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    Ciência e Cultura

    versão impressa ISSN 0009-6725versão On-line ISSN 2317-6660

    Cienc. Cult. v.56 n.3 São Paulo jul./set. 2004

     

     

     

    MUSEUS DE CIÊNCIA

    Latino-americanos: muita criatividade, pouca organização

     

    Contenção de recursos, pouca organização, criatividade de sobra e bons profissionais. Com essa composição de elementos, os centros e museus de ciência latino-americanos logram organizar exposições únicas, equiparando-se aos maiores e melhores do mundo. Este é o cenário traçado por Julia Tagüeña Parga, física e diretora-executiva da Rede de Popularização da Ciência e da Tecnologia na América Latina e Caribe (Rede Pop). O desafio é popularizar a ciência no segundo continente com as piores condições do mundo neste setor. Há 12 anos à frente do Museu Universum, do México, Julia acredita na cultura científica como forma de tornar as pessoas mais tolerantes e, assim, fomentar atividades pacíficas.

    Qual é a visão sobre a inserção da educação no Museu Universum?

    JULIA: A concepção atual é de uma relação muito forte com a educação informal ou não formal, mesmo nos cursos que são dados nos museus. O museu permite às crianças seguirem um ritmo pessoal de aprendizagem. A função do museu é ser um detonador de interesses, dando-lhes a informação sobre livros ou atividades complementares. Outro trabalho importante é com os adultos que, a partir de uma certa idade, deixam de ir à escola e perdem o contato com a ciência. A ida ao museu pode detonar um processo de educação contínua. Existem museus mexicanos que têm convênios com escolas sem infra-estrutura e lhes oferecem laboratórios.

    Um museu deve trabalhar a inclusão social?

    Com os problemas sociais tremendos existentes em nossos países, penso que deve haver programas que saiam dos museus e visitem as comunidades, organizem projetos e exposições em lugares remotos. Parte do problema do Brasil e do México é que são países enormes, com muitas carências e dificuldades de locomoção. Então é importante existir museus que viajem pelo país, como projetos em traillers, que levam exposições até regiões mais remotas. São atividades sobretudo divertidas, para populações que não tem opções de lazer.

     

     

    O que falta para as pessoas chegarem aos museus de ciência?

    Uma opção é planejar visitas, como nos convênios com as secretarias de educação, que possam ser incluídas em seus planos de atividades. Isso ocorre muito no México. Outro caminho é obter verbas para transporte das crianças de comunidades carentes aos museus. Além disso, deve-se adequar as visitas para cada grupo. Há um movimento muito forte nos museus no sentido de buscar saber o que o visitante deseja, visando atrair um público maior.

    Como se dá o intercâmbio com a Associação Norte-Americana de Centros de Ciência (ASTC)?

    Em geral, as pessoas que trabalham em museus de ciência de qualquer parte do planeta são colaboradoras. Na filosofia de trabalho está implícita a questão da inclusão social, que preocupa todos os museus. Um grande centro de ciências [nos EUA, por exemplo] tem visitantes de diferentes origens e, por isso, há interesse em aprender, conhecer e colaborar com a América Latina, justamente para entender esse tipo de visitante mesclado, que é nossa característica contínua. Os EUA podem ter menos problemas econômicos, mas têm grandes problemas de diferenças culturais. Acredito que os processos de paz mundial têm muito a ver com o conhecer. O conhecimento entre as pessoas fomenta atividades pacíficas.

    Como trabalhar a relação entre arte e ciência na divulgação científica?

    Arte e ciência têm, em comum, seus processos criativos e a busca de padrões: o cientista os encontra, o artista os cria. A arte envolve emoções e, portanto, quando existe algo de artístico em uma exposição científica, ela pode, por meio da emoção, mostrar a ciência às pessoas de uma outra maneira.

    Os Estados Unidos tendem a usar a linha hands on, o caráter interativo nos museus. Qual o caminho escolhido no Museu Universum?

    Para evitar o perigo das exposições não serem nada mais do que tocar botões, entendo interatividade num sentido mais amplo. Para o visitante sentir-se um pouco cientista é necessária uma certa atividade e não apenas o observar. A América Latina tem uma originalidade muito particular que se deve cultivar. Os museus norte-americanos, por exemplo, são parecidos entre si; na América Latina, que tem menos organização e dinheiro, os museus não se parecem. O Brasil, por exemplo, tem muitos museus pequenos e essa é uma boa estratégia, porque a divulgação pode estender-se por diferentes lugares. No México seguimos um outro caminho, criando museus mais espetaculares. Hoje, porém, estamos buscando fazer casas de ciência e museus um pouco menores, que abarquem todo o país.

     

     

    Dentro dos museus de ciências como se dá o diálogo entre o que é científico com o que é cultural?

    Deve-se ter componentes culturais, porque ciência é cultura. Mas temos que ser muito rigorosos e acadêmicos, no que se acredita ser conhecimento científico, porque a pseudociência é muito mais fácil de transmitir e muito mais popular. Esse é o fio da navalha. É preciso respeitar o conhecimento tradicional sem cair no charlatanismo. Como se faz? Com critério e cuidado para não criticar certo tipo de visão há muito tempo ligadas à nossa história. Criamos no museu uma seção chamada "os conselhos da avó", com conselhos de cozinha que as donas de casa seguem. Isso não é pseudociência, é o que se aprendeu por experiência. É preciso, também, deixar claro nas exposições que a ciência não é absoluta e nem está terminada.

     

    Germana Barata e Daniel Chiozzini