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Ciência e Cultura
Print version ISSN 0009-6725On-line version ISSN 2317-6660
Cienc. Cult. vol.58 no.4 São Paulo Oct./Dec. 2006
TRABALHO
Emprego na Alemanha: procura-se
A Copa 2006 frustrou as expectativas dos torcedores alemães mas impulsionou a geração de empregos locais, pelo menos temporariamente. A Copa terminou, porém, sem perspectivas positivas quanto à expansão do mercado de trabalho.
Os alemães residentes na antiga Alemanha Oriental são os mais afetados pelo desemprego. Dados oficiais mostram que na região de Berlim, a taxa de desemprego está em torno de 15,6% em contraste com a região do estado de Baden-Württemberg que mostra uma taxa bem inferior 4,4%. Estas estatísticas oficiais de 2002 são baseadas na definição da International Labour Organization (ILO) sobre desemprego. Os dados mostram que a reunificação da Alemanha, em 1990, teve impactos socioeconômicos duradouros. A união de dois sistemas tão diferentes continua sendo um grande desafio.
Após a reunificação, a taxa de emprego na Alemanha caiu em cerca de 1,5% no curto período de 1991 a 1992. Atualmente, quase a totalidade dos estados situados na região da antiga Alemanha Ocidental mostra taxas de desemprego inferiores a 10%, enquanto na ex-Alemanha Oriental as taxas são bem mais altas: a menor taxa de desemprego está no sul com menos de 5%; já em algumas regiões de New Länder e Berlim, chega próximo a 20% .
XENOFOBIA O problema do desemprego tem sido associado à crescente adesão dos jovens alemães ao extremismo de direita, apesar de haverem opiniões divergentes entre políticos e estudiosos do assunto. O extremismo de direita tem sido observado em toda a Alemanha, mas tem sido mais evidente nas regiões da antiga Alemanha Oriental, onde há mais desemprego. Brandemburgo, por exemplo, apresenta uma das maiores taxas da Alemanha em torno de 17% e lidera, ao mesmo tempo, as estatísticas nacionais de delitos contra estrangeiros.
A crescente adesão a partidos de extrema-direita nos últimos anos, no entanto, não tem conseguido inibir o fenômeno do multiculturalismo, uma realidade que não pode ser ignorada na Alemanha. O multiculturalismo tem estimulado, recentemente, muitos debates em torno da inclusão social e econômica dos estrangeiros na Alemanha. Desde o início dos anos 1950 muitos estrangeiros cruzaram as fronteiras germânicas oferecendo mão-de-obra adicional não disponível, naquela época, no país em expansão. Os estrangeiros vieram de vários países europeus como Itália, Espanha, Portugal, Iugoslávia, Turquia, entre outros. Atualmente os turcos representam o maior grupo de estrangeiros na Alemanha.
Apesar de numerosos, os estrangeiros não representam uma ameaça à disponibilidade de empregos na Alemanha. Estatísticas mostram que a taxa de desemprego entre os estrangeiros na Alemanha chega a 25% sendo duas vezes maior que a dos alemães nativos. Muitos estrangeiros que freqüentam o sistema de ensino alemão não chegam a cursar a universidade devido ao excludente sistema educacional alemão.
Segundo o presidente da Confederação Alemã de Empregadores (BDA), Dieter Hundt, em entrevista dada ao Deutsche Welle, existe um excesso de mão-de-obra não especializada e carência de técnicos e acadêmicos na Alemanha. O dirigente acrescenta que a baixa escolaridade e a alta taxa de desemprego entre os estrangeiros acontece por causa de uma política de imigração errada. Ele prevê a falta de trabalhadores especializados no futuro que tende a ser agravada pelo desenvolvimento demográfico negativo.
O relatório "In the spotlight: german labour market trends", publicado pelo Federal Statistical Office, aponta medidas importantes para o desenvolvimento da população ativa alemã. Prevê aponta um possível declínio populacional nos próximos anos e a diminuição da população em idade ativa. As conseqüências deste fenômeno serão negativas para a economia nacional, havendo a necessidade de integrar estrangeiros, mulheres e pessoas mais velhas ao mercado de trabalho.
A questão do trabalho na Alemanha transformou-se em proposta de governo para candidatos e estimula debates calorosos no meio acadêmico. O muro de Berlim continua sendo uma incurável cicatriz de concreto desmantelada. E, frustrando as expectativas de quem esperava melhoras na geração de empregos, a Volkswagen anunciou que pretende cortar até 20 mil vagas de emprego nos próximos anos para se tornar mais competitiva no mercado internacional.
Juliana Schober Lima