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    Ciência e Cultura

    versión impresa ISSN 0009-6725versión On-line ISSN 2317-6660

    Cienc. Cult. v.59 n.1 São Paulo ene./mar. 2007

     

     

     

     

    PESQUISA DE OPINIÃO

    O que os italianos pensam da nanotecnologia?

     

    Nanociência e nanotecnologia são áreas emergentes que estão crescendo em ritmo acelerado. Fundos milionários são destinados por empresas e governos ao estudo e manipulação da matéria nessa escala diminuta: da ordem de um bilhão de vezes menor que o metro. E por que tanta fascinação com o muito pequeno? A novidade é que nessa escala a matéria apresenta propriedades diferentes e oferece possibilidades de criar novos materiais, o que leva a sonhar com uma nova revolução tecnológica.

    Assim o mundo nano vem crescendo cheio de promessas e expectativas. Porém, vozes de alerta, riscos e incertezas sobre a incorporação ao dia-a-dia de novas partículas diminutas têm se levantado, especialmente no Canadá e em países da Europa. Imbuídos pela conflitante experiência com as biotecnologias, especialmente com os transgênicos, o desenvolvimento das "nano" já está sendo alvo de pesquisas como a que conduziu na Itália o sociólogo Federico Neresini, que tentam entender como a população incorpora essas novas tecnologias. As motivações para tais pesquisas podem ser bem variadas, desde o interesse acadêmico em entender as relações ciência-tecnologia-sociedade, ou um genuíno interesse em provocar participação pública na tomada de decisões, até preocupações em encontrar as estratégias de comunicação mais apropriadas para evitar rejeições sociais futuras.

    Neresini tentou reconstruir a representação social das nanotecnologias no seu país baseado em 12 grupos focais e em uma amostra de mil enquetes. O pesquisador, que trabalha na Università di Padova, conseguiu apurar a opinião de pessoas de diversas faixas etárias e formação de todo o país. Tal como é de se esperar para uma área em recente desenvolvimento, a grande maioria não reconhecia o termo nanotecnologia. De 14,5% do total que reconheciam a palavra, a maioria achava que as suas fontes de informação tinham sido – em ordem decrescente de importância – a TV (72,5%), as revistas (59,6%) e jornais (50,8%:). O destaque dado à televisão chamou a atenção de Neresini, já que nos últimos meses a televisão não tinha abordado a temática, porém indica o papel informativo que o público outorga a essa mídia.

    A pesquisa buscou, também, entender quais modelos as pessoas utilizam para construir uma concepção sobre algo que ainda não conhecem. Assim, tentou identificar tanto as associações livres com a palavra nanotecnologia, quanto como as pessoas reagiam depois de receber algumas informações sobre o tema por meio de material audiovisual de divulgação produzido pela Comunidade Européia.

    ESPERANÇA DE CURAS O resultado mais evidente é que há uma boa recepção da nanotecnologia, em particular no que se refere a possíveis aplicações médicas. A esperança de cura de doenças como câncer ou aids aparece depositada em soluções que a nanotecnologia poderia vir a oferecer. Por outro lado, utilizando uma escala de 1 a 10, a pesquisa italiana mostrou que a nanotecnologia é vista como "boa", "útil" e "positiva" em valores em torno de 7-8 sendo que esses valores decrescem um ponto ao avaliar a "segurança" e o "controle" no uso da nova tecnologia.

     

     

    A percepção que se tem da ciência e da tecnologia em geral também aparece na recepção dessa nova área. Aparecem assim alguns temores ligados à idéia de que o que não se pode ver pode ficar incontrolável. Nesse nível, a diferença entre o mundo micro e o nano parece desaparecer para se unir num mesmo questionamento: como controlar o que não se vê? E aí uma nova preocupação: de quem é a responsabilidade sobre o controle de uso dessa inovação? Neresini destaca que o problema central que se pode ler na sua pesquisa é o questionamento às instituições e aos processos, colocando no centro do debate um tema controverso e urgente: a governança da tecnologia.

    No Brasil não há ainda uma pesquisa dessa amplitude, mas já se sabe um pouco como as pessoas se aproximam dessa nova tecnociência, a partir da experiência da NanoAventura, exposição itinerante sobre nanotecnologia, desenvolvida pelo Museu Exploratório de Ciências da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Até o momento as pesquisas realizadas com esse projeto indicam resultados que se aproximam aos de Neresini: uma boa recepção para uma tecnologia ainda desconhecida. Porém a discussão sobre a governança parece ainda distante. Será que o público se sente com direito a opinar sobre o assunto? Ainda faltam pesquisas para responder a essa pergunta.

     

    Sandra Muriello