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    Ciência e Cultura

    versão impressa ISSN 0009-6725versão On-line ISSN 2317-6660

    Cienc. Cult. v.58 n.4 São Paulo out./dez. 2006

     

    VIAJANTES

    MISSÃO CIENTÍFICA DE BRASILEIROS NO SÉCULO XIX

     

     

    Nos séculos XVIII e XIX o Brasil recebeu dezenas de viajantes estrangeiros que cruzavam o país em busca do conhecimento das terras e povos do Novo Mundo. A quase totalidade do material recolhido, invariavelmente, voltava para instituições dos países de origem das missões científicas. Poucos sabem, entretanto, que o governo imperial, desejoso de estabelecer as bases de uma ciência nacional, incumbiu um grupo de estudiosos brasileiros de viajar fazendo coletas, exames e experimentações, trabalho, até então, realizado apenas por missões estrangeiras. Estava criada, assim, no ano de 1856, a Comissão Científica de Exploração. Primeiro destino: Ceará, onde permaneceu entre 1859 e 1861. Este ano, a editora do Museu do Ceará lançou a primeira de uma série de publicações comentadas, de documentos relativos à primeira expedição científica brasileira. Trata-se do livro Os ziguezagues do dr. Capanema, da socióloga Maria Sylvia Porto Alegre, da Universidade Federal do Ceará.

    No período de setembro de 1860 a junho de 1862, Guilherme Schuch de Capanema, o Barão de Capanema, publicou no Diário do Rio de Janeiro uma série de 32 artigos, quase crônicas, sob o pseudônimo de Manoel Francisco de Carvalho, contando suas andanças no Ceará. Maria Sylvia comenta que, por meio da sátira, de uso corrente no jornalismo da época, o narrador registra flagrantes da vida brasileira em meados do século XIX, entremeando temas de ciência, costumes e da vida pública. Capanema era o chefe da seção de geologia, com formação em engenharia e física, e seu encontro com a ciência aconteceu muito cedo. O pai, o mineralogista Roque Schuch, chegou ao Brasil como integrante da Missão Austríaca, comitiva de cientistas que acompanhou a vinda da princesa Leopoldina de Habsburgo ao Brasil para casar-se com D. Pedro I.

    A descrição da viagem de Capanema distancia-se dos tradicionais relatos de viagem do século XIX. Suas anotações falam de política, economia, da vida cultural, dos costumes, de religião. Este aspecto enriquece e elimina qualquer traço de monotonia durante a leitura. Num estilo que Maria Syvia chama de joco-sério, o Barão critica fazendo graça ou fala de coisas sérias brincando. O uso do codinome dá maior liberdade ao autor que ora assume o lugar o cientista neutro, ora assume o engajamento político.

    ZIGUEZAGUE HISTÓRICO O livro está dividido em três capítulos. O primeiro traz uma pequena biografia de Capanema, nome que batizava a serra onde ele passou a infância e adolescência. Ele adotou o nome por causa da dificuldade dos brasileiros em pronunciar seu sobrenome alemão. No segundo capítulo, é a autora que faz um ziguezague pelos escritos deixados por ele. As interpretações e comentários da socióloga facilitam o entendimento de como eram as práticas culturais, a política e o, ainda incipiente, fazer científico no Brasil oitocentista. O terceiro capítulo reproduz na íntegra os originais dos documentos deixados pelo Barão, com a opção, entretanto, de usar a ortografia em vigor no Brasil hoje. Além desse cuidado, uma longa lista de notas ajuda a esclarecer nomes de lugares, pessoas e acontecimentos para que não perca nada na leitura. Chama a atenção o belíssimo projeto gráfico que resulta num livro ricamente ilustrado com imagens e documentos do século XIX, capturados em livros de viajantes e periódicos da época.

     

    Patrícia Mariuzzo