SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.58 número1 índice de autoresíndice de materiabúsqueda de artículos
Home Pagelista alfabética de revistas  

Servicios Personalizados

Revista

Articulo

Indicadores

    Links relacionados

    • En proceso de indezaciónCitado por Google
    • No hay articulos similaresSimilares en SciELO

    Compartir


    Ciência e Cultura

    versión impresa ISSN 0009-6725versión On-line ISSN 2317-6660

    Cienc. Cult. v.58 n.1 São Paulo ene./mar. 2006

     

     

     

    POLÍTICA CULTURAL

    Variedade e riqueza dos sons brasileiros ajudam a ampliar a noção de patrimônio

     

    Uma família ou um grupo de amigos reunidos pela marcação do ritmo dado pelo toque dos tambores, onde todos respondem aos versos cantados por um jongueiro e se revezam, no centro da roda, para dançar. Essa é a espontaneidade característica do jongo, cujo registro como patrimônio cultural do Brasil foi aprovado, em novembro de 2005, pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), ligado ao Ministério da Cultura. O registro é um novo instrumento jurídico criado, em 2000, como alternativa ao tombamento, no âmbito de uma nova orientação dentro do Iphan: a de retomar a proposta inaugural de Mário de Andrade de reconhecer como patrimônio não só os bens edificados (monumentos, prédios, casarões ou igrejas) mas também os chamados bens imateriais, ou seja, as celebrações, práticas e saberes das culturas populares.

    Nesse contexto, a música — em particular, o samba — vem recebendo atenção especial. O samba-de-roda da região do Recôncavo Baiano foi reconhecido como patrimônio da humanidade pela Unesco, também em novembro último. Outras modalidades tradicionais de samba estão sendo inventariadas pelo Iphan, como o samba carioca, o samba rural paulista, o côco, do estado do Espírito Santo, e o tambor de criola, do Maranhão.

    O JONGO DOS ESCRAVOS O jongo nasce entre os escravos que trabalhavam nas lavouras de café e cana-de-açúcar, principalmente no vale do Rio Paraíba. A linguagem cifrada e as metáforas características dos pontos cantados no jongo permitiam aos escravos jongueiros comunicarem-se de um modo que os capatazes e senhores não conseguiam compreender.

    Considerado como uma das bases do chamado samba-de-partido-alto, o jongo é praticado, hoje, nas periferias urbanas e em algumas comunidades rurais e, principalmente, durante as festas dos santos católicos, de divindades afro-brasileiras e no dia 13 de maio, data da abolição da escravidão.

    A recuperação de toda essa história do jongo — e de sua continuidade nos dias atuais — integra a pesquisa realizada pelo Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular, instituição ligada ao Iphan, responsável pelo inventário necessário para instruir o processo de registro. Foram visitadas dezenas de comunidades jongueiras nos estados do Rio de Janeiro, São Paulo e Espírito Santo. Essas comunidades tiveram uma participação importante durante todo o processo de patrimonialização do jongo.

     

     

    SAMBA-DE-RODA A participação dos grupos locais também foi decisiva no caso do samba-de-roda do Recôncavo Baiano, que é muito heterogêneo. "Realizamos uma série de reuniões com os grupos de samba locais para saber se eles estavam dispostos a se engajar conosco nesse processo de transformação do samba-de-roda do Recôncavo num objeto de política patrimonial", descreve Carlos Sandroni, professor do Núcleo de Etnomusicologia da Universidade Federal de Pernambuco.

    Os primeiros registros realizados pelo Iphan, em 2002, foram a fabricação artesanal de panelas de barro, em Goiabeiras, no Espírito Santo — um ofício eminentemente feminino, repassado de mãe para filha há várias gerações — e as expressões gráficas e orais da população indígena wajãpi, do Amapá. Nesses dois casos, já havia interlocutores previamente definidos: a Associação das Paneleiras de Goiabeiras, com 102 associadas, e o Núcleo de História Indígena da Universidade de São Paulo que, juntamente com o Museu do Índio, da Funai, foram os parceiros dos wajãpi na solicitação do registro junto ao Iphan.

     

     

    Em relação ao samba-de-roda do Recôncavo, não havia representantes que pudessem falar em nome dos grupos locais. Após várias reuniões ao longo do processo de pesquisa para o inventário, essa representação foi sendo construída, resultando na criação da Associação dos Sambadores do Recôncavo Baiano, organização que terá um papel significativo na aplicação do plano de salvaguarda, a etapa posterior ao registro prevista no Plano Nacional de Patrimônio Imaterial.

     

    Carolina Cantarino