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    Ciência e Cultura

    versão impressa ISSN 0009-6725versão On-line ISSN 2317-6660

    Cienc. Cult. v.57 n.2 São Paulo abr./jun. 2005

     

     

     

    PISCICULTURA

    Projeto visa recuperar áreas degradadas e gerar alimentos no vale do Ribeira

     

    Uma pesquisa na área de piscicultura da Universidade do Vale do Paraíba (Univap) em São José dos Campos (SP) pretende fazer com que o conhecimento acadêmico possa gerar alimento e renda para populações de baixa renda e ainda recuperar ambientes degradados. A proposta inclui treinar a população ribeirinha a usar as áreas ao redor do campus, com extensas cavas de areia, cheias de água, para a produção de peixes. "A idéia é utilizar o que aprendemos acerca da adaptabilidade de peixes de regiões como a Amazônia, na solução de problemas ambientais diversos, como esse da cava de areia", afirma o coordenador do projeto, Adalberto Val, do Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (Inpa).

    As cavas de areia no Vale do Paraíba formam extensas áreas degradadas ambientalmente e exigem constantes investimentos para sua recuperação. As características dessas cavas ainda são desconhecidas, até mesmo do ponto de vista biológico, mas as informações disponíveis mostram que o oxigênio presente nas colunas de água pode ser apenas superficial e disperso. "Os peixes da Amazônia evoluíram por milhares de anos em condições semelhantes a essa. A partir disso, pensamos em testar a criação de algumas espécies de peixes dessa região com duplo objetivo: recuperar ambientes degradados e produzir proteína animal com custo baixo para atender as necessidades de populações ribeirinhas" explica Adaberto.

    O projeto piloto está em sua fase final. O tipo de processo produtivo utilizado foi a piscicultura semi-intensiva que se mostra eficaz para lagoas muito profundas e solo irregular. "Pudemos verificar a possibilidade de recuperação de áreas degradadas, principalmente pela extração de areia das cavas" afirma um dos responsáveis pelo projeto na Univap, o biólogo Murilo Pires Fiorini, que conta com o apoio da professora Maria Regina Aquino Silva e do bioquímico Lorenzo Girardi. Os experimentos preliminares constataram bons índices zootécnicos com relação aos peixes (ganho de peso, conversão alimentar e comprimento). A qualidade da água apresentou valores dentro dos padrões, até a profundidade de seis metros.

     

     

    Os experimentos pretendem determinar a capacidade de suporte do sistema, bem como o desempenho de algumas espécies com características biológicas distintas. Os peixes em estudo foram adquiridos de fazendas paulistas de produção de alevinos, para formar um plantel adaptado às condições de temperatura da região, mas que ainda tenham preservado as rusticidades que lhes permitiram sobreviver às exigências ambientais da Amazônia. Entre as espécies testadas estão o tambaqui, o pirarucu e a pirarara. Há outras espécies locais, da bacia do rio Paraíba do Sul, que estão sendo analisadas.

    A capacitação de recursos humanos é um dos objetivos indiretos do projeto. "Um estudante desenvolverá sua tese de doutorado no âmbito do projeto e haverá treinamento efetivo da população ribeirinha tão logo tenhamos dominado inteiramente o processo" ressalta Adalberto. O treinamento deverá envolver a aquisição e incubação dos alevinos, preparo de ração, acompanhamento do desempenho dos peixes no período de crescimento e processamento pós-colheita. "Trata-se de um projeto de pesquisa em biologia de espécies de peixes tropicais criadas em ambientes em processo de recuperação" ressalta Adalberto.

    EQUILÍBRIO A piscicultura é uma atividade que permite equilibrar interesse econômico e exploração racional da natureza, porque apresenta elevada produtividade por hectare (entre 2,5 mil e 10 mil kg/ha/ano), usando menos superfície de terra em relação a outras atividades. Só na bacia amazônica calcula-se que existam cerca de duas mil espécies de peixes, muitos deles de extrema importância para alimentação da comunidade local. A vantagem é que são espécies bem resistentes às oscilações do oxigênio disponível na água.

    Na piscicultura semi-intensiva, entre outros fatores, há maior controle sobre o ambiente; pode-se secar o açude à vontade, para colheita e manejo; se saber o número de alevinos, de filhotes e peixes em crescimento, o que permite estimar a produção e programar a colheita.

     

    Michela de Paulo