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    Ciência e Cultura

    Print version ISSN 0009-6725On-line version ISSN 2317-6660

    Cienc. Cult. vol.56 no.4 São Paulo Oct./Dec. 2004

     

     

    ONU

    Parcerias com o setor privado buscam combater a fome

     

    Paul Tergat, o atleta queniano que mais venceu a corrida anual de São Silvestre, realizada em São Paulo, e que também é recordista mundial das provas de maratona, atribui seu sucesso nas pistas, e o de muitos compatriotas, à assistência que recebeu, desde a infância, do World Food Programme (WFP). Trata-se de um programa de ajuda alimentar, coordenado pela Organização das Nações Unidas (ONU), presente em aproximadamente 70 países, onde fornece merenda escolar a cerca de 16 milhões de crianças, e representa uma ajuda imprescindível para a superação do problema crônico da fome, sobretudo nos países em desenvolvimento.

    Para manter e ampliar os bons resultados, desde 2003 o programa intensifica a busca por parcerias com o setor privado. Grandes empresas como a Benetton e a TNT Logística, segunda no ranking do setor, com a maior rede aérea e rodoviária de entregas da Europa, se integraram ao programa e, após um ano, avaliam positivamente essa participação, que tem garantido maior visibilidade e efetividade às ações de combate a fome.

    Uma das evidências é a melhoria no desempenho escolar das crianças, em países onde o programa se implantou. Em Malawi, no sul da África, por exemplo, o índice de aprovação em algumas escolas saltou de 30% para 85%; as matrículas aumentaram cerca de 30% em todo país.

     

     

    CÍRCULO VICIOSO O relatório anual das ações realizadas, que está divulgado no site www.wfp.org, evidencia, também, a interrupção de um círculo vicioso que começa com a má alimentação. Segundo dados da ONU, a principal causa da incidência de doenças em todo mundo é o número elevado de crianças e mulheres abaixo do peso normal, totalizando cerca de 9,5% dos casos. O problema leva, também, à ocorrência de males irreversíveis, como diminuição da altura, dificuldade de raciocínio e de concentração.

    O programa começou em 1963 e já esteve presente em 82 países, alimentando cerca de 72 milhões de pessoas, incluindo refugiados de guerra e crianças. O economista José Graziano, ex- titular do Ministério da Segurança Alimentar e Combate à Fome criado pelo governo Lula, ressalta que, quando começou, o WFP foi muito criticado por ajudar apenas com a distribuição física de alimentos, o que desestimulava a produção local de gêneros de subsistência, exatamente aquilo que deveria ser impulsionado.

    Atualmente, porém, o trabalho consiste em comprar alimentos no próprio país para distribuí-los nas áreas mais necessitadas, o que não o caracteriza mais como apenas uma ajuda restrita e emergencial. Graziano acrescenta que o programa serviu de referência para o Fome Zero, lançado no início do atual governo: "aprendemos com a experiência internacional que deveríamos evitar transferências massivas de gêneros alimentícios de um lugar para outro". Para o economista, o programa da ONU demonstra que o papel governamental na compra de gêneros alimentícios é muito importante e pode estimular políticas públicas voltadas para grupos específicos. É o caso, exemplifica Graziano, da criação do atual Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) do governo federal. O programa prevê que pequenos agricultores e assentados rurais vendam sua produção ao governo, até o limite de R$ 2,5 mil, o que garante renda aos agricultores e abastece os estoques de programas sociais como o Fome Zero.

    VOLUNTARIADO A opção de buscar a participação do setor privado em programas dessa natureza, embora recente, é bem avaliada pelos participantes. O engenheiro químico Marcelo Katawama Rigitano, funcionário da TNT no Brasil, esteve durante três meses na Nicarágua como voluntário do programa. Ele foi um dos funcionários diretamente envolvidos na parceria que a empresa denominou moving the world ("movendo o mundo"), iniciada no ano passado e que deve durar mais quatros anos. A TNT se comprometeu a fornecer, além de donativos, recursos humanos, treinamento, perícia e serviços de operação em logística.

    Marcelo Rigitano conta que encontrou uma realidade bastante desafiadora no pequeno país da América Central, profundamente castigado por guerras civis e desastres naturais, como terremotos, furacões e longos períodos de seca. Ao chegar na escola onde iria desenvolver suas atividades, ele se defrontou com uma situação dramática: "havia apenas um banheiro para mais de 100 crianças e o único local com água para lavar as mãos estava a quilômetros de distância". Durante sua estadia, organizou reuniões com pais de alunos e com a comunidade para definir prioridades e realizar mutirões, a fim de garantir uma estrutura mínima de higiene e preparação da merenda escolar. O engenheiro ressalta que, mesmo com recursos disponíveis do WFP, a mão-de-obra e a organização dependem da participação ativa da comunidade. No final do estágio, tinham sido construídos banheiros, um reservatório de água, uma granja comunitária e a cozinha, antes um galpão com paredes de telhas velhas de zinco, foi substituída por uma construção planejada de alvenaria.

    Rigitano também avalia que, embora a unidade brasileira ainda esteja pouco envolvida na parceria que começou há um ano, a experiência proporcionou um novo olhar sobre as atividades profissionais que desenvolve e uma melhoria na resolução de problemas comuns dentro da empresa. O WFP busca aumentar o apoio de pessoas físicas para seus projetos e para isso facilita o sistema de doações, que podem ser feitas em seu site na internet.

     

    Daniel Chiozzini