela é jovem e não se acostumou a exigir as mesmas garantias trabalhistas dos empregados dos EUA, por exemplo.

    Mas não só o emprego é transferido para as colônias. Junto com ele, precisa ser incutida a ideologia neoliberal. Se a cultura, a história ou as fronteiras das colônias não servirem aos propósitos de alta lucratividade, elas serão substituídas por um tipo de darwinismo social – a idéia de que apenas os melhores e os mais competitivos sobreviverão. Uma das faces da ideologia neoliberal aplicada ao mundo do trabalho foi o mito da educação continuada, do aperfeiçoamento constante do trabalhador. Para se inserir no mercado, era preciso nunca parar de estudar. A culpa do desemprego foi transferida para o indivíduo, tanto nos países desenvolvidos como nos subdesenvolvidos. No entanto, a recessão do início do século XXI desempregou todos, inclusive os qualificados. No fim do ano passado, mais da metade das 500 maiores empresas listadas pela revista Fortune já havia transferido um número significativo de postos de trabalho intelectual para outros países.

     

    Rafael Evangelista