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Ciência e Cultura
versión impresa ISSN 0009-6725versión On-line ISSN 2317-6660
Cienc. Cult. v.58 n.1 São Paulo ene./mar. 2006
O modo de ver a Terra como um conjunto cujas partes que a integram somam mais do que a sua simples adição justaposta e que, nesse sentido, constituem uma totalidade dinâmica de relação de autonomia interdependente, isto é, a idéia do planeta como um sistema complexo de equilíbrio e mobilidade reforça, coincidentemente ou não com a viagem de Iuri Gagarian e as fotos do Sputinik no início dos anos 1960, a percepção de que, num certo sentido, tudo é vivo no planeta e de que, no limite, não há, no seu corpo, ponto neutro que possa ser ferido sem conseqüências para a vida na Terra e na terra em que ela é vivida.
A noção de desenvolvimento sustentável faz parte desse aparato de percepção teórica na medida em que vincula, da mesma maneira sistêmica, a questão do crescimento econômico com a do equilíbrio ambiental.
As relações entre natureza e cultura, nas sociedades contemporâneas, modificaram-se profundamente sob o impacto das tecnociências, em particular das tecnologias da informação e da biologia molecular.
Da natureza mecanizada decorrente da compreensão mecanicista de suas leis, que o iluminismo nos legou, passou-se para uma visão informatizada dos códigos lógicos de seu funcionamento.
Disso decorreram também mudanças profundas na sistemática de constituição de novos campos do conhecimento, alguns deles recuperados, inclusive de épocas anteriores e incorporados à dinâmica dos estudos e das pesquisas que a noção de desenvolvimento sustentável engloba.
É o caso do conceito de Territórios e do papel que as formas concretas de ordenamento territorial têm na articulação e na expressão dos relacionamentos recíprocos entre natureza e cultura, isto é, nas relações entre as alterações sofridas pelo mundo natural e as transformações sociais e econômicas no processo de seu desenvolvimento.
É a este tema que este número da revista se dedica. Além dele, as reportagens, as notícias, a prosa e a poesia ordenam também territórios da expressão de nossa Ciência e Cultura.
CARLOS VOGT
Editor chefe, janeiro de 2006