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    Ciência e Cultura

    versão impressa ISSN 0009-6725versão On-line ISSN 2317-6660

    Cienc. Cult. v.56 n.4 São Paulo out./dez. 2004

     

     

    REFLEXÕES CLÍNICAS PSICANALÍTICAS SOBRE A MEMÓRIA-SONHO

    Antonio Sapienza

     

     

    "Quelli che s'innamoran di pratica
    senza scienzia son come l'nocchier
    ch'entra in navillo
      senza timone o bussola,
    Che mai ha certezza dove si vada."

    Leonardo da Vinci.

    (Manoscrito G 8 r-Codice Madrid)

     
    "Os que se enamoram de prática
    sem ciência são como o piloto
    que entra no navio
      sem timão ou bússola,
    Que jamais tem certeza para onde se vai."

    (Tradução do autor)

     

    INTRODUÇÃO Este texto como um todo pretende focalizar alguns entraves mentais oriundos do mundo das memórias, capazes de fechar o presente e impedir os novos caminhos do futuro; segue criticamente os passos da trilogia Uma memória do futuro (1), que Bion escreve entre os anos de 1975 e 1979 e nos deixa precioso legado de uma aventura autobiográfica romanceada, elaborada em instigante linguagem, onde usa um estilo literário que combina ficção e memória-sonho.

    Pode ser compreendido como um convite a uma discriminação entre um grupo de memórias e tradições que favorecem sanidade e outro grupo de memórias que inoculam e entretêm psicotização, linguagem oracular e tramas psicóticas.

    Memória-Sonho deve ser diferenciada de Memória-Arquivo; a primeira surge de modo espontâneo no decorrer da própria sessão analítica, assemelha-se a um devaneio, e permite conexões inesperadas e valiosas. A proposta de Bion relacionada à disciplina de "opacificação de memória e desejos" (2) pelo analista visa inibir a saturação da mente por acúmulos de memórias, os quais impedem a abertura de novos significados, que só podem surgir a partir do estado das pré-concepções em liberdade, isto é, não saturadas.

    O excesso de memórias a respeito das pessoas "cristaliza" o conhecimento e impede o aprendizado emocional e vivo fora do que já é conhecido e freqüentemente só alimenta preconceitos, estereotipias e compulsões à repetição ou mesmices.

    "Os parentes próximos de um paciente estão impregnados de memórias que os tornam juízes não confiáveis da personalidade do paciente e não adequados para serem o analista do paciente". (3)

    RESTAURAÇÃO DA CAPACIDADE DE PENSAR O estímulo inicial para este artigo surgiu de uma certa provocação feita pelo notável psicanalista britânico Wilfred Ruprecht Bion que, em uma de suas últimas conferências em São Paulo, ao parafrasear Freud desde seu texto Psicopatologia da vida cotidiana (4), convidou os analistas presentes a se dedicarem a pesquisar e a escrever sobre A psicose da vida cotidiana.

    Uma das repercussões pessoais mais intensas passou a ser a atitude de acolher elementos conflitantes de minha própria realidade psíquica que, ao não terem encontrado suave abrigo no self, poderiam ser evacuados e permanecer dispersos, quais corpos alienígenas, tratados como estranhos e desconhecidos na realidade externa cotidiana.

    Tecnicamente, a não-recuperação e a não-elaboração desses aspectos pessoais esvaziam o self, e poderão alimentar uma vida plena de atuações impulsivas e compulsão à repetição, por entreter e gerar escotomas [cegueiras mentais] e reações contratransferenciais. Isto pode tumultuar as bases e o destino da própria situação terapêutica.

    Esse resgate é facilitado pelas experiências de análise pessoal e intenso treinamento teórico e clínico, geradores de assimilada disciplina, que devem ser acompanhados de rigorosa consideração pela vida mental e amor pela verdade.

    Um outro enfoque valioso na metabolização desses aspectos cindidos da personalidade é a percepção de que a capacidade de pensar requer reparações cotidianas ininterruptas, através do aprendizado de experiências emocionais, somente possível pelo contato com outro ser humano, pois ninguém sobrevive ao vácuo, à total solidão e à ilusória auto-suficiência. Esses são os ingredientes do caldo de cultura adequado para alimentar a instalação e o desenvolvimento do que André Green, nos anos 70, denominou "psychose blanche" (5), suporte da psicodinâmica de configurações autistas.

    A preservação da saúde mental tem analogias com a saúde do corpo, pois também precisa de nutrientes adequados, desintoxicação e ainda de exercícios de revitalização mental, convenientemente escolhidos no dia-a-dia. Estados de anorexia e desleixo mentais estão freqüentemente maquiados pela pressa, automatismos e o cultivo de maus hábitos mentais, que empobrecem e deterioram as personalidades, chegando a abolir a consciência de nossa inevitável fragilidade humana. Por isso a terapia também exige as virtudes da paciência e da perseverança no exercício da convivência de analisando e analista.

    A atividade clínica poderá vir a ser uma condição de privilegiado aprendizado também para o terapeuta, por se tratar de um encontro de personalidades capaz de aguçar saudável e desintoxicante autocrítica; a ênfase recai no fato que o melhor colaborador do analista deva ser o próprio paciente, com quem o terapeuta dialoga e interage.

    Na sessão, mesmo o paciente mais hostil tem, em algum nível, esperança de obter algum benefício do contato com o terapeuta. Espera-se, porém, que o terapeuta tenha clareza de quais são as condições mínimas e necessárias para o exercício de suas funções específicas e saiba lidar com esta hostilidade sem se deixar envolver por jogos sadomasoquistas, possibilitando a ampliação da capacidade de diálogo e compreensão mútua.

    CATÁSTROFES MENTAIS Ao final do entardecer em Los Angeles, na década de 1970, Bion e seu colega psicanalista Albert Mason costumavam caminhar e trocar idéias sobre suas atividades profissionais.

    Mason relata que numa dessas ocasiões confidenciou a Bion uma certa experiência clínica recente com um paciente, o qual lhe descreveu em sessão analítica o seguinte acontecimento: "Despertei subitamente pela madrugada e, aflitivamente, acordei junto ao interruptor da luz do quarto, conseguindo iluminar o ambiente para poder verificar se a pessoa que estava agora em pé era a mesma que, havia alguns segundos, estava deitada logo ali na cama". Mason disse que ficou perplexo, sem saber o que falar, e solicitou de Bion alguma opinião. Bion lhe respondeu que ele poderia ter dito o seguinte: "Parabéns, meu caro analisando! Pois nem sempre dá tempo de chegar até o interruptor, acender a luz e fazer esta verificação!"

    Esta anedota clínica permite ilustrar momentos de contato do indivíduo com o temor de mudança catastrófica (3), caracterizado por medo da loucura, extrema turbulência emocional, incapacidade de pensar, angústia de aniquilamento e despersonalização. Até certo ponto, esse instantâneo revela o quanto o estado de mente angustiante do paciente poderá também atingir o analista, contagiando-o, levando-o à fragmentação do pensamento verbal. Tal estado mental do analista ficará sujeito à recuperação ou não, no decorrer da mesma sessão. A conversa com Bion, em outro contexto, possibilitou a Mason alcançar significado para a experiência emocional de bloqueio mental vivida como analista, encontrando então, na conversa com outro colega, continente competente para ajudá-lo a repensar e a colocar em palavras o entendimento de parte do acontecimento clínico ocorrido na sessão.

    Mudança catastrófica guarda íntima conexão com o que Bion denomina transformações em O, processos que permitem à pessoa vir a ser quem a pessoa realmente é, ou seja, poder voltar a casar-se consigo mesma [at-one-ment, palavra que é derivada do termo religioso atonement = redenção, reconciliação, concórdia].

    Nessa seqüência, gostaria de registrar os significados da palavra catástrofe (Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa – Editora Nova Fronteira – São Paulo – 1999): 1. Acontecimento súbito de conseqüências trágicas e calamitosas.2. Fig. Grande desastre ou desgraça; calamidade." 3. Teatro. Na tragédia clássica, conclusão ou consumação da ação trágica; acontecimento principal, decisivo e culminante da tragédia, no qual a ação se esclarece inteiramente, e se estabelece o equilíbrio moral. 4. Teatro, por extensão. O fim funesto decorrente da ação trágica.

    A descoberta da vida incestuosa por Édipo e Jocasta em Édipo Rei, peça de Sófocles, constitui um modelo de mudança catastrófica, levando-os a consumar cegueira e suicídio. Quais fatores poderiam levar a um desfecho de outra natureza? Se possível gerador de reparações amplas?

    O contato mais amplo da parceria analítica com a mudança catastrófica requer que o analista tenha vivência pessoal em ousadas e lúcidas incursões nessas camadas emocionais mobilizadas por impactos de violência primitiva; os talentos elaborados na vida de parceria entrarão como fatores capazes de propiciar a transformação de Mudança Catastrófica em Mudança Criativa, geradora de benefícios para o par analítico. Será fundamental a capacidade de continência com rêverie benevolente pelo analista.

    Para tanto, penso que deva fazer parte do equipamento teórico-clínico do analista um elenco, relativamente bem elaborado e assimilado, de modelos de catástrofes:

    a) da natureza, como sismos, avalanches, tempestades, furacões, erupções vulcânicas, que ao assolar grupos humanos desencadeiam situações que colocam à prova a capacidade de serem pensadas, permitindo tomar decisões e articular providências para garantir a sobrevivência face a perigos extremos, bem como aguardar as condições favoráveis para realizar os reparos possíveis;

    b) de turbulências sociais, como as guerras, revoluções, as reações face a epidemias e naufrágios, em que a capacidade humana de pensar deve ser preservada mesmo debaixo de bombardeio, para conter reações de pânico;

    c) relacionadas a cesuras de: nascimento, casamento/separação e morte, face a rupturas e continuidade de estados de mente que acompanham essas transições de exclusão e inclusão do indivíduo, do par, da família e da rede social mais ampla.

    Débris ou ruínas arqueológicas constituem "fantasmas", contidos em Memórias-Arquivos, que podem cercar de terrores as cesuras de nascimento, casamento/separação e morte, gerando bloqueios paralisantes que aniquilam esperança e possibilidades realistas de renascimentos. Tais "fantasmas" correspondem a resíduos que soçobraram dos andaimes de edifícios de um passado mais ou menos remoto, sendo responsáveis pelos movimentos de "rêverie" hostil, quando prevalecem impulsos de morte, descritos em nosso meio analítico por Martha Ribeiro (7), e que devem ser diferenciados de rêverie benigna, em que a continência vem acompanhada de movimentos dos impulsos de vida, com atitudes e formulações verbais capazes de desfazer culpa persecutória e roteiros assassinos e suicidas sem saída.

    Proponho a seguir um modelo de experiência de catástrofe extraído da vida cotidiana como metáfora para expandir o estudo do tema Memória-Sonho.

    Suponham que ocorra um incêndio numa casa; as possibilidades de controle de propagação das chamas e a extensão do que será devastado dependerá, entre outros, dos seguintes fatores: o estado de atenção dos habitantes da casa; a prontidão das providências tomadas, por exemplo, quando o fogo somente tenha atingido um cesto de papel no escritório será mais fácil o controle da expansão do incêndio; a presença ou não de materiais que facilitem intensa e rápida combustão; a eficiência do corpo de bombeiros se chamados a tempo.

    A partir desse quadro, podemos conjeturar sobre o estado de devastação e sofrimento mental da pessoa que nos procura e que irá variar de pessoa para pessoa, segundo o grau de consciência, sensibilidade e senso comum do indivíduo e do grupo social a que ele pertence. Daí poderão surgir complexas questões clínicas e sociais, incluindo diagnóstico, prognóstico e tratamento, com desdobramentos que chegam a envolver ainda estratégias comunitárias para ações preventivas, educacionais e terapêuticas de saúde mental, como nas adições a drogas.

    ARQUEOLOGIA PSICANÍLITICA E MEMÓRIAS-SONHOS Há uma íntima relação entre o estado de preservação das Memórias-Sonhos, de um lado, e a capacidade de pensar de cada indivíduo e grupo humano, de outro lado.

    Em situações psicóticas mais graves há, durante muito tempo, forte restrição da capacidade de sonhar, por ataques que destroem e fragmentam três grupos das matrizes de pré-concepções, que mutuamente se inter-relacionam; estas, quando intactas, poderiam prover, no contato com o ambiente, a estruturação de reservas ecológicas mentais básicas:

    1. a esperança na existência de um seio protetor, que cuidará com sabedoria e amor, de modo prolongado, dos desamparos do recém-nascido, após a cesura do nascimento: garantias de vínculo de objeto estável;

    2. as bases de realização do casal formado por pai e mãe: alicerces do complexo edipiano;

    3. a origem do bebê humano a partir do mistério da cópula criativa do casal formado por pai e mãe: caleidoscópio da atmosfera emocional e ideativa da cena primária.

    Um dos sinais mais significativos de restauração mental relacionados aos conteúdos das vibrações psicóticas é a volta do "sonhar" pelo paciente, com ampliação e restabelecimento gradativo da capacidade de estabelecer associações livres no diálogo analítico.

    O restabelecimento dessas reservas mentais tem correlação com o indicador "função de continente com rêverie", que poderá ser acompanhado com bastante precisão dentro da experiência clínica. As pré-concepções guardam íntima relação com as protofantasias descritas por Freud na Conferência XIII (8).

    O colapso mental ou desastre primitivo da infância de cada um de nós está contido nas formulações e observações clínicas do referencial analítico kleiniano, com as descobertas feitas por Melanie Klein das posições esquizo-paranóide (9) e depressiva (10), e é registrado em camadas protomentais arcáicas ou pré-simbólicas, constituindo um equivalente básico de ruínas arqueológicas.

    A analogia condensa e compreende restos de civilização antiga ou "débris", contendo crenças inconscientes, restos de rituais religiosos, "fantasmas", jóias, vestes, documentos, fragmentos de obras de arte, tumbas, "pensamentos à procura de pensadores", etc. Estes elementos poderão vir à luz das investigações na sessão de análise, pois estavam como que aguardando oportunidade para poderem ser lidos como parte de um passado presentificado (1) e que, sem entendimento, continuariam a exercer influências despercebidas na vida presente e futura.

    Freud, Klein e Bion surgem como componentes de uma tríade, que o psicanalista e filósofo John Oulton Wisdom batizou de vigorosa e preciosa "troika" nas explorações do universo epistemológico, em psicanálise.

    Sigmund Freud (1856-1939) pode ser considerado sinteticamente como um psicanalista que funciona, enquanto arqueólogo, até certo ponto como otimista esperançoso. Se examinarmos um de seus últimos textos, Construções (11), podemos acompanhá-lo no empenho de facilitar ao paciente a recuperação de vivências de reencontro nostálgico da suavidade amena de espaço/tempo mítico do "paraíso perdido", em período de prazer e harmonia quando ainda era filho único; seu universo tinha virado de ponta-cabeça, por emergência de fúria assassina e ciúmes ligados ao nascimento de seu irmãozinho.

    Melanie Klein (1882-1960) aborda os meandros mais obscuros do sofrimento mental das crianças e dos psicóticos. Seguindo preciosas pistas abertas pelo próprio Freud, usando as técnicas de jogos e brinquedos, revela-nos não só os equivalentes arqueológicos das ruínas da Grécia clássica [séculos V a IV a.C]. Consegue alcançar além disso, graças a sua sensibilidade, capacidade de observação clínica e intuição, camadas de um palimpsesto, que contêm equivalentes das devastações do período micênico [séculos XIV a XI a.C.] (12) , ligadas essencialmente à Guerra de Tróia e em grande parte narradas por Homero na Ilíada. O leitor mais interessado poderá enriquecer-se com o belíssimo texto de Klein, Algumas reflexões sobre a Oréstia (13), publicado postumamente em 1963.

    Wilfred Ruprecht Bion (1897-1979) estuda intensamente os distúrbios da capacidade de pensar. Constrói valioso modelo arqueológico, qual seja o Cemitério Real de Ur (incluído em seu texto A grade) (14) – ver particularmente "painel mítico", que contém constructos com vívida qualidade pictórica, pag.13 – em que aborda a morte e o sepultamento de um rei, bem como os rituais de cerimonial mágico e religioso. Reconstituições da cena do enterro foram feitas a partir de escavações efetuadas pelas expedições conjuntas do Museu Britânico e do Museu da Universidade de Pennsylvania; o arqueólogo inglês sir Leonard Woolley (1880-1960), nos anos 1922 até 1934, liderou boa parte destes estudos efetuados na cidade de Al-Muqayyar, no atual Iraque. Presume-se a repetição deste cerimonial relacionado ao enterro de pelo menos dezesseis reis, no período entre 2500-2000 a.C. (15). O cortejo real era constituído pela rainha, príncipes, princesas e alguns servos da corte. Nele todos drogavam-se com haxixe e, ao som de músicas, dançando, vestidos com as roupas e jóias mais preciosas, desciam uma rampa na direção da Cova da Morte, uma câmara funerária real onde, adormecidos, eram soterrados vivos pelos sacerdotes da cidade de Ur, lendária pátria de Abraão. Cumpria-se assim um acompanhar nostálgico à "viagem eterna" do rei morto, em seu enterro. Tudo isto acabava por ficar no depósito de lixo ou de detritos da cidade, tornando-se o lugar um tabu, amaldiçoado, visando restringir a curiosidade e a cobiça. Esta postura grupal de terror à investigação baseava-se em crenças mítico-religiosas e prolongou-se durante 500 anos, quando ladrões ousam romper paralisações, maldições e medos veiculados a barreiras mágicas e religiosas, passam a fazer incursões, invadem e saqueiam a Cova da Morte, e conseguem recuperar jóias e tesouros preciosos nela enterrados. Seria Bion um arqueólogo pessimista e paradoxalmente esperançoso, ao reconstituir "desastres" já acontecidos e desolação?

    A ousadia dos saqueadores de tumbas, ao transgredirem tabus em busca de riquezas escondidas, pode ser considerada como precursora da mentalidade científica, penetrando terrenos mortíferos até então açambarcados e dominados por magia e religião (16)]. Em nossa atividade clínica, na busca de significados podemos detectar a necessidade de ultrapassar análogas forças de ocultação repressiva.

    Dependendo das circunstâncias e contexto, o analista será um cuidadoso "arqueólogo" que deverá saber usar, com bastante perícia e discernimento, um pincel de pêlos de cauda de elefante, lentes e microscópio, visando leitura criteriosa, junto ao analisando, de todo o "material" que ambos conseguirem "recolher" dos escombros, na sessão analítica. Cabe ainda ao analista saber acolher e permitir a sedimentação de observações que só ulteriormente farão sentido, preservando o vértice psicanalítico (17), a favor do vínculo de conhecimento. Em outros momentos, deverá ser um "saqueador", atravessando tabus, barreiras defensivas e terrores-sem-nome.

     

    Antonio Sapienza é médico, psicanalista, membro efetivo da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo.

     

     

    REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

    1. Bion, Wilfred Ruprecht. A memoir of the future - Karnac Books – London – 1991.

    2. Bion, Wilfred Ruprecht. "Opacity of Memory and Desire" – Chap. 4 in Attention and interpretation – Tavistock Publications – London – 1970.

    3. Bion, Wilfred Ruprecht. "Container and Contained Transformed" – Chap. 12, p108 in Attention and interpretation – Tavistock Publications – London - 1970.

    4. Freud, Sigmund. 3ª Psychopathology of everyday life [1901] – SE VI – The Hogarth Press – London- 1973.

    5. Green, André. L'enfant de ça – Donnet, Jean-Luc et Green, André – Les Éditions de Minuite – Paris – 1973.

    6. Sapienza, Antonio. "A Tempestade: Mudança Catastrófica" - p. 156 in Perturbador mundo novo – SBPSP – 1992 – Ed. Escuta – São Paulo.

    7. Ribeiro, Martha Maria de Moraes – " Rêverie hostil e rêverie benigna" in Rev. Bras. Psicanálise, vol 33 (3): 431-447, 1999 – "Hostile and benign reverie" – Journal of Melanie Klein and Object Relations, 1999, 17(1), 161-180.

    8. Freud, Sigmund. Conference XIII: the archaic features and infantilism of dreams [1916/17] – SE XV - Hogarth Press – London – 1973.

    9. Klein, Melanie. "Notes on Some Schizoid Mechanisms" [1946] – in The writings of Melanie Klein– vol. III – p. 1 – The Hogarth Press – London - 1975.

    10. Klein, Melanie. "A Contribution to the Psychogenesis of Manic-Depressive States" [1935] – in The writings of Melanie Klein - vol. I - p 262 – The Hogarth Press – London - 1975.

    11. Freud, Sigmund. Constructions in analysis [1937] – SE XXIII - Hogarth Press – London – 1973.

    12. Kristeva, Julia – "Melanie Klein" in Le génie feminine – tome II – p. 206 – Lib. Fayard – Paris – 2000.

    13. Klein, M. "Some Reflexions on The Oresteia" (1963), in The writings of Melanie Klein – vol.III, pag.275 – The Hogart Press – London – 1975.

    14. Bion, Wilfred Ruprecht. Two papers: The grid and caesura [1964] – Imago Ed. Ltda. – Rio de Janeiro – 1977.

    15. Bahn, Paul B.[compilator and editor] – "Ur" in The story of archeology – p.142-145-Phoenix Illustrated – London – 1997.

    16. Sapienza, A. "Aprendizagem da experiência emocional na sessão analítica: trabalho-de-sonho- Alfa" – Revista IDE – SBPSP – número 30 – p.100 – 2º. Semestre 1997.

    17. Sapienza, A. "Compaixão, tolerância à frustração e capacidade de pensar na experiência da sessão analítica" – ALTER – vol. XVIII – n. 1, 53-60 – junho, 1999.