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    Ciência e Cultura

    versão impressa ISSN 0009-6725versão On-line ISSN 2317-6660

    Cienc. Cult. v.56 n.4 São Paulo out./dez. 2004

     

     

    WILSON BUENO

     

    O LOBO SUTIL

     

    O lobo se chamava Niépcy. E era uma vez.

    Cansado, faminto e desgarrado da matilha, por puro instinto de sobrevivência, depois de buscar em vão a seus pares por toda a floresta, se aproximou, cauteloso, da aldeia, e com a severa humildade que mora no coração de um lobo interessado em não morrer, se fez cândido amigo de um pastor caduco.

    No firme propósito de ser apenas um cachorro, mesmo enfrentando a ira selvagem de seus semelhantes que, tarde da noite, salteadores e meliantes, atacavam em bando as ovelhas, ganhou a inabalável confiança do pastor e de todo o rebanho.

    Mas o pior dessa história é que o lobo, mesmo traindo a sua alma de lobo, viveu feliz por muitos e muitos anos, doméstico, mimado, vigilante e óbvio feito o cachorro que sempre encenara ser.

    Não há, pois, registro de que tenha ameaçado, em toda a sua longa vida, uma só ovelha. Seu único crime foi, num momento de extrema fúria canina, dizem, o de devorar o velho.

    Todos os da aldeia, entretanto, perdoaram o lobo mansamente – o velho estava muitíssimo velho e já não servia sequer para pastorear ovelhas, quanto mais para cuidar de que – na calada da noite – não fosse dizimado pelas alcatéias todo o rebanho.

     

     

    Wilson Bueno, escritor, é autor, entre outros livros de Amar-te a ti nem sei se com carícias ( editora Planeta, 2004), Meu tio Roseno, a cavalo ( editora 34), Mar paraguayo (Iluminuras) e Cristal (Siciliano). A fábula aqui publicada integra o livro, inédito, Cachorros do céu, a sair, pela editora Planeta.