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    Ciência e Cultura

    versión impresa ISSN 0009-6725versión On-line ISSN 2317-6660

    Cienc. Cult. v.59 n.1 São Paulo ene./mar. 2007

     

     

     

    CIÊNCIAS SOCIAIS

    O esquecimento da política e as mutações no mundo das idéias

     

    As incertezas e profundas transformações nas várias esferas da vida humana compõem um panorama em que a política é um dos objetos privilegiados de esquecimento. Esse mote foi um dos principais eixos do ciclo de conferências "O esquecimento da política, cultura e pensamento em tempos de incerteza", organizado pelo filósofo e jornalista Adauto Novaes, no segundo semestre de 2006 em Curitiba, Belo Horizonte, São Paulo e Rio de Janeiro. O evento é parte de uma trilogia inaugurada com "O silêncio dos intelectuais", em 2005. Neste ano, além do lançamento do livro com os artigos de "O esquecimento da política", ocorrerá o terceiro e último ciclo da trilogia, que terá como nome "Mutações".

    Para Adauto Novaes, tanto o "Silêncio dos intelectuais" quanto "O esquecimento da política" fazem parte de uma idéia geral de discutir não a crise da civilização, que é algo que vem sendo constantemente retomado, mas sim uma mudança nos parâmetros da própria idéia de civilização no ocidente. "Não existe nenhuma área da atividade humana que não esteja passando por uma mudança radical. A própria idéia de intelectual clássico ou engajado, que tem como figura emblemática Jean Paul Sartre, tende a desaparecer sendo que ainda não está muito bem definido o novo intelectual, ou qual sua função", diz Novaes.

    Seguindo um questionamento semelhante, o segundo ciclo guiou-se pelas modificações da noção de política. "O que substituiu a política, o que tende a ser hegemônico na sociedade hoje?" pergunta Novaes, e responde: "a privatização do espaço público, daquilo que seria o social. Nota-se aí a substituição da política pela economia, mas ela ainda é substituída pela moralidade, por questões éticas, e algumas vezes a religião também tende a substituí-la".

    Além desse eixo, "O esquecimento da política" também foi direcionado por aquilo que Novaes afirma ser uma crise dos ideais republicanos, nascidos com as revoluções inglesa, francesa e americana. Segundo o organizador dos eventos, a república nasce num embate entre a defesa das questões sociais e a questão individual. "Isso é constitutivo da própria idéia de república. Mas existe hoje uma crise desses ideais na medida em que o individual está dominando a cena cultural e política, na grande maioria dos países" diz ele.

    Novaes apóia-se em vários teóricos, dentre eles Jacques Rancière, e seu recente livro La haine de la démocratie, para dizer que a ideologia dominante confunde ideais republicanos com liberalismo, o qual define a política como consenso.

    MUTAÇÕES O terceiro eixo do ciclo de conferências, que é a outra forma de esquecimento da política, foi discutido por meio da idéia de servidão voluntária de Etienne de La Boétie – escritor francês do século XVI. De acordo com Novaes, os dominadores recorrem a várias formas de subjugar as multidões e a mais forte delas, como mostra La Boétie, consiste em transformar os dominados em artesãos ativos de sua própria dominação. Porém, mais do que evidenciar o lado passivo do povo, Novaes considera a obra como fundamental para compreender os homens como seres destinados à liberdade.

    Se perpetuar o debate instigado pelos ciclos anteriores, o ciclo Mutações de 2007 promete. "Temos tratado a questão das mudanças de forma indireta, e pela primeira vez vamos discutir diretamente o conceito de mutação nas várias áreas. As grandes mudanças têm sido trazidas pela tecnociência ou pela prática da ciência por meio das técnicas. Vamos montar um ciclo baseado em Nietzsche, para observar o que está acontecendo na biologia, na física, nas artes, na política, nas mentalidades, na sensibilidade". O próximo ciclo deverá ocorrer entre agosto e setembro de 2007.

     

    Marta Kanashiro