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    Ciência e Cultura

    versão impressa ISSN 0009-6725versão On-line ISSN 2317-6660

    Cienc. Cult. v.58 n.1 São Paulo jan./mar. 2006

     

     

    MACA

     

     

    SÉRGIO MEDEIROS

     

    1. 18. estará concluída; em três anos; não bateram ainda as estacas; não todas; um terraço vazio põe panos quentes; na paisagem; – circulam (num plano inferior) órgãos; pesados...

    2. 17. desde sempre inchado – conforme o acompanhante suba; um lanço do edifício por construir –, o morro eriçado de antenas; – elas não se retiram; de lá; seringas que injetam; imagens...

    3. 16. um galho seco (marca da última poda); contorcido como movimento de fumaça – um vício inveterado da árvore; que se chega à clínica; em obras...

    4. 15. pássaros se mexem nos galhos como; quistos num órgão cheio; – árvores às vezes infectadas, outras não...

    5. 14. no quintal ao lado, o varal; um antigo poste; (junto das folhas do mamoeiro); com fios (de cores variegadas); a locomotiva, sem trilhos, solta-se, mais embaixo: é possante motor nu; sem os enfeites dos veículos, enterrando-se; com as peças todas no chão...

    6. 13. ao redor, telhados saem para fora; como súbitos cotovelos dobrados; telhados vão para dentro; chupados; – uns canos soltos; já sem préstimo...

    7. 12. pássaros (– costuram a árvore –); (re)pousam em galhos ínfimos (maiores apenas que agulhas de crochê); outros galhos pendem; como fios eriçados sobre a máquina imensa; qual besouro no ninho...

    8. 11. nuvens que mudam de cor; passam + além (deste lado do mundo); sobre o traço calmo do morro, inchaço; gracioso; – algodão; espreme miragens...

    9. 10. equilíbrio; o pássaro pula; sobre o barulho – e cai; para mudar de galho, o peito amarelo forte; a terra, remexida; pelo tronco elétrico com raízes ligadas a tomadas – outros aparelhos ao redor chacoalham também; como galhos quebrados, circuitos desligados; e religados; podam-se ruídos; que rebrotam...

    10. 9. há sempre um casco azul claro; (lá); – o olho; não roça o morro; como cara ferida; preservada; intacta; na pele anuviada...

    11. 8. no teto do quarto a lâmpada (a tampa fechada; ela solta um vapor luminoso) se suja; como panela de sopa; – ou, então, como abscesso; numa gengiva: – lança três garras escuras; ao redor da cor anêmica –; e a sacada alta; de repente se apequena, dente (saliente); de sorriso possível...

    12. 7. uma árvore recolhe: pássaros; sobretudo; eles caem; em linhas retas; como no circo; – mas as folhas: redes furadas: só retêm; o sol; algumas asas, externadas; de borboletas desidratadas; depois vibram de novo; piando (em galhos recolhidos; seus abrigos)...

    13. 6. alto-falantes; em corredores mal desenhados; calam; a clínica; – num celular; uma mensagem, a mesma: "Aaaaaaaaa...

    14. 5. ...aAAAAAA!

    15. 4. Aaaaaaaaa...

    16. 3. ...aaA!!", a voz, a dela;

    17. 2. incansavelmente;

    18. 1. EI-LA aqui; agora; só que; do outro lado...

     

     

    Sérgio Medeiros é ensaísta, tradutor e poeta, publicou, entre outros, os livros Mais ou menos do que dois (Iluminuras, 2001) e Alongamento (Ateliê, 2004). O poema "Maca" fará parte de seu próximo livro, Multiplicação.