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    Ciência e Cultura

    Print version ISSN 0009-6725On-line version ISSN 2317-6660

    Cienc. Cult. vol.56 no.4 São Paulo Oct./Dec. 2004

     

    LITERATURA

    EM 2004, JULIO CORTÁZAR FARIA 90 ANOS

     

    Os cronópios e os famas são personagens de um dos mais famosos livros de Julio Cortázar, Histórias de cronópios e famas. Eles são seres diferentes, quase opostos. Os primeiros são amantes da poesia e vivem guiados pela emoção; os famas são prudentes e metódicos. Independente dessas diferenças ou partindo delas, um pelo amor à poesia e o outro pelo hábito de tudo anotar e prever, os dois personagens lembrariam que, em 2004, seu criador completaria 90 anos. As homenagens ao escritor argentino estão sendo prestadas em vários países ao longo deste ano. Uma das principais é uma exposição itinerante multimídia chamada "Presencias" (www.cortazar2004.org), que começou a ser exibida em Paris, passou pelas cidades espanholas de Salamanca, Barcelona e Madrid e, em seguida, Buenos Aires, Lima, Bogotá, Santiago, Havana e Guadalajara, nas Américas e Caribe. Em São Paulo, a exposição chegou em setembro ao Museu da Imagem e do Som (MIS). Para o final de novembro, a Universidade Federal do Paraná programou um evento aberto, com uma palestra da professora da USP, Cleusa Passos, que conheceu Cortázar e publicou dois livros sobre o autor.

    Outra iniciativa brasileira foi a criação do Projeto Cortazar (www.cortazar.com.br), pela produtora carioca Arca Comunicação, com a coordenação da atriz e produtora cultural Andrea Claudia Bernardino. "A principal motivação foi compartilhar o deleite que é ler Cortázar com o maior número de pessoas. O projeto pensou em reunir diversas manifestações artísticas e apresentá-las ao grande público, libertando-as do gueto intelectual", conta ela. Nos "Encontros de Cronópios", o público assistiu leituras dramatizadas de contos do escritor, espetáculos de balé, vídeos sobre sua vida e audições de jazz, uma das grandes paixões de Cortázar. O projeto incluiu, ainda, a Mostra Brasileira de Cinema Cortaziano no teatro Odisséia, Rio de Janeiro, com filmes nacionais inspirados na obra do escritor argentino.

     

     

    O autor de obras consagradas como O jogo da amarelinha, Histórias de cronópios e de famas e Bestiário inspirou grandes nomes do cinema como o diretor italiano Antonioni, em Blow up, em 1966, inspirado no conto "Las babas del diablo" ou o francês Jean-Luc Godard, que dirigiu Week end, em 1967. "Cortázar sempre levou em consideração o leitor. Seu trabalho era envolvê-lo no texto, permitindo que abrisse os olhos para outras realidades ao seu redor. Ele deseja leitores partícipes", explica a psicóloga e mestranda em literatura Susan Blum, da Universidade Federal do Paraná. Esse desejo de ter um leitor envolvido e participante talvez explique tantos filmes sobre Cortázar e suas histórias. A lista ultrapassa trinta produções entre filmes e documentários.

    O POETA DO FANTÁSTICO As preocupações ou obsessões que integram toda a sua obra são o fantástico, o acaso, os enigmas que se ocultam atrás da realidade cotidiana. Segundo Susan Blum, em Cortázar os tempos e espaços se encontram justapostos ou em simultaneidade. Ele caminha do real para o irreal e no sentido inverso, pondo em foco as ambiqüidades da condição humana e seus limites.

    "Cortázar não insere o leitor em castelos mal-assombrados, em florestas lúgubres. Instala seus personagens em casas familiares, em chácaras bucólicas, quebrando um paradigma de que o espaço familiar seria o mais seguro", diz. A identificação com esses temas explica porque sua obra continua surpreendente e influenciando a arte e a cultura no mundo de hoje.

     

    Patrícia Mariuzzo