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    Ciência e Cultura

    versión impresa ISSN 0009-6725versión On-line ISSN 2317-6660

    Cienc. Cult. v.57 n.3 São Paulo jul./sep. 2005

     

    LANÇAMENTO

    LIVRO DEBATE A LIGAÇÃO ENTRE ARTE E POLÍTICA

     

     

    Onde encontrar, nos dias de hoje, alternativas ao consenso que coloca a vida humana sob o jugo do mercado? Onde estão as vanguardas estética e política? Elas ainda seriam capazes de produzir dissenso, introduzir fraturas no monolítico discurso que prega o triunfo inexorável do capitalismo? Para Jacques Rancière, professor emérito do Departamento de Filosofia da Universidade de Paris VIII, na arte e na política contemporânea é cada vez menor a capacidade dos atores envolvidos de produzir dissenso, bem como formular a emancipação da sociedade em termos de outros mundos possíveis. Em A partilha do sensível: estética e política, obra recém-lançada no Brasil pela Exo Experimental e pela Editora 34, o autor procura restabelecer as condições de inteligibilidade desse debate.

    O livro confirma Rancière entre os mais originais pensadores da atualidade. Cada capítulo se dedica a responder questões formuladas por dois filósofos, Muriel Combes e Bernard Aspe, para a revista Alice, a partir das análises feitas em O desentendimento (Editora 34, 1996), sobre a partilha do sensível como cerne da política. Segundo o autor, na base da política existe uma estética, que nada tem a ver com a estetização da política, própria da era das massas. Desse modo, Rancière estende à estética a análise que havia feito do texto escrito em Políticas da escrita (Editora 34, 1995). Se, por um lado, a política é estética, por outro, a arte pode ser considerada política, determinando relações espaço-temporais, formas de visibilidade, relações entre as formas sensíveis e seus modos de representação. Nesse sentido, "a arte faz política antes que os artistas a façam". Segundo ele, o que se denomina arte, na tradição ocidental, remete a três grandes regimes de identificação: o regime ético das imagens; o regime poético das artes; e o regime estético das artes.

    Rancière dedica-se, também, a examinar a relação entre história e ficção, refutando a afirmação de que tudo é ficção, mas reconhecendo que "escrever história e escrever histórias" constituem atividades que pertencem ao mesmo regime de verdade. Como a literatura de Flaubert e Balzac, os pesquisadores da "nova história" se voltam ao estudo do cotidiano, do homem comum, deixando de lado a narrativa dos grandes feitos, dos grandes homens. Como o discurso da nova história, o realismo também produziu um fruto espúrio: o revisionismo histórico, que busca negar o Holocausto uma vez que o absurdo do extermínio o coloca fora do âmbito do possível autorizado pelo século.

     

    Flávia Natércia