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    Ciência e Cultura

    versão impressa ISSN 0009-6725versão On-line ISSN 2317-6660

    Cienc. Cult. v.57 n.4 São Paulo out./dez. 2005

     

     

    HILDA HILST

    NOVOS PROJETOS REVIVEM OBRA DA AUTORA

     

    Vários acontecimentos trouxeram a poeta, romancista, cronista e dramaturga Hilda Hilst (1930-2004) de volta à cena nos últimos meses. Dez poemas do "Ode descontínua e remota para flauta e oboé – de Ariana para Dionísio", um dos capítulos do seu livro Júbilo memória noviciado da paixão, foram musicados e estão no mais recente CD produzido por Zeca Baleiro nas vozes de um seleto grupo de cantoras brasileiras, como Angela Maria, Na Ozzetti e Zélia Duncan, entre outras.

    Vários livros seus, entre eles Rútilo nada, Do amor e Poemas malditos, ganharam novas edições na França, Itália e Portugal, e duas peças foram lidas durante a programação do Ano do Brasil na França. E, enfim, foi oficializada a Instituição Hilda Hilst – Casa do Sol Viva, em Campinas (SP), para divulgar e preservar o legado da escritora. Tais ações culturais devem dar maior visibilidade à obra dessa autora que, mesmo figurando entre os grandes nomes da literatura brasileira do século XX, permaneceu à margem do público em geral. A condição de certa marginalidade de sua produção é atribuída às imagens ambíguas, complexas e, por vezes, ameaçadoras, presentes em seus escritos, especialmente a sua tetralogia pornográfica publicada no início da década de 1990.

    TRANSGRESSÃO LITERÁRIA Uma espécie de perversão literária caracteriza a obra de Hilda Hilst, não apenas pelo fato da escritora aos 60 anos ter abordado temas obscenos, mas por transgredir as normas literárias, fundindo gêneros e recriando-os. Eliane Robert Moraes, professora de estética e literatura na PUC-SP, identifica na literatura pornográfica de Hilda essas transgressões, que transformam um gênero literário considerado inferior em uma "prosa degenerada" que promove finas reflexões sobre diferentes temas. Em O caderno rosa de Lory Lamby é o ato de escrever como possibilidade de jogar com os limites da língua que é explorado. Já as peripécias sexuais das velhinhas Berta e Isabô trazem à tona as singularidades do sexo e do erotismo na velhice e coloca em cena um imaginário distinto dos corpos esculturais e cheios de vitalidade. Em Contos d’escárnio – textos grotescos, Hilda associa pornografia e conhecimento e traz práticas eróticas envoltas por citações de Pound, Kierkegaard, Byron e Euclides da Cunha. Além disso, os personagens principais, o escritor Crasso e artista plástica Clódia, vivem os dilemas de fixar o momento fugidio do erotismo sobre o papel e a tela.

    CASA DO SOL Em vida, Hilda sonhava em transformar a casa onde viveu em um espaço cultural e garantir cuidados aos seus quase 50 cães. Este ano, o sonho ganhou forma com a criação da Instituição Hilda Hilst que, segundo José Luis Mora Fuentes, um dos fundadores, será um centro de estudos, com cursos, seminários, quartos para receber bolsistas, entre outras atividades para fomentar o ambiente cultural em Campinas. A Casa do Sol depende de parcerias para seu funcionamento. Uma delas é com o Centro de Documentação Cultural Alexandre Eulálio (Cedae), pertencente ao Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) da Unicamp, que adquiriu o acervo da escritora, com textos originais, críticas de jornais publicadas de 1950 até 2002, documentação pessoal e uma coleção de agendas, cadernos escolares e desenhos. Ainda em implantação, o acervo estará disponível a partir do próximo ano.

     

    Susana Dias