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    Ciência e Cultura

    versión impresa ISSN 0009-6725versión On-line ISSN 2317-6660

    Cienc. Cult. v.57 n.2 São Paulo abr./jun. 2005

     

     

     

    O Brasil é único e múltiplo na sua unicidade. É também uno e multiplicado na sua unidade. E, como já foi longamente observado e atestado, a língua portuguesa, a língua-pátria-mãe-tão distraída, é o bem cultural mais intangível e mais caro a essa coesa multiplicação, pela qual é responsável e à qual responde com firmezas de igualdade e com meneios de dissimuladas indiferenças.

    Por isso, o português do Brasil é uno e múltiplo como é múltiplo também o Brasil lingüístico, não só pelas variações da língua nacional, que são muitas, ricas e dinâmicas, mas também pela variedade de outras línguas, indígenas, de imigração, ou mesmo africanas, no que permaneceram como influência, sobretudo, no léxico do português. Ou ainda, caso da cupópia do Cafundó, como cristais à deriva no curso dos rios torrenciais da vasta e bela cultura afro-brasileira brotando das fontes de tristeza cavadas pelo trabalho escravo na história do país.

    Fernando Pessoa, em A língua portuguesa, faz uma distinção entre língua universal e língua internacional. Por essa distinção, o português é uma língua universal como outras línguas de alta cultura, como o francês, o alemão e o inglês. Mas é, contudo, uma língua internacional, da mesma forma que o é o inglês hoje e como já foi o francês no século XIX e parte do século XX.

    Quer dizer, em termos de conceitos contemporâneos, o português é uma língua universal, mas não é global como acontece com o inglês na atualidade, que, desse modo, é uma espécie de língua franca transnacional e, nessa função, se apresenta com um vocabulário restrito de ao redor de 3 mil palavras enquanto, na sua universalidade, tem mais de 400 mil.

    Monta-se, desse modo, uma relação interessante e paradoxal: quanto mais global, mais restrita, nessa função, é a língua; quanto mais regional, mais ampla e universal é a sua função e seu funcionamento. Para entender esse mecanismo e compreender o paradoxo é preciso percorrer com o fio da unidade o tecido da multiplicação das imagens de nossa diversidade cultural nas línguas com que se costura a identidade do território nacional e as dessemelhanças de nossas igualdades e diferenças em seu interior, franjas, mares, montanhas, campos e cidades.

    O Núcleo Temático, coordenado pelo professor Eduardo Guimarães, deste número de Ciência e Cultura, é dedicado a essas questões e constitui, pela qualidade dos artigos que traz, uma importante contribuição para o estudo do multilingüismo brasileiro.

    Notas e informações, reportagens e notícias, ciência, arte, prosa e poesia acompanham, como sempre, a unidade do núcleo com a diversidade do entorno.

     

    CARLOS VOGT
    Editor chefe, abril de 2005