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    Ciência e Cultura

    versão impressa ISSN 0009-6725versão On-line ISSN 2317-6660

    Cienc. Cult. v.57 n.4 São Paulo out./dez. 2005

     

     

     

    DEFICIÊNCIA VISUAL

    Personagens da Turma da Mônica na ponta dos dedos

     

    Ler histórias em quadrinhos, os conhecidos gibis, é uma atividade quase banal e muito usada para estimular a leitura entre crianças e jovens. É uma experiência visual rica, com a leitura dos balões sobre a cabeça dos personagens, descrevendo ação e pensamento. As imagens do menino que troca os "erres" pelos "eles" de cinco fios na cabeça e da menina dentuça que não larga do coelhinho Sansão, consagrados nos traços do desenhista brasileiro Maurício de Sousa, agora poderão ser formadas não apenas pelos olhos, mas também através dos dedos: os gibis Eu sou a Mônica e Eu sou o Cebolinha passaram a ter, desde abril, uma edição para deficientes visuais, em uma parceria do Instituto Dorina Nowill, Maurício de Sousa e a Editora Globo.

    Diferentemente do que se possa pensar, os desenhos em alto relevo não são de fácil compreensão. "A criança precisa ter apoio para aprender a explorar e ler as imagens", afirma Regina Caldeira Oliveira, especializada na qualidade de publicações em Braille do instituto e de outras instituições. A especialista, cega desde os 7 anos, explica que uma vez aprendida, a leitura das imagens contribui, inclusive, para desenvolver a orientação espacial. Os personagens, sempre retratados da mesma forma, são mais facilmente reconhecidos. Regina acredita que os gibis contribuem para integrar irmãos com e sem deficiência visual, uma vez que traz a escrita em Braille e em tinta no mesmo exemplar, sendo que as letras são grandes e as cores diferenciadas para atingir também as crianças com baixa visão. As publicações fazem parte da coleção Conheça a Turma e foram adaptadas por Yara Maura a partir de histórias publicadas em 2004.

     

     

    "Da mesma forma que crianças sem problemas visuais estão distantes dos livros hoje, as cegas também estão", enfatiza Regina. A proporção, no entanto, é muito maior. Enquanto a leitura, além de livros e revistas, é feita cotidianamente em placas, anúncios, bilhetes e caixas de remédios, a escrita Braille está restrita a publicações especializadas e algumas embalagens de produtos de empresas que se preocupam com esses consumidores. O Censo revela que até 2000, 16,5 milhões de brasileiros possuíam algum tipo de deficiência visual, dos quais 2,4 milhões apresentavam deficiência permanente para enxergar.

    OPÇÕES DE LEITURA Dorina de Gouvêa Nowill, fundadora da instituição que leva seu nome, dedica-se à inclusão social de deficientes visuais desde 1946, como uma forma de criar opções de leitura em Braille no Brasil, em resposta a uma busca individual que se iniciou aos 17 anos, quando enfrentou seus primeiros obstáculos com a leitura convencional. Ela própria inspirou a personagem Dorinha, de Maurício de Sousa, criada em 2004. "Há tempos vinha pensando em ter personagens com deficiência nas histórias. Seria uma forma de sugerir inclusão e, ao mesmo tempo, diversidade. Eu já tinha o Humberto, que não fala. Mas era pouco", contou Sousa, que descreve a nova integrante da Turma da Mônica como uma personagem vitoriosa, simpática e sabida.

    Atualmente, o instituto é responsável pela produção anual de 13 milhões de páginas em Braille (cada página de texto convencional equivale a 3 em Braille) e conta com um acervo superior a 7 mil livros e revistas faladas, a maioria composta por conteúdo didático. A participação de profissionais da voz voluntários garante a disponibilidade de best sellers como o Código Da Vinci, Memórias de uma Geisha (De Arthur Golden) e toda a coleção de Harry Potter (de J. K. Rowling) e da revista semanal Veja, disponível a partir das terças-feiras, em versões integrais em áudio. Ainda é pouco, embora as opções de leitura para os deficientes visuais brasileiros já tenham melhorado muito nos últimos anos. Muito pequena, no entanto, se comparado ao volume de impressos convencionais disponíveis: em 2003 existiam 2296 revistas e jornais disponíveis nas bancas de jornal, segundo dados do Instituto Verificador de Circulação, e cerca de 35.490 livros foram publicados no mesmo ano, de acordo com dados do Sindicato Nacional de Editores de Livros.

     

    Germana Barata