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    Ciência e Cultura

    versión impresa ISSN 0009-6725versión On-line ISSN 2317-6660

    Cienc. Cult. v.57 n.3 São Paulo jul./sep. 2005

     

     

    CÉSAR LATTES

    Vida dedicada à física e ao conhecimento

     

    Em 8 de março último o país perdeu um de seus cientistas mais brilhantes: César Lattes (1924-2005), físico curitibano, graduado pela Universidade de São Paulo e um dos brasileiros que esteve mais perto de ganhar o Prêmio Nobel. Foi companheiro de grandes figuras da área, como Gleb Wataglin, Marcelo Dammy e Giuseppe Occhiallini. Ainda jovem, após ingressar na USP aos 16 anos, sua paixão pela ciência o impulsionou a importantes descobertas. Aos 23 anos, comprovou a existência do méson-pi – uma efêmera partícula cuja força mantém coeso o núcleo atômico – e contribuiu, de forma decisiva, para a inauguração da física de altas energias.

    Em 1946, Lattes participou do aprimoramento de técnicas de emulsões fotográficas, decisivas para o registro da trajetória do meson. A partícula rendeu o Nobel de Física de 1949 a Hideki Yukawa, o físico japonês que previra sua existência, e o de 1950 a Cecil Powell, diretor do laboratório em Bristol, na Inglaterra, que dividiu a descoberta do méson junto com Lattes e com o italiano Occhialini.

     

     

    De volta ao Brasil, Lattes participou, em 1949, da fundação do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF); em 1951, da criação do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq); contribuiu para a consolidação do Centro Nacional de Energia Nuclear (1968); e do Instituto de Física que recebe o nome de seu fundador, Gleb Wataglin. Atuou como docente em várias universidades brasileiras e foi pesquisador em Bristol, Chicago e Minnesota, além de consultor do Laboratório de Radiação da Universidade da Califórnia. Em 1962, iniciou na Unicamp a colaboração Brasil-Japão para o estudo de interações a elevadas energias na radiação cósmica. Juntamente com outras instituições nacionais, essa se tornaria a parceria mais duradoura da física de raios cósmicos, que permanece até hoje.

    VIDA PESSOAL Lattes alternou momentos de intensa produtividade com períodos de depressão, que se estendiam por meses. Excêntrico, piadista e polêmico são algumas das características pelas quais era conhecido junto a seus afetos e desafetos no ambiente universitário. Afinal, ele não deixava de dizer o que queria, e nem dizia o que as pessoas gostariam de ouvir. Costumava levar seus cachorros às defesas de tese e reuniões de que participava. Avesso a formalidades, era por vezes flagrado descalço nos corredores do Departamento de Raios Cósmicos do Instituto de Física da Unicamp.

    A maior plataforma de currículos de pesquisadores brasileiros foi batizada de Plataforma Lattes, em sua homenagem. Em agosto passado, alcançou a marca de 500 mil registros. Os dados acadêmicos de Lattes, no entanto, não estão ali. Para o físico, que sonhava em criar uma espécie de universidade livre, território da reflexão de diferentes temas, a pós-graduação acaba por consumir os anos potencialmente mais criativos dos estudantes.

    MEMÓRIA Os documentos que registram a intensidade da vida e obra de César Lattes estão espalhados pelas inúmeras instituições por onde passou. Uma delas, a Unicamp, pretende organizar e preservar cartas, fotos, documentos e livros, reproduzindo seu escritório, tal como era. O Arquivo de Memória de César Lattes integra o projeto de recuperar a história dos cientistas da Unicamp, em projeto coordenado por Silvia Figueiroa, do Instituto de Geociências.

    Na USP, o Instituto de Física disponibilizou em seu site o catálogo da exposição "Os 50 anos da descoberta do meson pi", apresentada em 1998 na Estação Ciência. Entre os planos da idealizadora do projeto, a física Amélia Hamburger, que foi colega de Lattes, está organizar um banco de dados sobre o físico, em parceria com a Sociedade Brasileira de Física (SBF).

     

    Germana Barata e Flávia Natércia